31.3.05


27.3.05

Texto provisório de meu anúncio classificado

Procura-se

Um amor usado

(em bom estado)

Nem muito velho, nem muito moço

(que tenha bom-gosto e agradável rosto)

Com interior de luxo,

Capricho no trato

(Que, sendo rodado, ainda assim não me venha

amassado, com desastres disfarçados, “guaribado”

e falsamente embelezado)

Procura-se

Um amor com história ou sem

Que se disponha a ser da família

E a acomodar em si muitas pessoas

(amigos, parentes, fãs e ídolos)

Procura-se

Um amor usado mas não desgastado

Talvez reformado, talvez de colecionadora,

Talvez trocado por um mais novo

Mas que não queira ficar na garagem

E se disponha a suportar a estrada

E a não me deixar no meio do caminho.

(Propostas através de email perdido em algum ponto deste blog)

P.S. - Eu jamais publicaria isso num jornal :-)

25.3.05

What's Scooby-Doo doing in Mars?

Scooby-Doo foi passear em Marte, perdeu-se, escorregou pela parede de um cânion e foi soterrado.

A foto é real. O Scooby-Doo na parte inferior direita também ;-)

Tem também um E.T. mais à esquerda...

Scooby-Doo, Cadê Você?!

23.3.05


Ah, Ok.

Talvez eu comercialize meu cérebro em garrafas.

Poderia embebedar alguns.

Mas quem gostaria de embebedar-se com meditações profundas

ou farras libidinosas

puramente cerebrais?

Ok.

Talvez eu engarrafe meu cérebro e o jogue no mar.

Talvez um dia alguém o encontre.

Mas não sei se gostará do que há escrito nele.

22.3.05


GONE FISHING

(for something new to write)

FUI PESCAR

(algo novo pra escrever)

15.3.05


O que é um presente?

Presente é um buquê de rosas brancas, de pano e plástico, comprado pela filha de nove anos com a própria mesadinha modesta, com o maior orgulho, e um “cartão” com 1,5 por 2 metros, multicolorido, com o desenho de uma árvore cujos galhos cortados parecem braços abertos à minha espera.

Presente é um bibelô de (sei lá que material é esse) duas corujinhas, mãe e filha, para juntar-se à minha coleção de corujinhas, dado por minha mãe.

Presente é o arranjo de flores (essas naturais, lindas) recebido pelo irmão sempre em crise financeira, e o sorriso feliz que ele me dá por poder demonstrar seu carinho com algo efêmero, mas concreto.

Presentes não são as palavras compradas em um telefonema gravado (odeio essas telemensagens supostamente emocionantes, “enlatadas” por quem não tem tempo, ou carinho, ou disposição para algo mais).

Presente não é o objeto caro comprado por obrigação (eu gosto dos presentes que eu mesma me dou, quando se trata de objetos caros – nunca fui muito chegada a receber presentes caros).

Presente não é o telefonema pessoal, mas burocrático, de quem nunca se importa em saber se sou humana e também sofro de solidão, falta de grana, depressão (engraçado como as pessoas parecem me julgar acima dessas “coisinhas”, só porque tenho essa bendita tendência a Polyanna).

Hoje recebo presentes.

Mais um ano de vida (que ótimo, que ótimo, que ótimo, adoro ficar mais velha).

Mais algumas pequenas e médias realizações (estou sendo modesta).

Mais alguns cabelos brancos (e daí?)

Mais um pouquinho de pressão da gravidade sobre mim (ah, mas quem se importa?)

Mais um ano delicioso na companhia daqueles que amo.

Mais amor, de quem realmente se importa comigo.

Feliz aniversário para mim (sempre dou graças a Deus por ter ficado mais um pouco e aprendido ainda mais, neste estágio aqui, nesta passagem, a cada aniversário).

13.3.05

Qual é seu sonho de consumo?

