27.12.06

Diário de uma Mulher Comum

Sabe de uma coisa?
Nem doeu, levar meu original de 298 páginas (senhoras e senhores, ninguém mais pode dizer que escrevi algo com mais de 300 páginas, o que, considerando o primeiro rascunhão de 600 páginas, é uma façanha) até o Correio e enviá-lo por Sedex para aquela editora poderosa cujo editor realmente vai ler minha história, porque garantiu-me que sim.
Vai, sim.
Algum dia vai.
Sei lá quando.
O problema é que, uma vez que o original sai da minha mão, começa a terrível, angustiante e dolorosa expectativa por algo. Qualquer coisa que não seja o silêncio do leitor a quem entrego meu romance com a melhor das intenções, como presente, até, e que jamais se digna a ler sequer um capítulo.
Acho que eu ando metida no meio de gente muito sem tempo ou muito sem mente.
Ou com muita preguiça.
Ou com muito pudor de me mandar fazer outra coisa que não seja escrever.
Mas mandei para alguém cuja profissão obriga a leitura, o que pra mim já é ótimo. Um cantor não quer embalar bailes para surdos. Eu não quero falar para quem não gosta de ler. Mas editores lêem. O que já é algo (sou muito otimista, notaram?)
Três entregas do meu original, anteriormente, me renderam três intenções de publicar. Mas intenção não bota livro nenhum nas livrarias e não passou de intenção, o interesse dessas três editoras por minha história.

Aliás, vocês sabiam que tem muita editora que recusa originais com mais de 120 páginas?

É. Não medem o valor de nada. Só o comprimento. E um cretino me mandou, ano retrasado, escrever algo com no máximo 90 páginas, porque se não pudesse ser contado em 90 páginas, não era bom contar em mais que isso. É claro. Eu poderia ter escrito tudo o que contei em 298 páginas em 20 delas. Seria assim:

"Fulano descobriu-se apaixonado pelo melhor amigo após muitos anos de convivência, mas o amigo acabara de reencontrar a antiga namorada e acabou por se casar com ela, descobrindo depois disso que também não era indiferente ao amigo. Acontece que o amigo bem casado do fulano tornou-se um modelo famoso, até assumiu seus sentimentos, mas então algo muito ruim aconteceu que azedou tudo o que poderia ter sido muito bonito". Dã.

Não acredito em personagens sem alma. E não posso criar a alma de alguém em meia dúzia de linhas. Não gosto de contar historinhas. Gosto de entrar na vida dos personagens e me transferir para o mundo deles. E não consigo criar um mundo em 50 páginas. Defeito meu, não saber escrever contos. Mas eu não crio figurinhas de papel. Crio gente quase real (ou pelo menos parece ser assim, já que mais de uma pessoa me perguntou se o que escrevi era ficção mesmo, porque achavam que essa gente que eu criei existia e caminhava por aí...).

De qualquer forma, mandar às editoras é o que preciso fazer. O resto é conseqüência (dê no que der).

Torçam por mim.

26.12.06

Quem é que ainda tem medo dos meus mísseis de algodão doce?
Chego à conclusão de que sou um bicho que não papa nada, escondidinha sob a cama só pra fazer cócegas nos pés de quem sonha comigo.

5.12.06


Certas pessoas merecem de mim, quando acaba a paciência, um enooooorrrrme
V A C E !!!!!!!!!!*
*vá se catar

4.12.06

Por onde andari?

(um dia pensei que jamais andaria sem ti)

Por onde andaríamos agora,
mesmo teus olhos ainda sendo castanhos,
mesmo que lá já não mores
e eu de novo more aqui?

Por onde andavas, talvez já não mais andes,
Mas ando pensando em ti

Por onde andari?

Decerto, com tantas voltas,
talvez eu passe por ti
e não nos recusemos mais
e eu me esqueça de fingir
que fugi do que senti

Para M.

Ela morde pão e lábios
Engole café e lágrimas
Digere sofrimento
E regurgita o lamento





1.12.06

Mulher elétrica procura companhia divertida, não-vulgar e agradável,
de preferência hetero, para ir a festa de amigo muito amado.
De preferência que tenha carro, já que a festa é perto demais para tomar táxi na volta, longe demais para voltar a pé.
De preferência que também conheça os festeiros
E que consiga fazer amigos com facilidade.
Mulher elétrica, mas bastante reservada nos primeiros quinze minutos de contato,
procura companhia que fale muito nos quinze minutos iniciais e depois se cale e apenas escute.
Que, de preferência, adore a mulher elétrica, observadora e dos mil e um recursos com as palavras, pra não ficar constrangedor para ambos se a festa se prolongar demais.
Mulher elétrica procura homem que não tenha medo de levar choque, para fazer festa com amigos.
(eita desculpinha esfarrapada para ver se desencavo certas pessoas de suas tocas... mas a festa é real, de modo que não estou mentindo, ora!)

