29.4.05



SEASONS OF LOVE (da peça “Rent”)

525,600 minutes, 525,000 moments so dear. 525,600 minutes - how do you measure,
measure a year? In daylights, in sunsets, in midnights, in cups of coffee. In
inches, in miles, in laughter, in strife. In 525,600 minutes - how do you
measure a year in the life?
How about love? How about love? How about love? Measure in love. Seasons of
love.

525,600 minutes! 525,000 journeys to plan. 525,600 minutes - how can you measure
the life of a woman or man?

In truths that she learned, or in times that he cried. In bridges he burned, or
the way that she died.

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525.600 minutos, 525.000 momentos preciosos. 525.600 minutos – como se mede um ano?

Em dias, pores-do-sol, meias-noites, xícaras de café. Em polegadas, milhas, risadas, brigas.

Em 525.600 minutos – como se mede um ano de uma vida?

E quanto ao amor? E quanto ao amor? Mede-se em amor. Estações do amor.

525.600 minutos! 525.000 jornadas a planejar. 525.600 minutos – como se mede a vida de um homem ou mulher?

Por verdades que aprendeu, ou pelas vezes que chorou. Pelas etapas que superou, ou pelo modo como morreu.

Até onde se pode medir a falta de alguém?
Já inventaram um medidor de saudade?
Um saudadômetro?

25.4.05

24.4.05



Bem no meio da sessão de cinema, ela dará uma bela gargalhada, quando ninguém entendeu o motivo.
Ela se irritará quando, em uma festa, alguém disser que contratou um “personal training” e todos ficarem boquiabertos com a sofisticação do metido a bacana.
Ela baterá o pé com impaciência quando alguém começar a transmitir as últimas notícias que viu em um site brasileiro (ela já sabe antes o que aconteceu, e leu a notícia completa).
Ela se negará a te ouvir cantar em inglês num cara-o-quêêê???!
Ela enlouquecerá se tu, bancário, publicitário, web designer ou algo assim lhe disser que “andou fazendo uma tradução”...
Ela não te dará nem um minuto à tarde e nem parará para ouvir teus berros indignados com tamanha falta de consideração. Um minuto todo mundo tem livre – menos ela.
Ela te atenderá ao telefone, mas começará a perguntar “e daí”, “e então”, e ordenará “resume!” se o assunto não tiver importância capital para o destino mundial, enquanto com o rabo do olho mira a tela do computador como se este fosse explodir no segundo seguinte.
Ela não terá o celular mais caro do Brasil só porque vem tudo em inglês com recursos que outros não sabem usar. Ela sabe, mas também sabe que não são necessários.
Ela será um livro aberto sobre fatos, cultura inútil, estatísticas esquecidas por todos, mas se negará a entregar essas informações preciosas se não for por justa causa.
Ela ganhará por seu tempo, sem ser operária nem outra coisa menos meritória e, por vezes, se recusará a ceder esse tempo precioso a ti, ó mortal desencanado e cuca fresca que só quer um dedo de prosa.
Seu ego precisa ser levado em caminhão de mudança, mas quando sem trabalho, pode ser transportado em uma caixa de fósforos.
Ela não é médica, mas está sempre de plantão.
Ela tem amigos por todos os lados do mundo, mas não consegue viajar nem até a cidade vizinha.
Ela te torcerá o nariz, se fores colega e mandares um bilhetinho com erros de concordância ou ortografia. Talvez nem fale contigo para o resto da vida, mortalmente decepcionada.
Em um dia, tu combinarás um programa e ela concordará, entusiasmada, apenas para uma hora depois cancelar tudinho, sem remarcar o compromisso.
Ela nem chega perto de quem não gosta de ler.
Ela nem tem tempo para amar.
Ou tu a amas ou tu a deixas. Com ela não há opção.
Por vocação e escolha, sendo o que é, precisará do teu perdão e da tua bênção, da tua compreensão e da tua gratidão, a cada segundo de seu dia nesse uniforme de super-heroína que, às vezes, salva o mundo e, em geral, teme cometer um deslize e afundar como um Titanic, levando meio mundo consigo.

Ela é tradutora.


23.4.05

Across The Universe (Fiona Apple) -- Bilhete a H.

Fiona Apple me traz teu cheiro.

“Nothing is gonna change my world”.

E nada mudou.

Continuas solitário.

Eu por querer.

Tu, não sei.

Mas a voz de veludo também calls me on and on, mas across teu apartamento, para o quarto.

E o universo do teu apartamento ainda está guardado nesses três minutos e pouco da canção dos Beatles que ela arrasta como se com preguiça, bela, sensual e lasciva.

Meus ouvidos abertos ainda se excitam e a recordação da tua voz ainda cruza meus sentidos. Fiona traz o cheiro do frio, do temporal, do teu apartamento limpo, das minhas roupas pesadas, da tua pele nua.