Algumas pessoas têm sonhos de consumo ambiciosos,

Um carro importado

Viagem à Europa (ou Ásia, ou EUA, ou Caribe)

Uma TV de mais de 50 polegadas

Casa de dois pisos com piscina

Meu sonho de consumo garante (ou quase) vida.

Ele me permitiria paz de espírito no meio do caos.

Meu sonho de consumo me traria (mais) longevidade.

Ele é a diferença entre vida ou morte (talvez).

Eu sonho, apenas, com um plano de saúde para minha filha, minha mãe, meu irmão e eu.

Meu sonho de consumo é não morrer na sala de espera do hospital

Num corredor

Numa emergência superlotada

Ou na calçada.

11.3.05

LEMBRANÇAS DE UM DIA DE CÃO I

Você sabe que está acordado há 36 horas quando...

Repete, a tudo que vê na TV: “Palhaçada, palhaçada!”

Ouve tudo como se seus ouvidos subitamente estivessem cheios d’água

Vê tudo como se seus olhos estivessem em chamas

Começa a chorar enquanto escuta algo supostamente alegre.

Começa a chorar quando nem escuta nada.

Começa a chorar como se nada mais no mundo tivesse cor, sabor, e você fosse o único ser vivo a perceber isso.

Sente-se carente, carente, carente, necessitado de alguém que te diga:

“Tu não és forte. Repete comigo: Tu não és forte. Repete comigo: Tu não és...”

Na verdade, desconfio que nada sou, reduzida a um computador que suga minha vida.

Por 36 horas.

Em 36 horas faz-se e se desfaz uma vida.

E eu continuo aqui.

Repete comigo: tu não és forte e um dia terás de mandar tudo isso às favas, mas enquanto isso, faz um exercício simples – fecha os olhos e DORME, criatura...

LEMBRANÇAS DE UM DIA DE CÃO II

...Então, um dia, te procuram e não te acham mais. Estás ali, aparentemente dormindo, mas já não abres mais os olhos. Esqueceste que pra fingires que estás viva é preciso abrir os olhos a cada manhã. Confundiste tudo – o lado de dentro e o lado de fora – e agora vives só no mundinho da tua cabeça, imersa em uma vida que, essa sim, te parece verdadeira. Teu corpo não sente necessidade de fingir com movimentos uma dinâmica que existe muito mais em teu cérebro do que jamais houve quando te levantas. Um dia te procuram, mas esquecem que já tinhas ido embora antes mesmo de ires dormir e nunca mais acordares sem que tivesses morrido. Apenas não queres ir, mas também não queres ficar.

LEMBRANÇAS DE UM DIA DE CÃO III

E aquela frase de Fight Club dizia que, sem horas decentes de sono, o mundo parece uma cópia de uma cópia de uma cópia.

Sei.

Sou uma cópia desbotadíssima, amarelada, ressecada e quebradiça de mim mesma.

LEMBRANÇAS DE UM DIA DE CÃO, IV

Uma vez dormi 19 horas seguidas. Sem motivo. Só dormi. Acordei achando que o mundo era novo. Tudo era mais brilhante, cheiroso, colorido. Lindo.

Outra vez, anos depois, dormi 23 horas seguidas (minha mãe, ao lado, só vinha conferir se eu ainda estava viva, mas ninguém jamais lhe disse que nunca estive, pobrezinha dela). Sem motivo. Apenas deitei e dormir. Idem, as sensações ao despertar.

Quero dormir 40 horas, agora.

BOA NOITE, mundo. Estou muuuuuuuuuuuito cansada e, francamente, não há nada melhor que, ao sentir-se assim, jogar-se de cara no nada.

8.3.05


SORVER-TE

LAMBER-te

ESCORREGAR-TE

Por mim

ESCORRER-te

DERRETER-te

EM MIM

4.3.05

Eu já disse que em março volto a viver?

(disse, sim, mais ou menos em novembro)

Reacendo.

Por ti, como em julho.

E nem sei por que te apaguei.

Ou porque me apagaste.