5.11.06


"A única coisa infinita é a nossa capacidade para a auto-enganação"

em

http://www.ceticismoaberto.com/ceticismo/skepfaq.htm

Red Alert: a cada dia eu me torno mais cética traduzindo autores místicos.

1.11.06

Meu anão preferido

Steven me manda, da Califórnia, um e-mail, com uma foto.
Steven é meu amigo há... sei lá. Muito tempo. Desde os tempos em que eu precisava usar uma calça preta e justa e contar a ele que me senti sexy, porque na época eu estava perdendo a capacidade de me sentir assim e só ele parecia querer que eu além de parecer, fosse mesmo sexy.
Ultimamente, meu amigo deu pra pensar muito na vida, depois que sua irmã encontrou o namorado inconsciente, de cara pra baixo, deitado no quarto. E já fazia uns 3 dias que o coitado estava assim. Não morreu. Talvez fosse melhor ter morrido. Está totalmente desconectado, vegetando. Então Steven tem pensado no que foi, no que é e no que será.
Ultimamente, ando eu também pensando nessas mesmas coisas.
Parece que meu amigo e eu estamos nos sentindo à beira de algo. Se for pra ser otimista, direi que estamos beirando a maturidade. Se for para ser realista, acho que estamos com medo de ficar velhos. De qualquer forma, andamos pensativos.
Pois hoje ele me mandou seu e-mail terminando de contar a história do pobre do namorado de sua irmã que foi encontrado de cara pra baixo e transformado em um vegetal, depois de um derrame.
E mandou uma foto.
Aí eu me pergunto: que homem que eu conheço seria tão macho ao ponto de se fantasiar de um dos Sete Anões, com barba, calça larga, gorro de bolinha na ponta e nariz de bolinha vermelha?
Que homem eu conheço que, fantasiado de Dunga (ou um dos outros, francamente eu não sei qual), estaria com a boca lá nas orelhas, feliz da vida, sem sentir-se pagando mico, ou rebaixado, ou ridículo?
Steven me faz rir, porque para ele nada é chocante, ou ridículo, ou tolo demais para merecer seu tempo, ou tabu, ou desmerecedor de sua maravilhosa atenção.
Steven tem um filho, um adolescente pouco mais velho que minha própria filha.
É músico, toca jazz, talvez grave um CD, é excelente poeta e tem mente muuuuuito aberta, tanto que sabe que pode se fantasiar de qualquer coisa e continuará sendo um dos homens mais charmosos que já conheci.
Steven só não é perfeito porque preferiu importar uma brasileira e casar com ela nos Estados Unidos que exportar-se para cá e casar comigo.

19.10.06

Uma estranha alergia que começou ontem no pescoço agora me sobe lentamente pelas laterais do rosto.

Será finalmente a vergonha na cara que se manifesta?

O certo é que estou com vergonha da cara empipocada e avermelhada.

Acho que se eu cortar fora minha cabeça que comicha inteira estarei perfeitamente bem.

18.10.06

Espelho I

Prometi a mim mesma não entrar mais no provador da Renner.

Luz branca que parece um raio-x, pode-se ver as veias, artérias, se duvidar até a camada de gordura sob a pele (juro que vi, porque aquilo não era minha pele sempre tão lisinha...), qualquer sarda ínfima, os poros e rugas, ruguinhas e ruguíolas. Até percebi que preciso emagrecer, tendo apenas 56 quilos atualmente.

Só falta aviso na porta:

"O que vires aqui será de tua inteira responsabilidade. Ao entrar, assuma. Ao sair, esqueça. Não nos responsabilizaremos por ilusões somáticas. Nem por sonhos de juventude eterna."

Maldita loja de roupas. Depois ainda esperam vender alguma coisa, se só enfeiam a gente.

Espelho II

Conselho às mulheres que estão envelhecendo (e não querem ou não podem dar um jeito nisso):

Olhem-se no espelho uma única vez de manhã, e somente o tempo necessário.

Depois, esqueçam durante o resto do dia o que viram ali.

