31.10.04

Daniel Nester (fragmento de um poema)

Concordo plenamente com ele -- Já me senti na obrigação de "curtir a noite" e achava que, se não o fizesse, não estava "vivendo" o suficiente. Mas observem a frase final, na qual ele chega à mesma conclusão a que cheguei (it's possible, though, that both of us are getting old too fast...). O poema completo em http://www.poemhunter.com/p/m/poem.asp?poet=11791&poem=131585





Notes On An Unadorned Night



after Rene Char



Let's agree that the night is a blank canvas, a station

break, a bridge of a song.



Let's agree further that activities at night—movies,

campfires, reading by a lamp—are all

basically an homage to the day.



I have come to regard these two statements as

contradictory. Let me explain.



First, set aside that one could see a movie, torch a fire,

and read with the sun blazing over us.



The in-between aspect of night need not spark a flurry of

activity, is all I'm saying.



You could do nothing at night! Just lay and sleep!

Para Valer a Pena a Passagem por Este Mundo (meus "Dez Mandamentos" para criar um Ser Humano Digno)

1. Não discriminarás, nem julgarás ninguém nem coisa alguma antes de teres todas as bases para isso e, ainda assim, te reservarás o direito de aceitar as decisões e modo de vida de outros sem críticas.

2. Não acreditarás nem em céu, nem em inferno, apenas em teu próprio livre arbítrio.

3. Não causarás mal voluntariamente a nenhum ser vivo, exceto para defender tua sobrevivência.

4. Serás generosa em teus atos e com tuas posses, mas apenas até onde não sejas considerada simplória por esgotares teus recursos com quem te explora.

5. Não ofenderás teus semelhantes (nem aqueles tão diferentes de ti); antes, sempre procurarás palavras de conciliação e diálogo.

6. Não contarás com outros para resolver tua vida; saberás que tu mesma és responsável por tua felicidade.

7. Não culparás outros por teus infortúnios, nem deixarás que outros se apossem de tuas conquistas.

8. Saberás do valor da família e desejarás construir uma apenas quando souberes que podes transmitir o melhor para teus descendentes.

9. Viverás intensamente o presente, mas cuidando sempre para que ele não prejudique teu futuro.

10. Não acreditarás em superstições, nem em fórmulas milagrosas para a felicidade, apenas no auto-aperfeiçoamento, educação e humanidade no trato com teus companheiros de jornada.

28.10.04

Life is But a Dream

Te pergunto se és um sonho. Peço-te que me belisques. Me beliscas, eu rio, te digo que estou sonhando que estás me beliscando.

Te digo que tua presença na minha vida é como um sonho.

Cantamos juntas

Row, row, row your boat

Gently down the stream

Merrily, merrily, merrily, merrily

Life is but a dream

A vida é apenas um sonho, te digo, e seguimos a corrente do rio, remando em nosso barquinho.

Eu te conto, então, o maior dos segredos: que sonhei contigo antes de nasceres.

Que te esperava. Que te vi um dia no sonho, igual a quem depois te revelaste ao nascer.

Te conto outro segredo, então: esta vida é um sonho e, quando achamos que morremos, aí é que despertamos.

Estou contente, neste sonho de agora.

Porque tenho a ti. Porque algo eu fiz com perfeição. Com a delicadeza do mais puro amor a ti dedicado desde sempre, sempre, sempre, te criei, minha menina, minha flor, minha alegria.

25.10.04

Situação Ideal

O paraíso, para mim, deve ser assim:

O vocalista do The Calling falando sem parar, enquanto Mark Knopfler e Carlos Santana (com a ajuda do Jonny Lang) dedilham suas guitarras e Brad Pitt despe-se, veste-se, despe-se, veste-se... e George Clooney suicida-se na companhia do Ben Affleck.

Saudade

Incômoda como luva molhada,

Pesada

Como esponja encharcada

Sufocante

Como o edredom que me cobre

Para esconder minhas lágrimas

18.10.04

Seu saldo disponível é de...

