26.5.05

Long Train Running

Interessante como o subconsciente opera...
Passo mais de uma década sem me lembrar que uma música existe e, de repente, ela se fixa em minha mente, teimando em me enviar sua mensagem.
Caminhando no centro de Porto Alegre. Anoitece. Frio, muito frio (AMO FRIO!!!!), andando pelas ruas que amo e que contam a história da minha vida, das minhas paixões e dos meus encontros e desencontros. A claridade amarela das lâmpadas de rua. A neblina. Meu perfume que me excita e o contato com a pele de dentro do casaco atiça os sentidos. A libido solitária ecoa, destoa...
E de repente, sem mais nem menos, meu cérebro vira uma caixa sonora em stéreo.
Without love where would you be now, la-ra-la-la...
Os Doobie Brothers seqüestram minha racionalidade. Invadem minha objetividade.
E respondo: I'd be here, right here, seeing the past while I walk and see the places where Love once walked by my side. Once upon a long time ago...
Interessantemente, não concordo com os Doobie Brothers que me jogaram esta música sem que eu tivesse opção. Teriam feito melhor grudando em meu consciente What a Fool Believes...

21.5.05



A vida não é justa, nem injusta.

A vida É.

17.5.05

Para M. T.

Um dia, Sísifo chegou ao alto do monte e, ao ver a pedra despencando novamente, desistiu e sumiu do outro lado.

Não o vejo mais.

Volta, Sísifo.

Se não for para levar a tua pedra, que seja para ajudar-me a carregar a minha.
Respostas imbecis para perguntas idiotas:

-- Cortaram tua luz?
(sugestão de resposta para a mulher pobre do meu bairro que passou por isso:)
-- Ao contrário, a companhia de energia elétrica está oportunizando uma modalidade muito econômica de iluminação para minha residência, que funciona apenas com sebo e pavio.


-- Quebrou o braço?
(sugestão de respostas que dei à minha filha, quando lhe perguntassem isso:)
-- Não, apenas arranhei , mas achei melhor proteger com gesso, sabe como é.
-- Claro que não, é que está chegando o inverno e com gesso não preciso ficar trocando de roupa para esquentar o braço.
-- Não mesmo, quem quebrou foi minha mãe, mas ela precisa trabalhar então resolvi engessar o meu pra poupá-la.
-- Quebrei sim, mas foi o braço direito e não sei como o gesso veio parar no braço esquerdo.

-- Tu ainda estás traduzindo?
(respostas minhas a quem me faz essas perguntas:)
-- Claro! E tu, ainda estás advogando (gerenciando empresas? construindo pontes?)
-- Não, agora testo teclados de computador 15 horas por dia, e para ter algo que digitar pego uns textinhos de inglês técnico e passo pro português.
-- Claro que não, aposentei-me e meus clientes de free-lancer me pagam uma pensãozinha todos os meses, espontaneamente.

Da Série Abobrinhas Podres

Os últimos serão os primeiros...
a reclamar.


Os últimos serão os primeiros...
a dar com a cara na porta fechada.

12.5.05

(espero jamais perder esta febre, a paixão por traduzir. Conheço pouca coisa que me atice o cérebro mais que traduzir. Fora isso, paixão e ficção. É ou não é um privilégio trabalhar naquilo que se ama?)

Sinto-me como se sexta, sendo quinta
E como se sexta com festa,
batucando no teclado, neurônios agitados,
barulheira infernal no cérebro
– à volta o silêncio.
Sou sexta, num grupo de cinco,
percorrendo becos de significados,
embriagando-me de sentidos
(de palavras, nuanças, expressões)
...como se sexta, não de festa do corpo,
mas da mente,
tradutória orgia como se amanhã,
um falso sábado,
eu despertasse cansada
e de ressaca de letras.

11.5.05

Centro da cidade.

Meio da tarde.

Passo. Ele me olha. Cinqüentão, olhos azuis, cabelos que já devem ter sido loiros, grandalhão (por que mulheres pequenas atraem grandalhões? Não respondam – tenho teorias safadas sobre isso). Eu o olho (acho que o planeta inteiro sabe que gosto de homens claros). Desvio o olhar (para que ir em frente?). Olho de novo (será que ainda está olhando?). Está, fixamente. Entro no bar. Vou pagar um café. Ele na rua, indeciso. Pela última vez baixo meu olhar. Some-se o homem. Sinto-me aliviada. Mais uma vez deixei de me dar mal.

“Tu és o meu tipo”, diz o azul dos olhos dele.

“Será? Poderias ser o meu, mas uma década atrás, quando eu ainda não sabia que olhares são poços sem fundo”

“Quem sabe, então?...”

