30.11.04

El Gitano

http://elgitano.blig.ig.com.br/



Eu ponho um circunflexo que não existe, em seu nome.

Ele publica um textinho que escrevi em sua homenagem em sua excelente revista eletrônica "El Gitano" (número 4), mas coloca um "p" que não existe, no meu sobrenome.

Ai, essas vinganças involuntárias e freudianas... :-)

Quando leio Antonio Junior, sinto-me como se reencontrasse pedacinhos de mim que havia perdido. Pedacinhos preciosos de uma Dayse um pouco mais pura e romântica.

Ah, eu digo a ele, ainda acredito em amor ideal - mas este deixo para a ficção.

Hoje, se amo a cabeça de um homem, geralmente o resto não se concretiza (e dizer que isso me satisfaz parece loucura, mas faz sentido para mim). Estou mais para homens-objetos, na minha vida (e também não me peçam explicações -- o que é, é e nem sempre tem um porquê). Homens preciosos demais eu guardo na redoma do meu coração, não no corpo traiçoeiro.

Mas El Gitano é uma soma de belezas -- faz com que pensemos em novas possibilidades em nossas vidas.

Way to go, Antonio!

29.11.04

Epitáfio

Aqui jaz Carbonilda da Silva

que pereceu sem que tivesse

um só pensamento original na vida




As Tubaroas





Os pobres tubarões acalorados estavam sendo estudados por um grupo de cientistas que, após gastar uma fortuna, descobriu que as fêmeas, principalmente, ficam muito próximas à areia nas praias do Brasil por um único motivo: para repousarem.

Ora, sob a perspectiva dos tubarões, seria de perguntar por que, a cada verão, as fêmeas da espécie humana também ficam a 30 metros de onde eles (os tubarões) estão.

Simples, diria o cientista-chefe dos tubarões: para repousarem.

Eu poderia ter poupado uma fortuna ao grupo de cientistas, já que no momento em que a questão foi apresentada no Fantástico, eu já tinha a resposta na ponta da língua.

Será que é tão difícil assim colocar-se na pele do tubarão?

Esses humanos são tão esquisitos...

26.11.04

Cultura inacessível

(Alerta: esta crônica foi escrita com ira. Considero a ira uma emoção saudável, mas tento não demonstrá-la demais neste blog -- blogs parecem ter obrigação de ser amenos -- e não mostrar em excesso minhas opiniões mais "radicais")



Livros são artigos de luxo.

Em um país em que o salário mínimo é 260 reais, um bom livro de ficção custa entre 30 e 80 reais.

Sou uma mulher que sustenta a si mesma, à casa e à filha. Minha renda não é desprezível e, ainda assim, ao ver o preço de 70,00 de um livro de suspense que desejava muito ler, desanimo.

Setenta reais = um bom "ranchinho" no supermercado. Ou uma boa calça jeans. Ou dez ingressos de cinema. Ou duas jantas razoáveis em um restaurante. Ou quase cinqüenta litros de leite. Ou bastante gasolina... para rodar e olhar a natureza, quase que a única coisa gratuita.

Num país em que o povo assalariado sequer pode fazer três refeições decentes por dia, um livro é um luxo, que não vem nem por último na lista de gastos. Não vem é nunca.



Tentando vender, as editoras encolhem os livros. Agora, parece que nenhum autor escreve livros com mais de 120 ou 150 páginas. Mentira. Escrevem, mas não podem publicar. As editoras só publicam livros traduzidos e sucessos comprovados de vendas em seus países de origem.



(Creio que o leitor já está farto de me ouvir falar de um certo original de 400 páginas, que atrai editores e, ainda assim, continua no arquivo-morto aqui em casa...)



Editoras mais "inteligentes" em termos de marketing chegam ao absurdo de produzirem livros para "adultos" com 129 páginas, das quais 70 são de ilustrações (como se o leitor fosse incapaz de formar sua imagem mental daquilo que lê), com textos tão ridículos que quase me deixam catatônica, em choque total. Isso é a literatura moderna. Isso é a enganação geral que se pratica numa parte do mercado editorial, para a sobrevivência das editoras.