Será ilusão minha, ou até a voz eletrônica que atende quando ligo para saber meu saldo bancário parece mencioná-lo em voz muito baixa e acanhada?

... Foi a impressão que tive. E ainda que me desse essa impressão, minha vontade foi reforçar a sensação de vergonha pelo saldo ridículo, fazendo:

-- Pssssssssst, ninguém precisa saber, nem eu mesma...

Então, pra que fui consultar?

Hein?

Hein?!

Juro que também havia uma pontinha de escárnio naquela voz simulada e de mentirinha que me atendeu de madrugada lá no banco e me tirou a esperança de que um milagre pudesse ter acontecido (nunca se sabe, ainda acredito em magia, nessas alturas).

Quase um mês inteiro sem receber (quando eu já estava a zero) porque o editor viajou e não me comunicou -- e também, por que o motor comunicaria alguma coisa à engrenagem da máquina?

Oh, Deus, humilha, vai, humilha...





16.10.04

Mais que um Rosto

Gosto dos teus lenços, teus brincos, teu colar. Da tua aparência cigana como teu coração e teus passos.

Lembras gente que amei. Amigo que perdi. Pessoa querida que deixou que os passos vagassem demais para longe de mim.

Mas gosto do teu rosto por ser original de ti, alguém que perambula pelo mundo e leva minhas fantasias de também ser viajante na mochila.

Gosto dos teus olhos que já viram (quase) tudo e de como parecem nos contar do que passou por eles.

Lembras, com teus escritos, que nunca é tarde para sonhar, viver aspirações e, sobretudo, sentir intensamente a poeira, o sol e o arco-íris ocasional da vida, assim como as frestas sombrias, as chuvas geladas, as paisagens desoladas e as pedras do caminho.

Que sejas sempre apenas Antonio sem acento – Antonio atônito, Antonio nada anônimo, Antonio sem homônimo.

15.10.04

O que Vem de Fora Não Me Atinge

Letícia vai caminhando ao meu lado. Escurece e na rua com pouca iluminação sua jaqueta branca e laranja brilha e a torna bem visível, mas alguns metros à nossa frente uma figura chama sua atenção e ela me diz com surpresa, baixinho:

– Mãe, olha um homem de salto alto!

Digo-lhe que não, que é uma mulher, uma mulata toda de preto (é garçonete, eu a conheço). Ela exclama:

– Mas, mãe, tem a cabeça raspada!

– E daí? – pergunto, sorrindo.

– É feio!

Eu lhe digo que depende do ponto-de-vista. Que todos têm direito a seu próprio senso de bonito ou feio, mas que exercer uma opção estética alternativa também é um direito inquestionável.

Assim como as tatuagens. Os brincos em homens. Até batons sutis. Saias, por que não? Bermudas de skater em meninas, sim senhor. Rabos-de-cavalo longos nos meninos. Tênis com línguas enormes. Piercings dos mais variados. Mulheres de terno e gravata. Sandálias havaianas com calças de grife.

Whatever.

Está decretado que não existem regras para a estética, e eu gosto disso. Suspendam-se os julgamentos.

E que se inventem máquinas de sondar o íntimo, o que se veste na alma.

Ruim mesmo é descobrir almas sujas, esfarrapadas, corações podres, intenções malévolas em alguém que obedece a todas as formalidades e convenções externas.

Por mim, qualquer coisa que se use sobre o corpo – ou não se use – não passa de mero enfeite. Cabelos? Enfeite. Tatoos? Enfeites. Roupas, adornos, grifes, trajinhos, invenções da moda? Coisas supérfluas.

Toda alma deveria ser nua e exposta – assim como os corpos. A vida seria mais fácil.

13.10.04

Traduzido de Raymond Queneau (Mário Quintana)

(Estou me sentindo assim, hoje):





Meu Deus, que vontade me deu de escrever um poeminho...