Íntimo

Dear B.
Assisti “Lúcia e o Sexo”.
Quisera ser essa que me fizeste pra ti.
Não sendo, assumo ser eu mesma e não me enganar com finais felizes.
Existem lugares que nunca conhecerei.
Bel Air. Beverly Hills. Santa Monica.
Califórnia.
L.A. está para mim como tu estás para a minha vida.
Impossibilidades.
Caro B.
Lucia decepcionou-me com seu final feliz. Teu filme tão recomendado a mim (tantas vezes!, não sei onde achaste que tinha algo a ver comigo – me vês mais lúbrica do que jamais serei, ou já fui, não sei, mas às vezes o mundo não se move pelo sexo, e sim por esperanças) não passa de um joguinho onde é possível emendar as coisas, onde a morte é superada, onde o amor vence.
Amor não vence. Nos vence.
Eu nunca quis ser quem sou.
Sonhei ser sem passado – sou.
Mas sonhei outro futuro – passou.
Sabias que o futuro também passa por nós e se não o capturamos bem ali, naquele momento, caímos naquele buraco?
Mas não voltamos ao meio da história.
Antes, viramos personagens sem trama, deslocados e desfocados.
Dear B.
Já não sonho.
Prefiro seguir em linha reta, ainda que o fim da minha história seja sem graça e bem noir. Ainda que como Greta Garbo eu fume à janela e diga ao vento, e só a ele: “I want to be alooone”.
Dear B,
Depois de “Lúcia e o Sexo” só posso te dizer:
Às vezes a vida não faz sentido. Nenhunzinho.

3.10.06


Traduzo um livro sobre sincronicidade.
Incrivelmente, ponho pra gravar um fillme cuja sinopse nem vejo, apenas o título me fisgou.
Jornada da Alma.
E sincronicamente, o filme conta a história de um amor de Carl Jung.
É como uma vez em que eu conversava com uma amiga e cantarolei uma música antiga que nunca mais havia escutado. Aí ligamos o rádio e lá está a música, começando.
... Depois vem você, T., sem crença em nada.
Tsc, tsc, tsc.

10.9.06

... Havia chovido, quando fui visitar minha mãe e a roseira que deu flor pela primeira vez me chamou a atenção. Fotografei (clique na foto para vê-la em tamanho natural. Vale a pena).

... e quatro horas depois, ela estava assim.

Concluo que é melhor estar com os olhos bem abertos, porque quando não prestamos atenção a vida passa igual. Dali a 24 horas provavelmente a rosa branca estava terminando sua vida. Daqui a 24 horas pretendo estar vivendo a minha, a cada minuto, prestando atenção no meu próprio ciclo, para que também não murche e me vá sem ao menos ser regada, cheirada, acariciada e "colhida" por alguém especial.

12.8.06

Sob inspiração de Ryuichi Sakamoto (The Sheltering Sky Theme)

Desde quando o céu nos protege, se é permeável, se dele nascem raios, descem furacões, enchentes e pedaços de objetos espaciais?
Desde quando o céu nos protege, se acima dele os satélites nos vigiam, nos transmitem, nos emitem, nos paralisam e nos tornam dependentes?
Desde quando é este o céu que nos ensinaram a almejar, se além das nuvens o que estão são os olhares de milhões de sonhadores, zilhões de astros, uma ou outra astronave primitiva aos olhinhos sem escleras dos ETs, galáxias distantes às quais nunca chegaremos e buracos negros que sugam pedaços inteiros do universo enquanto olhamos a lua?
Estranhamente, "The Sheltering Sky", mesmo no filme, não protegia ninguém de nada. Na vastidão dos desertos marroquinos, o céu não apenas não protegia, mas desorientava, e o John Malcovitch morria de sei-lá-o-quê, enquanto a Debra-sortuda-Winger se perdia no planeta levada por um Tuareg e, depois, já sem identidade, via-se como eu desejaria ser um dia, um ser, só um ser, sem passado, nem presente, nem futuro, oca e louca.
Desde quando o céu protege, se nem nossas preces dirigidas a quem lá deveria estar são ouvidas?
Desconfio que o céu-firmamento, céu cinzento, céu pasmacento, foi feito apenas para dividir os mundos. O de cá e o de lá. Desconfio, além disso, que o céu protege sim – mas a eles, do lado de lá, de nós, tão pequenos e mesquinhos, do lado de cá.

22.7.06



Algumas pessoas fazem da vida pista de decolagem.

Outras, estacionamento.