E vamos jogando tudo o que presta no lixo. Abaixo as históricas complicadas, as tramas ricas, os "volumões", os escritores novos com algo a dizer. Enriqueçamos aqueles que falam ao "povo", como cantores de rimas pobres e adolescentes escritores que abreviam suas palavras mesmo em textos impressos como livro, acreditando na identificação imediata com seus pares que navegam na internet (lendo blogs infelizes que conquistam multidões de fãs)...



Música é artigo de luxo. Digo -- música. Não estou falando de coisas que começaram a ser aceitas, na última década, como música -- mas não passam de uma sucessão de erros gramaticais e chavões pendurados debilmente em uma melodia (?) pobre e que consegue, no máximo, arrastar o nível "cultural" do país para o esgoto mais próximo.



Se música não fosse artigo de luxo, veríamos mais Mozarts, mais Orquestras Sinfônicas de Londres, mais Villa-Lobos ou mais regravações de Porters ou Gershwins consumidos avidamente, em uma saudável revolta do povo, uma (re)"descoberta" do que é música. Mas música é artigo de luxo. Nem fica bem tocar Beethoven en qualquer lugar, ultimamente -- o incauto ouvinte corre o risco de ser linchado, por causa "daquela barulheira sem sentido".



Num país em que CDs piratas se espalham pelas calçadas sob o sol do meio-dia, com reproduções desbotadas das capas do lixo que se passa por música, por que lançar canções trabalhadas, executadas magistralmente ao piano, ou com letras verdadeiramente preciosas?



É claro que Rita Lee me enfurece por pegar este trem, mas ela tem razão -- está tudo virando b...



Ironicamente, sou profissional das elites -- eu, que não tenho nem tempo para ler, muito menos comprar aqueles livros pelos quais tenho convulsões de desejo, ao entrar em uma livraria.



Sou profissional das elites, traduzindo romances de suspense para quem pode pagar por eles, espalhando contratos milionários para as multinacionais, semeando autoconhecimento inútil entre dondocas entediadas, ensinando mamães sem noção a cuidar de seus rebentos através das palavras de algum obscuro pediatra americano...



Ironicamente, quase todos os livros que leio são os que eu mesma traduzo -- e quando as editoras me mandam um exemplar prontinho daquilo que fiz... para que serve o livro, se não para ficar esquecido em algum canto, dentro de um móvel, por total inutilidade para mim, que não possuo a vaidade necessária para expô-los à visão de todos, como mostra de minha nobre profissão?



Faz-se urgente uma mudança radical de visão, neste país, para que a cultura não seja algo acessível apenas para aqueles que já a têm, mas não tenho grandes esperanças, quando "livro" vira palavrão, quando "biblioteca" é uma palavra esquisita que designa algo que existia antes da internet e quando a soma de um corpo desnudo, gestos obscenos, desafinação e analfabetismo agora é "música".











21.11.04

Pastel

-- E o que é sentir-se um pastel, afinal? -- pergunta-me alguém.

Hmmm....

Quando me sinto um pastel (de boteco), sinto-me "frita", vazia por dentro, insossa e, logicamente, como algo que ninguém em sã consciência comeria...





19.11.04

TPM

Ah, responder àqueles e-mails? Não quero.

Talvez baixar músicas? Quais, se já tenho todas as que gostaria e até outras que não gosto e não tenho coragem de apagar?

Escrever poesia (outra vez) falando da saudade de um A que, suspeito, anda me lendo? Não. Hoje não, pelo menos. Hoje sinto saudade de muita gente, até de mim mesma quando não me sinto assim.

Jantar fora? Talvez, mas qualquer mudança no clima, na rotina ou nos detalhes minimamente planejados me tirará do sério e começarei a chorar ou a berrar.

Ouvir Josh Groban cantando "Remember Me" e lembrar de quem sinto falta e, além disso, da beleza do Brad Pitt em Tróia? Não...