Olha, agora mesmo vai passando um!

Pst, pst, pst,

Vem cá para que eu te enfie

Na fieira de meus outros poemas

Vem cá para que eu te entube

Nos comprimidos de minhas obras completas

Vem cá para que eu te empoete

Para que eu te enrime

Para que eu te enritme

Para que eu te enlire

Para que eu te empégasse

Para que eu te enverse

Para que eu te emprose

Vem cá...

Vacá!

... Escafedeu-se.



11.10.04

Deserto

A mulher mais solitária do mundo saiu um dia a caminhar por seu pedaço favorito de deserto e ali encontrou uma flor.

Como não tinha a quem mostrar, deixou-a morrer.

Fechou os olhos no pôr-do-sol vermelho e laranja e como não tinha quem a regasse também deixou-se partir, secando ao entardecer.

9.10.04

Godline

– Godline, bom dia, em que posso ajudar?

– Por que “Godline”, quando o certo para esses serviços de atendimento ao consumidor é “Hotline”?

– Senhora, “Hotline” é o serviço de atendimento do... a senhora sabe quem. Tenho o número aqui, quer ligar para aquele lugar? Mas já aviso que as coisas por lá estão um verdadeiro inferno, pelo que ouvi falar, cheio de arrependidos de última hora que querem evitar uma longa temporada naquele lugar de temperaturas tão altas...

– Não, pelo amor de Deus!

– Pois muito bem. E então, em que lhe posso ser útil?

– Tenho reclamações a fazer. Se Ele promete cuidar de todo mundo, por que minha vida tem sido tão difícil?

– Qual foi o plano Vida escolhido, senhora?

– Como assim? Não escolhi plano nenhum!

—Escolheu sim senhora, antes de começar a viver como vocês, mortais, entendem a vida. Temos o Plano Vida Insuficiente, Vida Básico, Vida Esforço Contínuo, Vida Fácil e Vida Mansa, sendo que esses dois últimos são facilmente confundidos, mas não são a mesma coisa...

– Isso tudo é muito confuso... Eu realmente...

– Espere, deixe-me consultar meu terminal aqui, só um momentinho... Sim, seu plano é o Vida Esforço Contínuo, o que significa que está tudo seguindo de acordo com o programado e não aceitamos reclamações.

– Estou perdendo a paciência...

– Sei, por isso mesmo é que seu esforço é contínuo, para testá-la. Seu Plano envolve muitos esforços infrutíferos, grandes projetos e falsos inícios, vários fracassos, fases de maré alta e maré baixa e uma luta constante para manter-se em um equilíbrio precário.

– Então pelo amor de Deus, me diga por que eu seria tão idiota a ponto de escolher este, e não o Plano Vida Fácil ou Vida Mansa?!

– Não blasfeme, senhora, ou serei obrigada a notificar seu comportamento ao Chefe.

– E como eu poderia falar com Ele, para resolver isso diretamente?

– Senhora, por favor, controle-se! Não percebe que Ele anda mais ocupado que nunca, com tantos chamados de tantos lados conflitantes, lá no Afeganistão, no Iraque, no Rio de Janeiro... Mesmo estando em toda parte, Ele tem tido dificuldade, pois quando começa a trabalhar na Irlanda, explodem escolas na Rússia, hotéis no Egito, cortam cabeças em...

– Pare, não suporto isso.

– E como acha que Ele se sente, então, quando todos fazem tanta coisa feia em Seu nome e lhe dão tanto trabalho?

– Bom... Diga-me, então, como faço para mudar de Plano de Vida.

– Impossível. Uma vez feita a escolha, só lhe resta ir em frente.

– E vou ficar até o fim desse jeito? Nadando e morrendo na praia? Empurrando pedras morro acima, vendo tudo desabar na minha cabeça sempre que penso que desta vez terei sucesso? Por que não escolhi, então, o Vida Mansa?