18.7.06

Wouldn't it be nice, wouldn't it be grand, wouldn't it be wonderful

if someone had just invented a people polisher?*

*Não seria legal, não seria genial, não seria maravilhoso

Se alguém tivesse acabado de inventar um polidor de pessoas?

16.7.06


Um dia, alguém que era somente um rosto mostra-se para ti. O rosto adquire um coração. Agora, vês o homem e te sentes privilegiada por perceberes sentimentos por ti. Por ti.
Um dia o rosto que tinha apenas um nome agora tem três. O primeiro e, depois, meu amor. Já não é o fulano. É ele e ele é especial.
O que era um corpo agora assume em tua mente uma dimensão toda especial.
Não são os poros. Não é a barba. Não são simplesmente olhos.
São os poros suados depois do amor, que imaginas.
É a barba pela manhã, roçando em ti.
É o olhar de carinho, de compreensão, de prazer por estar contigo. E só contigo.
Uma pessoa não é somente alguém, mais um, um ser humano, quando te apaixonas. Uma pessoa é o receptáculo dos teus anseios, teu pequeno paraíso, aquele para quem desejas voltar no fim do dia, aquele para quem corres para contar uma novidade, aquele sem cujo beijo não dormes.
Apaixonar-se é lançar-se precipício abaixo. É transformar-se em instrumento musical, no qual todas as notas são altas, vibrantes e agudas.
É deixar-se assustar pela fragilidade e medo constantes, pelo arrepio de susto com qualquer palavrinha atravessada, qualquer tom mal-humorado, qualquer humor azedo.
Um dia, descobres que fizeste da paixão um tapete mágico -- que o teceste meio às pressas, na ânsia de voar. Fizeste das tuas mãos asas e do teu peito abrigo.
Subitamente, teu tapete se esfiapa, tuas asas quebram, teu peito arde em chamas e já não é abrigo – antes, o inferno onde tua alma pode consumir-se.
Desapaixonar-se é escalar o precipício de volta, enrolar novamente os fios do tapete roto, colocar cadeados nas portas de tuas emoções, jogar água fria constantemente na alma para aplacar o braseiro que queima ali, andar de pés nus sobre cacos de vidro para aprender o que é dor.
O rosto que te fazia suspirar precisa tornar-se menos que um rosto. De preferência, algo que se perdeu numa amnésia.
E o corpo...
Ah, o corpo...
Esse, preferivelmente, precisa transformar-se em cadáver-lembrança, enterrado fundo para que não te assombre mais enquanto esperas o sono.

O instrumento do corpo torna-se desafinado e emite notas ásperas quando já ninguém o afina.
E tentas, ainda assim, construir uma ponte, qualquer ponte que te leve de volta ao teu amor, sabendo agora que todas as pontes se partem com o peso que trazes em ti.

14.7.06


Para alimentar sua alma, era necessário mais que o pão e o colo quente, o som e a mesmice do presente. Era preciso uma fada sem corpo, feita de sonhos lânguidos e esperanças secretas, de faíscas que o desfizessem, homem-chão e o pusessem homem-ar.
Para descrever-se, usou as palavras dela. Para classificá-la, desclassificou-se (ex-tudo, ele agora seria. Futuro-qualquer-coisa-que-a-atendesse).
Ela dispensava adjetivos. Não os queria. Temia. Criticava-se quando atirava-se nas noites perfeitas do delírio sem jeito que partilhavam. Mas o absorvia, o refazia e reinventava, baixava suas guardas e o erguia.
Ao longe, a Razão abalava-se e se escondia, vexada e violentada.
Ele a consumiu.
Ela permitiu.
Ele, recheado de espírito, sonhos e grandes esperanças, suspirou e foi dormir com o corpo conhecido, sem culpa.
Ela, cuja essência rarefeita se refaz quanto mais lhe é tirada, apagou a luz e disse adeus a mais um imperfeito vampiro.
Nos horizontes, o sol nascia -- e tanto ele quanto ela, sob o sol da manhã, bem alimentados e recuperados da embriaguez, diriam que à noite tudo é válido.
Até tentar ser feliz.

8.7.06

Da Série "Tarada por Ballack"


Prezados,
prometo que esta é a última foto do Ballack, nos próximos 4 anos... :-(. Espero que o Canal SporTV passe os jogos do Chelsea, para onde ele está indo... Quatro anos sem ver esse gigante caído dos céus é demais.