Não quero falar nada. Nem ouvir nada. Nem limpar nada. Nem traduzir mais nada hoje. Quero que o Jota Quest se dane com "Vento", vou lá desligar o DVD.

Não quero dormir e não quero ficar acordada. Nem comer nada, nem o delicioso macarrão chinês que me aguarda no freezer e que reservei a semana inteira para comer sozinha na frente da TV.

Suo, e está frio.

Tenho dor-de-cabeça que nenhuma aspirina alivia.

Sinto ânsia na boca do estômago, que não é fome.

Sinto desejo. E fastio. E tédio. E vontade de sair de minha pele, voar, devorar a vida.

Não quero ver ninguém. E quero estar com todos ao mesmo tempo.

Homens, vocês são felizes.

TPM é um buraco negro na minha existência. Mal posso dizer que sou eu mesma, durante três dias do mês.

Afogo-me em meus hormônios durante três dias, sentindo-me um pastel, a rainha dos irrascíveis e descontente com céu, nuvem, sol, chuva, frio, calor, gente e amor.

Ai.





17.11.04

Descartável

Jogo fora meu ser aparente

Jogo-me disfarçada de vidro


À tua frente

E tu, distraído, avanças e me partes

Sempre, sem me veres.

Jogo fora a matéria

E me disfarço de nuvem

Para te ver de cima

Superior, etérea,

Chovendo minhas lágrimas

Que não te tocam, eu sei,

Tu, guarda-chuva, protegido

E escondido do meu ser emocional,

Que comete descartes das partes

Que não te interessam e repudias,

Em uma negação intencional

Do que não te toca, não te abala

E não fala ao teu racional.

10.11.04

Jasmim (dentro de mim mora um anjo em novembro)





Perfume de paraíso (em novembro, eu vivo)

Visto alma nova e brotas dentro de mim

Como amor recente (te redescubro, sempre)

Vejo-me borboleta breve enquanto os jasmins florescem

Azulo minha vida como um céu

(sinto-me anjo, sinto-me inteira, quase meio-feliz)

Em dezembro escureço (com as tempestades de verão)

Murcho como as flores

Em fevereiro não existo

Em março eu renasço quando tudo perde as folhas

E eu-galho, eu-frangalho, preservo meu ser quebradiço

No calor das estufas, ar condicionado, teu abraço

E anseio por teu calor sob os blusões

E pela poesia da bruma das manhãs

Em que te vejo nu aconchegado a mim.



9.11.04

Ataca-me

Como num filme de Almodóvar

Porque hesito

Mesmo quando incito e me excito

É minha sina ser sempre indecisa

Pisando no fio entre o não e o sim

Ata-me, amordaça-me

E não deixa que minha boca fale

Para que sons cerebrais

Não estraguem tons libidinais

De nossa perpétua paródia

De tragédias carnais

E se tornem comédia

(como filme que já vimos

Em outros carnavais)

Quero comer-te

Com olhos e outras partes

Mas mantém minha boca fechada

Fita muda, ação rápida

Cine sem cartazes, fim de noite

Num beco-sem-saída

Com sessões contínuas

De profana traição

Da nossa melhor intenção

7.11.04





Maria limpa, limpa, limpa

(Exercício melhor que academia)

Maria dança e esfrega, dá brilho e canta

(Maria acha lindo seu chalé planejado por ela, arquiteta amadora, jardineira amadora, dançarina amadora, cantora amadora, gueixa amadora, tradutora)

Maria limpa, limpa e limpa

Maria espera não sabe quem

Alguém

(e põe flores no vaso porque lhe faz bem, para si e mais ninguém)

Maria senta-se, exausta de dançar, de limpar, de cantar e de sonhar

Intoxicada com o cheiro de cera, lustra-móveis, alvejante, Pinho-Sol

E depois da faxina deita-se exausta, sozinha,

Rezando para que não apareça ninguém

Para vê-la cansada e acabada e desanimada assim