– A senhora não desejaria o Plano Vida Mansa, porque nele estão os corruptos, os exploradores, os preguiçosos que vivem às custas de outros e conseguem suprir todas as suas necessidades sem o menor esforço, mas depois...

– O que tem, depois?

– Uma vez findo seu Plano Vida Mansa, não têm direito de escolher e caem diretamente no Plano Vida Insuficiente, que abrange todos os miseráveis, os povos que morrem de fome, os sem-teto, viciados que rolam na rua...

– Não concordo com uma visão tão simples de castigo ou recompensa. É simplista, tolo e patético pensar nos miseráveis como pessoas que estão pagando por algo...

– É bem desagradável, eu sei, e é claro que nem todos os que estão nesse Plano estão sendo castigados. Alguns estão apenas iniciando, é seu primeiro Plano, de modo que não têm escolha se não cumprir seus dias para merecer outro Plano melhor. Na Vida nada é de graça... Se conseguirem passar dos 30 anos de idade neste plano, seguem para o Básico e têm apenas o justo para a sobrevivência. Só findado este plano é que poderão novamente escolher, com a certeza de que se escolherem o Vida Mansa mais uma vez, depois não têm mais escolha e vão direto para o inf... Ops, a senhora sabe para onde.

– Sei...

– Em compensação, senhora, seu Plano Vida Esforço Contínuo lhe dará direito ao Plano Vida Fácil, como uma espécie de recompensa.

– Ah, é? E como é esse Plano Vida Fácil?

– Nele estão aqueles que nascem na Suíça ou Canadá, na França também... Essas pessoas já vêm ao mundo com todas as vantagens, têm inteligência privilegiada e usam seus talentos para as artes. Neste Plano há muitos concertistas, pintores famosos, gênios da matemática, grandes benfeitores da humanidade, pessoas generosas que doam suas vidas aos outros... Eles casam-se com as pessoas que escolheram, têm filhos bem nutridos e felizes e passam seus anos sem grandes estremecimentos e com todas as bênçãos terrenas. Entende? É um prêmio.

– E quando morrem?

– Para começo de conversa, essa coisa de “morrer” precisa ser apagada de seu vocabulário.

– Você entendeu o que eu quero dizer! O que acontece, “depois”, com as pessoas da Vida Fácil?

– Bem, essas... essas não voltam mais.

– Não voltam mais? Quer dizer, nunca mais? Em nenhum Plano?

– Ficam no Plano dos Anjos, senhora. Agora, se me dá licença, preciso desligar.

– Mas, espere, ainda não terminei, tenho muitas queixas!

– Então simplesmente não se queixe mais! Cada um tem a Vida que escolheu, e ponto final. Há muita gente querendo ser atendida, senhora. Os tempos estão duros, parece que muita gente acaba voltando ao Plano Inicial e vem se queixar...

– Mas eu...

– ...





7.10.04

Recados

Diego está em casa. Mais uma semana e poderá voltar à escola.



Steven, dear: someday we’ll know if you were right when you said I would be a successful writer – but now is not the right time (and it seems it’ll never be).



Hey, Murphy, esquece de mim, tá bem? Quando penso que me livrei, tua lei me enquadra de novo e mais uma vez não poderei ser a super-heroína de minha filha. Planejei tudinho, mas não contei com a viagem de meu editor à Alemanha para a Feira Mundial do Livro e, assim, terei de comemorar o desaniversário de minha filha no fim do mês e dia 12, em seu aniversário, contentá-la com beijos, abraços, e lembrancinha. E passar o resto do mês a zero.



Ernie, teu poemete era melhor que o meu, mas não me darás a honra não, estou certa?



E antes que eu me esqueça: life is really a bitch, sometimes.



Amanhã volto ao normal
.

6.10.04

Secreta (http://cabezamarginal.org/secreta)

Li teu texto mas não sei brincar com palavras (antes, elas brincam comigo)

Li mas ante a convocação-convite, calo-me, porque não sei inventar o que, vago demais, não me cabe, exata nos meus desejos e certa de minhas carências.