4.7.06

O Eleito


O que esse Ballack tem de bonito?
O formato do rosto. Os ANTEBRAÇOS (Deus, eu amo antebraços exatamente como os dele...), as pernas. O abdômen. Os olhos. A testa. O queixo. Os cabelos. A cara de homem.
Uuuuuuuuuh, Ballack. Não ouvi tua voz ainda, e nem precisa porque jogador em geral tem voz feia.
Deixa assim, que calado ficas mais perfeito :-)

2.7.06



Que Pânico com P maiúsculo.

Procuro e não acho os lamentos do índio. As crianças que brincavam e cantavam foram embora. Os gemidos mais sensuais do mundo calaram-se. Os cavalos relinchando ao longe foram roubados. A voz angelical ficou muda.

Procuro e não acho A Gravidade do Amor. Os Princípios da Paixão. A Neve no Saara. As Lágrimas de Cristal. Aquela flauta fascinante. A batida surda e envolvente.

CADÊ MEU CD DO ENIGMA!!!!

Deus do Céu, roubaram meu CD de MP3 do Enigma, e só sei criar minhas ficções ao som dele (bem se vê que fazia tempo que eu não criava, porque não tenho a mínima idéia de quando o Enigma me foi subtraído).

Por um instante, parece que eu mesma sumi -- não sou mais eu, dispersei-me em mil fragmentinhos e não me reconheço. Quem foi o f.d.p. que roubou meu Enigma...

Passo horas recuperando tudinho. Nunca mais será a mesma coisa, porque a seqüência das músicas mudou e quando eu viajar com o Enigma, alguma coisa terá mudado.

Então, descubro que as portas para o delírio de cara limpa (ou não, dependendo do ouvinte) ainda estão abertas -- mais que nunca!, porque os caras sabem que não se faz música, neste mundo, como a deles.

http://www.enigmamusic.com/enigmaradio/index.html

Ganhei meu presente do ano inteiro.

19.6.06

Diário de Uma Mulher Comum IX

Não lembro quem, mas alguém havia me dito que eu deveria assistir "Sideways".
Assisti hoje, no meio de cinco dias de marasmo - grana curta, mas a receber semana que vem, sem projetos de tradução (folga, graças a Deus!), sem problemas e sem prazeres.
As falas do personagem Miles são as minhas falas. As falas do amigo Jack são todos os meus amigos que apostavam em mim. As falas de sua agente literária são as mesmas das três editoras que se interessaram por meu "Voltar a Viver", mas não o publicaram.
Não sei se, ao final, Miles voltará a tentar publicar seu livro, já que ele diz (como eu já disse): "Terei de esquecer meu livro por mais três anos".
Os amigos que me davam força e me empurravam à frente com minha história de ficção andam sumidos.
Alguns são indiferentes.
Outro (um só, graças a Deus) odiou tanto minha história que não se pronunciou sobre ela até hoje, limitando-se a dizer que a odiou e que nunca falará comigo sobre minha "obra".
Sinto falta desse apoio apaixonado de amigos e, confesso, o ódio do meu amigo a quem amo por minha história de ficção levou-me a considerar minha criação uma idiotice em último grau.
Agora percebo que se eu pensar que escrevi algo idiota, estarei chamando de idiotas meus 18 leitores que adoraram a história e leram o rascunhão gigantesco do original, na primeiríssima vez em que o escrevi.
Se eu pensar que escrevi algo idiota, estarei dizendo que o copydesk daquela editora que não ousou publicar meu livro era um idiota (e nada está mais longe da verdade do que considerá-lo idiota). Se for assim, a editora era idiota; não era, nunca foi, tanto não foi que não publicou meu livrão por medo de afundar com ele.
Well.
O sensaborismo (desculpem, insipidez, ou algo que o valha, mas sensaborismo é uma palavra só minha, como desentendisentimento e outras) que me rondava nos últimos meses está começando a se dissipar, e não pela descoberta de um amor novo (sinceramente, não consigo amar e pronto, ponto final). Eu não quero um amor, não sinto saudade de nada, não anseio por grandes aventuras, não tenho ambições grandiosas.
Só quero sentir-me viva criando e tentando publicar.

Desta vez, pretendo não ir à falência, como ocorreu durante aquele período mágico de 2 anos em que vivi esse sonho de ser publicada.

Só pretendo não morrer de tédio, que é como me sinto desde que, sugestionável, achei que eu só podia ser idiota, por pretender ser escritora. Há muitos escritores mais idiotas que eu por aí.

...

Ai.

Acabei de perceber que talvez eu "precise" ser idiota para ser publicada. Que talvez os idiotas façam sucesso atualmente.