“Não sei não...Já não sou suicida...”

“Talvez...”

“Não, definitivamente não. Tenho mais olhares para analisar no mundo, não preciso me atirar no teu.”

Quanta coisa se diz sem palavras em trinta segundos!

10.5.05

Whatever gets you through the night...

Acordo pensando neste pedaço de uma música (acho que do John Lennon).

Por que desperto ainda mais irritável que ontem, quando pensei que seria impossível estar ainda mais irritável, inquieta, nervosa e pê da vida que ontem?

Preciso descobrir respostas, porque nada parece errado.

Ontem:

Aparentemente, o muso desmanchou seu romance antigo e isso me entristeceu, porque sua noiva e ele são pessoas que eu via como metade um do outro (ainda tenho essas visões românticas de certos casais).

A., está de namorado novo, feliz da vida, e fiquei feliz por ela – mas ao mesmo tempo eu penso: como é que ela tem paciência para ter namorado? Eu há muito tempo não tenho. Ou ela encontra namorados ótimos e minha fonte secou? Ou sou uma egoísta que não divide sua vida com ninguém? – Não, só não suporto dividir rotina. Deus me livre.

Meu amigão tenta fazer com que eu finalmente receba o bendito cheque dos EUA, e faz das tripas coração para isso, antes de se mandar pros EUA para a formatura da filha e em meio a tantos outros problemas que tem.

O B. voltou a ligar, no Dia das Mães. Depois de mais de 6 meses. Já nem sei se ainda sou “fascinante” e “sexy” para ele, mas isso não importa (algum dia importou?).

Vejo que engordei um quilo e meio e agora estou com 55 quilos, para 1,64m. Alegríssima, apesar de talvez ter de comprar tudo um número maior, já que minhas calças justas agora não estão mais entrando. Cinqüenta e cinco quilos, meu recorde. Três a mais que meu peso “normal”. Tudo graças às balas de goma que devoro com o objetivo expresso de engordar, mesmo (aí, Alessandra, meu problema é o inverso do teu).

Recebo convite para administrar uma lista de tradutores que vejo como minha segunda casa. Delicioso, lembrarem de mim.

<>Então percebo que toda minha insatisfação comigo mesma vem de um único fato, apenas um, que não aceito e não me sai da cabeça: amarelei, pela primeira vez em 19 anos traduzindo, na frente de um teste de uma agência na qual queria muito entrar. Eu, Dayse Batista, que acabei de passar em um teste para outra agência e recebi de volta um email de “Parabéns por entrar para nossa equipe. Você foi aprovado em um teste considerado muito difícil...”. Eu, Dayse, cujo currículo é a vitrine da minha vida (deve haver algo errado nisso de colocar a profissão como principal vitrine de quem somos, mas não estou analisando, estou só comprovando – por enquanto). Eu amarelei, incapacitada de verter para o inglês coisas como:

Caso a Licitante adjudicada desejar ter as características das fibras ópticas , tipo de instalação dos cabos , tipo de conector no DIO , distância entre sites do mesmo anel , e outras informações relevantes , tipo de fibra bem como atenuação em 1310 nm e 1550 nm , poderão ser solicitadas a YYY ...

Alguém aí tem uma vacina contra a arrogância? Um remédio que alivie essa mania de perfeição (o que não quer dizer que eu seja perfeita, apenas que tento ser)? Uma panacéia contra a infelicidade ao constatar que sou humana?

<>Se hoje eu conseguir me perdoar por ser apenas boa, mas não o máximo, acho que conseguirei ter um dia ótimo (afinal, parou de chover e o sol está começando a aparecer, o que significa que, no mínimo, sairei para comprar um livro e tomarei um café com chantilly e canela).

6.5.05



Um dia descobrirão que esse aí nunca foi um homem real. Eu ia dizer "de verdade", mas não sei se sendo real ele seria um homem de verdade. Tudo indica que seria, mas eu tenho essa teoria de que esse homem aí não pode ser real. É uma conspiração hollywoodiana para tornar as mulheres felizes, amansá-las durante a TPM (ou deixá-las furiosas quando olham para o lado, na cama, e vêem algo totalmente diferente). Esse homem aí é invenção. Ou é um marciano. Claro. Deve ser. De onde já se viu um terráqueo ter esses traços?
Perfeição, teu nome é Brad (se não olhar pros pezinhos dele...).

4.5.05

Pasta de dentes?
Coisa indigesta, coisa nojenta escovar os dentes com uma pasta feita de dentes.
O mesmo que creme de cabelos. Credo. Um creme feito de cabelos.
Prefiro escovar meus dentes com creme dental.
E passar creme para cabelos, feito de qualquer coisa cheirosa.