Não sei disfarçar coisas (nem intenções) em meias- ou quarto-de-palavras e não posso ler quatro vezes até me entender em meio a vagas conotações.

Li teus textos (tantos, Torin), mas em mim falta algo – a expressão do fundo d’alma (e não é que em mim inexista, mas minh’alma se esconde e, antes, não mostrá-la sequer em disfarces).

Li teu texto, mas me escrevo todo o tempo e não sei descrever outros (antes, outros me descrevem, sempre com inexatidão divertida).

A Sheerazade que em mim habita não sabe criar contos (nem poesia).

A personagem que mora em mim contenta-se em respirar letras, sempre imperfeitas (e minha imperfeição só se mostra quando abro as tuas letras e elas me mostram que meu caminho ainda está pela metade, sempre com dez montes altos à frente dentre os quais eu, Sísifo, decido sempre pelo errado para subir com minha pedra)

4.10.04

Diego

Diego é um anjo de treze anos, que freqüenta a mesma classe que minha filha, na escola pública que pratica a inclusão ampla de crianças com todos os privilégios e desprivilégios sociais.

Diego teve meningite com sete anos, quando estava na primeira série.

Hoje tem idade mental de sete anos, ainda.

É doce, tímido, arrasta-se ao andar, não coordena seus gestos.

Vem lutando desde os sete anos, fazendo cada uma das séries a cada dois anos.

Seu pai o cuida quando a mãe está trabalhando. Parece-me que se revezam nos horários de trabalho, mas é o pai quem leva e traz o menino à escola e está presente o tempo todo, nas festinhas, nas atividades extra-curriculares, em tudo.

Diego contraiu pneumonia.

Segunda-feira passada estava abatido e comentou com a professora:

-- Hoje estou triste.

Então, contou que o pai lhe botou o termômetro, viu que ele estava febril e o fez tomar remédio, mas sua tristeza era pela preocupação que estava dando ao pai.

Terça-feira passada foi internado na UTI, onde ainda está.

Diego é um menino de treze anos com mente de criança, coração de anjo, pneumonia dupla, destino frágil e futuro incerto.

Rezem por ele. Pelo pai e pela mãe também.

(por favor)

Naftalina

Tinha uma esperança em meu bolso

Que foi roubada, perdeu-se,

Ou minguou e sumiu.

Tem o formato de um livro

Mas cabe em qualquer lugar

Principalmente na imaginação

Que também guardo em meu bolso

Feito coisa para ser tocada

E mostrada a quem eu encontrar.

A esperança sumiu

A imaginação ficou

Feito luva sem par

A embolorar no escuro

Do inverno descriativo


3.10.04

That's what I mean

Não consigo imaginar como alguém consegue escrever tão mal. A não ser que isso aí seja algum idioma que desconheço. Não me passa pela cabeça que alguém se dê ao trabalho de escrever tão errado e ainda se preocupe em criar uma página na internet chamada "Cinderela".

But then, este é outro daqueles mistérios da ignorância humana que nunca consegui entender. Aí está:





"what about thoes who are into the fire of love??? is that love or spur of the moment??? y is every1 saying marriage is the tomb of love. I don tink so... cuz i noe sum1 who is married n enjoys life.. cuz he's not living with his wife... i noe another guy who tinks marriage is juz another partner.. n its ok w/o getting married... cuz to him marriage n love is two diiferent scene."



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(OOOOOoooooohhhhh, yeahhhhhh... Ai, cómo me duele el vivir....)

Dez minutos de inutilidade

Saí para passear pelos blogs usando a barrinha do Blogger, clicando em "Next Blog".

Um passeio pela inutilidade. Perdi uns dez minutos preciosos da minha vida.

Donde se vê que não é só no Brasil que existem cabeças-ocas.

E a minha está ficando, de tanto ler besteiras.