Guardei um instante do meu passado em “Across the Universe”, mas em nenhum lugarzinho do universo eu consigo achar novamente o encantamento que me fez sair de mim contigo. A música se repete, mas não a magia (e me dá uma tristeza, isso...)

Não consigo decidir se eu fiz a magia, se foi a música ou se tu condensaste em três minutos um desejo alto, verbal, do gozo berrado teu, fazendo algo que não te é costumeiro -- mas todo mundo tem direito a ser mago, por um minuto que seja.

Estás guardado com meu desejo na música da Fiona Apple.

Pena que a música se repita e seja sempre igualzinha, como igualzinha é a impossibilidade de mudarmos nossos mundos.

19.4.05

A propósito de nada:

Uma mulher quase rica (nem tanto, mas é mais do que costumo receber), mas que não consegue receber seu cheque porque a *&#*%&*% deste país me impede de receber meu cheque do exterior,
Pode ser chamada de uma mulher quase rica,
Ou é simplesmente uma otária, a palhaça deste dono de circo chamado Lula?
Que ódio, viu?

13.4.05

Os outros é que são loucos

People don't get crazy all at once.
First, you think they are one of a kind,
original, fabulously creative.
You may think they are geniuses.
Then, one day, you open your eyes,
See them with no disguise of youth and beauty
And then you say: "Hey, look, she's crazy"
... She's always been, my friend
And I ain't taking about me
(it's her style to fake originality.
Mine, is to fake sanity so well you won't find my insanity
even when I'm too old to be cute).

As pessoas não enlouquecem de repente.
Primeiro, achas que são incríveis,
originais, fabulosamente criativas.
Talvez aches que elas são gênios.
Então, um dia, abres os olhos,
Vês essas pessoas sem o disfarce da juventude e beleza
E então dizes: "Olha só, é louca."
... Ela sempre foi, querido
E não falo sobre mim
(é a cara dela fingir originalidade.
Meu estilo é fingir sanidade tão bem que não descobrirás minha loucura
mesmo quando eu for velha demais para parecer graciosa)

10.4.05

Sou uma gata, delicadinha e meiguinha, mas até gatos mordem, quando provocados.
Não sou grossa (jamais, my dear, jamais), mas não tenho medo nenhum de homem, nem de cara feia, nem de nada (só de barata). EU FALO, PORTANTO, EXISTO (só assim pra perceber que sim, às vezes).
(Vide abaixo)

Hoje chamei um pastor de ignorante, na frente de pelo menos 20 testemunhas, sendo dessas quatro adultos e 16 crianças de 4 a 11 anos.

Ter comprado minha casa ao lado de uma igreja, a princípio, pareceu-me bom augúrio.

Agora só posso dizer que, *apesar* da igreja, ainda acredito muito em Deus.

Que melhor maneira de me colocar à prova que me colocando para residir ao lado de um hospício cujas sessões de liberação dos demônios primitivos infantis iniciam-se às 18 horas e vão até às 22.30?

Explico: nada tenho contra o culto.

Nada tenho contra os fiéis.

Nada tenho contra seus múltiplos ensaios do “grupo musical”, que duram geralmente três horas seguidas com ensaios de bateria, guitarra e voz desafinadas.

Nada tenho contra o *seu* Deus (que duvido que seja o meu).

Tenho tudo, tudinho, contra umas 30 crianças berrando enlouquecidas enquanto os adultos reúnem-se dentro da igreja para o culto.

Tenho tudo contra ter de suportar berros, gritos, passos a correr na brita, bem ao lado da janela onde eu (por carma, por burrice ou ingenuidade) construí meu escritório, onde tento traduzir materiais que invocam os deuses da Ciência, das Artes, da Literatura, o Deus – também este.

Tenho tudo contra viver há 6 anos neste inferno que eles chamam de religião e que eu chamo de culto à ignorância.

Olhem, sou bem zen – menos quando perco o controle. Sou muitíssimo cristã (e não duvidem), menos quando vejo pela frente a soberba e arrogância de quem se julga O Próprio Deus Com Direito a Tudo.

Sou zen, e isso é fácil de comprovar -- ninguém mais neste planeta suportaria ensaios barulhentos, festas enlouquecedoras (as criaaaaaaaanças, lembrem-se das criaaaaaaanças, que a tudo têm direito, na visão do pastor), cultos cantantes e berrantes durante 2.190 dias, quase todos os dias. Juro, com a mão sobre a Bíblia. Sou zen como ninguém.

Perco o controle com essa gente mais ou menos (menos) uma vez por ano.

Este ano aconteceu hoje.