Ou por que nos deixamos soprar e acabar.

Reacendo e sendo assim,

Acende. Vem. Ascende em mim

Como eu em meu delírio de ser tua.

3.3.05

Ei!

Olha só, a vida ali, passando pela janela,

Soprando entre as árvores,

Esgueirando-se pelas esquinas

Cheirando a café fresquinho

A talquinho de bebê

A roupa de cama limpa

A musgo

A chuva

A terra

Ei!

Pega ela!

Pega ela!

Aprisiona entre os dedos

Põe na boca,

Engole

Sorve,

Digere

E devolve

Te envolve em seu processo

Doma, amestra, conquista,

Não teme o primeiro insucesso!

Olha aí, a vida...

...

Passou.

2.3.05





Hoje eu não pretendia postar mais nada além da bela poesia do Steven, mas a Patrícia me fez chorar. Pegou-me de surpresa, com aquelas suas palavras que, sinceramente, me tocaram como há muito nada me tocava. Não vou dar o endereço do blog dela aqui -- pelo menos não agora -- para que não pensem que estou querendo fazer autopropaganda com o que ela disse sobre mim.

Minha história com a Patrícia é esquisita: quando a conheci, em uma lista de discussão, senti uma antipatia indizível por essa criaturinha. Mas indizível mesmo. Se fosse possível mudar de calçada em uma lista de discussão, eu mudava, para não acabar sendo grosseira com ela e suas opiniões. Pra cúmulo do "azar", lá estava ela também em outra lista de discussão, "Letras e Companhia". Bastava ler suas palavras que o sangue me subia à cabeça.

De repente, um clarão se fez, quando por pura vontade de criticar suas opiniões eu fui ao blog dela (viste, Patrícia, não sabes da missa a metade)... Ao ver sua carinha (nossa, cara, ela podia ser minha irmã!!! Seus ossos, seu formato de rosto, seus olhos!), ao ver seus depoimentos sobre família, suas frustrações, esperanças, seus prazeres, eu voltei no tempo.

Lá estava eu, a Dayse com seus vinte e pouquinhos anos. Tão eu, a Patrícia. Tão ela, eu. A Patrícia vive o que eu vivi. Chega a doer. Se isso lhe serve de consolo, provavelmente ela será como eu (minhas partes boas, pelo menos) quando chegar à minha idade. Muito antes, até. Era como ler meus diários (não tenho mais motivos para escrevê-los; em vez disso, prefiro encher meus leitoresinhos com este blog), ler o blog da Patrícia. E me vi torcendo por ela, como se eu voltasse no tempo e, eu personagem do seu filme em que ela fazia o papel da Dayse, torcesse por ela que seria eu. Ok, eu entendo isso, se ninguém mais entender.

De repente, a antipatia dissolveu-se, desapareceu. Ficou carinho puro. Muito carinho.

Patrícia, tu és maravilhosa. Ma-ra-vi-lho-sa. E torço por ti como talvez ninguém tenha torcido por mim. Como vês, estás em vantagem :-)

Com isso, espero não dar a impressão de que te acho tão maravilhosa porque de repente me fizeste ver o quanto eu também fui digna de carinho, ternura, o quanto eu mesma era maravilhosa sem saber, sem ter a mínima idéia da criaturinha boa que residia em mim e que só se mostraria depois, quando a maior parte das tempestades já havia passado. Bom...

Acho que se eu der esta impressão, é porque é isso mesmo. Mas quem me fez me sentir feliz foi tu, Pat. Porque consegues ser simplesmente incrível, em tuas lutas e tua realidade, em teus sonhos e em teu coração.

BEIJO, linda.

By Steven S. Baird



(Take care, my sax-sexy friend...)

hung on the black velvet sky
the moon shone like a lost piece
of semi-precious necklace
Tarnished and pitted but
wellknown and loved
She comforts as a memory
of your grandmother
that lays quiet in the
red velvet of your heart