Tudo isso só porque, sem mais nem menos, aconteceu uma chuva de acessos estranhos ao meu blog, com gente de tudo que é parte, enfileirados um após o outro, uns 15 visitantes estrangeiros que, obviamente, não entendem português. Então fui conferir como chegaram ao meu blog, indo às suas URLs. Not a trace of my humble blog there. De algum modo, acho que hoje o endereço para meu bloguinho constou na barrinha de todos ao mesmo tempo, durante uns 15 minutos.

Talvez tenham perdido um pouquinho menos, lendo e não entendendo meu blog, do que eu perdi lendo o deles e entendendo tudo.

Ai, vida...

1.10.04

Sinais





Os sinais estavam claros, ali na minha frente. Tu, insuspeitado para meu coração até aquele momento, abriste muito os olhos ao me veres, quando entraste, e naquele instante estranhei teu nervosismo. Tremias, a voz chacoalhava e balbuciavas palavras confusas, como se de repente tivesses pisado em um buraco invisível e perdesses teu passo, a firmeza de tudo em ti. Na minha frente, um homem transformado em um adolescente inseguro. Como a única pessoa que ali estava além de nós dois, e a que mais te conhecia, não percebeu que só faltaste tropeçar, me fazendo rir baixinho, quando vieste me cumprimentar com um beijinho civilizado e inócuo?

(Talvez estivesses com frio. Talvez apenas surpreso ao me ver por não me esperares com os outros, talvez apenas surpreso porque cheguei primeiro. Não sei. Só depois percebi que não era nada disso).

Os sinais estavam ali, no telefonema inesperado. Uma chance de um encontro. Nunca a sós. Com os outros.

Mas eu não podia.

E os sinais vieram novamente, em palavras nem tão veladas, em outro convite.

E eu não pude novamente.

Agora, o que eram apenas pequenas espirais de fumaça vindo de ti transformam-se em um incêndio. Tem cheiro de fogueira. Calor de paixão. Vibração e sirenes de desejo gritante.

E ainda assim, eu, piromaníaca, fico de espectadora, a te ver queimando. Incerta sobre minha capacidade de aplacar tuas chamas e de com minha presença tão temerosa ver-te a te consumires sem que eu possa, ao menos, tentar te salvar.

Nove

Hoje, primeiro de outubro, minha filha começa a contagem regressiva para seu aniversário de nove anos, no Dia da Criança, com as seguintes palavras, logo ao acordar:

-- Faltam 10 dias.

Lembro que não, que são onze dias. Ela vem, então, com sua lógica que sempre me surpreende:

-- Não, dez, porque já estou no hoje.

Há dois meses ela vem contando o tempo, mas a contagem real só começou hoje.

E não é para ganhar presente. Não é para ter festa. Não é para reunir suas amigas. Nem é por qualquer outro motivo, exceto porque, em suas próprias palavras:

-- Eu gosto de fazer aniversário. Gosto de contar mais um ano.

Diz a Letícia que nem precisa festa. Não precisaria presente (mas claro que serão bem recebidos). Que a alegria de fazer aniversário é o próprio aniversário.

Sempre desconfiei que minha filha (cujo nome escolhido por mim significa realmente "alegria") veio ao mundo para ser e fazer outros felizes. A começar pelo fato de ter vindo para mim "atrasada", chegando no Dia da Criança quando "deveria" (segundo cálculos dos homens, mas não segundo as leis mais sutis que regem o universo) ter vindo entre dia primeiro e dia sete de outubro. E ela demonstra seu prazer de viver nas mínimas coisas, todos os dias.

Que outro motivo mesmo existe para comemorarmos aniversários, exceto pelo prazer da vida pela vida em si (Iuri, lembrei de ti, com a crônica que me mandaste sobre Sísifo)? Exceto pelo gosto de estarmos ainda mais um ano por aqui, comemorando nossa participação neste ato da grande peça de Deus, chamada VIDA?

Minha filha é sábia.

Vivo aprendendo com ela.