O pastor faz-se de surdo quando, às 22:30, eu lhe digo que cale aquelas crianças, porque a minha criança tem aula de manhã e precisa dormir. O pastor vira-me as costas, primeiro, quando lhe digo que minha paciência está acabando. Quando eu, do outro lado do muro, lhe digo então que pode ir-se, mas que levantarei a voz para que possa me ouvir mesmo assim, ele finalmente volta-se e se coloca à minha frente (do outro lado do muro, no terreno de seu Deus, protegido por seus fiéis, enquanto eu, pobre pecadora que trabalha aos domingos, pobre infeliz que não compareço aos seus cultos, coitada de mim que fumo, ignóbil euzinha que ouço Chico Buarque durante seus ensaios cantando “Cálice” (e não foi de propósito, só depois me dei conta...)... enquanto eu estou ali, sozinha, mas nem por isso menos armada.

Apelo para seu bom-senso. Rogo para que antecipe o horário de seus cultos em meia hora e que avise às crianças que após as 22 horas não podem gritar (por mim, nem suspirar, mas não lhe digo isso). Suplico que discipline as crianças. Pergunto-lhe, depois que vejo todos os meus argumentos respondidos apenas com uma frase ("Isso aqui é uma igreja, precisamos fazer nossos cultos e a senhora é que precisa encontrar um jeito de aceitar as conseqüências") o que há de religioso em 30 crianças berrando e correndo em torno da igreja às dez e meia da noite. Ele enfim admite que isto não deveria acontecer. E estraga tudo dizendo que eu odeio ver gente feliz. Que as crianças berram de felicidade, e que eu não suporto ver alegria. Que berro de criança às 22:30 não é indisciplina, não é desrespeito aos vizinhos (afinal, quem mais está se queixando, se não euzinha sozinha e louquinha?). Berro, grito, correria de criança junto à janela do quarto de dormir, fazendo um efeito "stéreo" na cozinha e no escritório, reverberando até o banheiro, enfiando-se no outro quarto e trovejando pela sala? Ah, minha senhora, o que há de mal nisso? Nada, se fosse uma criança (não lhe digo que eu daria uma bela palmada na bunda da mal-educada pra ensiná-la a respeitar o direito de silêncio dos outros). Sendo 30 crianças (fim-de-semana passado eram 70...), é um pouquinho mais do que eu consigo suportar. Só um pouquinho mais do que um leve incômodo, sabe?

Encerro tudo. Daí para a frente não há mais nada que eu possa dizer que possa penetrar naquela imitação de cérebro.

Guardo minha arma (minha loquacidade, ora!) no bolso que não tenho em minha camisola, cruzo os braços, olho-o bem nos olhos e lhe digo:

– O senhor é um ignorante, pastor. Passar bem, acabou a negociação.

Ele agradece (sua tentativa de ironia no agradecimento não funcionou). Simultaneamente, voltamo-nos e cada um entra – ele para seu templo da ignorância, eu para minha casa onde minha filha agora perdeu o sono.

De vez em quando, uma vez por ano mais ou menos (menos), eu dou uma de louca.

Hoje foi minha vez.

Mas me fez tãããããoooo bem!

P.S. - Sou boa gente, juro que sou. Mas sou mulher, sozinha, e não sou Batista de religião, só de sobrenome. Tenho de defender a mim mesma, porque Deus está do lado deles (nas palavras do próprio pastor. Se isso for verdade, então estou vivendo em um universo paralelo há 6 anos sem perceber).

9.4.05

O Marido da Vizinha (história real)

Eu já pedi o marido de uma vizinha emprestado.

Julguei-me no direito. Eu era mais antiga no prédio, tinha vantagens.

Eles mudaram-se, e em meu primeiro contato com ele, julguei-o um machista da pior espécie.

Quando precisei do marido da minha vizinha, achei que seu machismo vinha a calhar.

Ora, um homem que gosta de ser macho adora mostrar-se, nem que seja para a vizinha.

Assim, pedi o João (nome fictício) emprestado, e sem permissão da esposa dele.

Aproveitei-me dos hormônios do homem, de seu impulso para dominar, eu que em certas situações sou muito submissa.

Depois contei a ela, que nem se importou, mas juro que morri de medo que, ao descobrir, ela pudesse me detestar por achar que eu não tinha direito a pedir que seu marido fizesse aquilo por outra mulher.

Mas confesso: só ele me servia.

O prédio ainda estava vazio. Éramos só nós dois no edifício pequeno. Estava muito calor, eu havia acabado de sair do banho, sentia-me animada, mas sem ele eu não poderia aproveitar muito bem a noite de verão.

Suando, tremendo e com palpitações, bati em sua porta, em desespero:

– Vou te pedir uma coisa que normalmente eu não pediria a um homem que mal conheço.

Depois que expliquei a situação, ele piscou-me um olho safado, juntou seus instrumentos, e lá se foi para meu apartamento, para cumprir sua missão de macho.

A partir daí, o marido da vizinha tornou-se meu também, cumprindo direitinho com aquilo que uma mulher mais deseja, ao casar-se (sem a desvantagem, para mim, de ter de suportar seus defeitos).

Meu vizinho matou aquele baratão preto, voador e invasor que havia no meu apartamento como ninguém mais teria feito por mim naquela noite.

8.4.05

Mal-Educados (desabafo feminista)

Mas por que é que existem homens que presumem que a resposta para todos os problemas de uma mulher é "um gozo bem forte"? Por que é que presumem, grosseiramente, que seduzem ou atiçam o desejo, ao sugerirem que só o que uma mulher precisa é gozar?

Gozar é fácil (bastam 30 segundos). Forte também, e não é preciso um homem competente. Muito menos um homem que ache que *ele* é o responsável por isso.

Por que é que um homem julga que uma mulher quer segurar a mão de alguém só pra chegar na cama?

Por que é tão difícil dizer a um homem assim que ele precisa educar-se, que não é à toa que está sozinho?

E principalmente, por que é tão difícil fazê-lo entender que, embora acesa, não sou um fósforo para ser queimado e jogado fora? Não sou um número para ser riscado em sua contagem de transas? E que não dou a mínima para isso?

Outra coisa: só deito com quem *eu* escolho. Não vou para cama com ninguém por falta de opção ou porque fui "escolhida". Na verdade, *eu* sou quem escolhe, sempre.

Se for para um dos dois ter um objeto, não serei eu a "coisa" escolhida. Ao contrário...

Ontem ouvi (na novela!!!!) um homem dizendo a uma mulher: "Sou apaixonado por cérebros".

EU TAMBÉM.

Por pintos não. Esses só serão atraentes na medida em que o cérebro também for.

E CHEGA.

4.4.05

A gota do perfume azul

desliza do umbigo e desce

aquecendo o pólo Sul

VIVA!

Escrever ficção, para mim, exige um estado muitíssimo semelhante a estar apaixonada. Não é preciso o objeto da paixão, apenas o estado de frio no estômago, excitação, libido ativa, arrepio, a sensação de que tudo pode acontecer (o bom e o ruim, a felicidade e o martírio, a ascensão e a queda, a beira do abismo, o canto dos anjos, as chamas do inferno).

Escrever ficção é embriagar-me de vida. Dar aos personagens muito de mim e extrair deles o fôlego para que minha vida continue e, mais que isso, melhore, adquira um colorido adicional.

Curiosamente, eu tenho duas fases (como mania/depressão, loucura/sanidade, saciedade/tesão):

Quando sou tradutora, não escrevo. A arte apaga-se — de onde se depreende que ultimamente não tenho criado (realmente, no sentido de elaborar e extrapolar o banal). O blog é meu quotidiano, não real criação. Está ali, com o tédio, a mesmice, os pequenos encantos diários e os incômodos das saudades múltiplas de amores variados.

Quando o trabalho dá trégua, a paixão retorna. O estado de loucura, o estado de tesão, o estado de mania.

Agora sou tarada, maníaca e louca.

Estou escrevendo como se o mundo fosse acabar -- na ficção, no blog não (e grandes desastres se anunciam, porque só escrevo o que choca, mas às vezes também enfeitiça, porque espantar-se sem que haja fascinação de nada adianta) .

Gosto MUITO desta sensação.

Sinto-me viva. Viva. VIVA!

(P.S. – Lúcia Rebello, minha musa-leitora-número-um, meu tônico inspirador, onde é que tu estás? SAUDADE)

3.4.05

Céus, bebê,

eu já defini o que desejo para minha vida. Não me vem tu, agora, com essa cara que faz com que os deuses te odeiem, tentar minha vontade de ser decente... Não me vem, piscina nos olhos, morango na boca, pêlos certos, voz que faz pensar no gemido, não me vem.

VEM.

Céus, bebê, não me deixa cair em tentação com tua idade de anjo, tanto ainda por aprender (em que posso te servir, o que posso te ensinar?). Não me deixa cair...

NÃO ME DEIXA.

Céus, bebê, vai pro inferno, deixa disso, pára de ferver meu sangue, pára de me fazer achar que enlouqueci, eu sem controle, eu atropelada, eu impulsionada por uma paixão atroz, desapegada dessas coisas de aparência obcecada agora por teus cabelos, pelo sorriso que promete.

PROMETE.

Que inferno, bebê, eu me dar inteira para ti que nem sabes que existo exceto por meu inglês e minha música...

VADE RETRO.

Se algum dia já me senti possuída é agora. E não por ti, infelizmente, mas pela fúria de fazer com que eu mesma entenda que

NÃO DÁ.

Bye, bebê.