Bem, então aí acaba meu dilema. Se me publicarem, poderei pensar que sou boa ou que sou uma idiota.

De qualquer modo, serei feliz com qualquer das opções.

Quem não costuma escrever ficção talvez não entenda a dor de não criar. O bloqueio. A decepção quando o que escrevemos não dá frutos. Quem não costuma escrever ficção não entende, principalmente, esse enorme, imenso, negro, doloroso buraco em que se transforma a vida de um escritor que não escreve.

Vou dar minha cara a tapa.

Aguardem.

4.6.06

Da Série Abobrinhas Podres

A Pressa é inimiga da digestão


Quem vê cara não vê o cirurgião

2.6.06

Someone to watch over me (Alguém para cuidar de Mim)

Momento romântico. Hmmmm....
(depois de um dia como o de hoje, só consigo pensar nisso, em alguém para cuidar de mim, embora na maior parte do tempo eu brade aos quatro ventos quão independente eu sou - hahaha. Essa letra aí embaixo tem endereço certo... ou não.)

There’s a saying old, says that love is blind
Still we’re often told, "seek and ye shall find"
So I’m going to seek a certain lad I’ve had in mind
Looking everywhere, haven’t found him yet
He’s the big affair I cannot forget
Only man I ever think of with regret
I’d like to add his initial to my monogram
Tell me, where is the shepherd for this lost lamb?
There’s a somebody I’m longin’ to see
I hope that he, turns out to be
Someone who’ll watch over me
I’m a little lamb who’s lost in the wood
I know I could, always be good
To one who’ll watch over me
Although he may not be the man some
Girls think of as handsome
To my heart he carries the key
Won’t you tell him please to put on some speed
Follow my lead, oh, how I need
Someone to watch over me

... isto é Brasil.

Dia 23.
A empresa de transporte "escolar" que contratei para levar minha filha ao curso preparatório para os exames de ingresso no Colégio Militar me liga, dizendo que só fará o transporte até sexta, dia 26. "Não há número suficiente de alunos para justificar a continuação do serviço".
Digo-lhes que isso não consta do contrato e que, se assinei promissórias até outubro, a obrigação da empresa é cumprir sua obrigação até outubro, independente do número de alunos, já que o transporte de minha filha não era contingente de um certo número mínimo de alunos dentro dos carros (múltiplos, a cada dia um, a cada dia em um horário, com um motorista diferente a cada vez e, muitas vezes, vindo só depois que eu ligava lembrando-os de buscar a Letícia). Digo-lhes que preciso do reembolso dos dias não usados e pagos antecipadamente (120 reais).

Do outro lado, ouço um pffff de alguém que parece tratar com um zé povinho numa filha de Inamps. Digo isso não porque o zé povinho mereça menos do que o máximo da boa educação, mas porque neste país feito de zé povinhos, todos se tratam com o maior desrespeito possível, não o contrário.

Dia 23. O técnico da Sky (TV por satélite) finalmente aparece para verificar (mais uma vez, pelos meus cálculos a oitava) meu aparelho de Sky+ que desde o primeiro mês já deu problemas. Explico que a m* não grava a programação, não faz a famosa pausa na programação ao vivo, tão anunciada por eles, não reproduz o que aparentemente estava gravado antes, se perde e tira do ar os canais...
Milagrosamente, o técnico (que morou anos nos EUA e aprendeu um pouco de profissionalismo) me diz que nesses casos o aparelho não é consertado (está expirando a garantia, mas ainda é válida), mas substituído. Eu duvido, mas como sua informação bate com a informação dada pela própria Sky em seu medonho-mas-melhorando atendimento ao cliente, resolvo dar um crédito.
Ele liga para a Sky que lhe diz que sua empresa de assistência é que deve requisitar o aparelho novo (claro, ele também é zé povinho, um simples técnico - não importa se a supervisora está apenas um décimo de grau acima dele na hierarquia de zé-povão a doutor).

... Lembro que moro no Brasil.

Dia 24.
Minha filha diz que, em sua sua de aula da escola, outras meninas escrevem no quadro negro da turma de 5a. série: "Fulano comeu o cu de...". Pergunto se as meninas não foram suspensas. Minha filha me olha, muito surpresa, e diz: "Claro que não, mãe, porque a professora entra, vê e não faz nada".

Faço eu, mas isso é assunto pra outra hora. E aí lembro que moro no Brasil.

Dia 24.
Ligo para a tal empresa de transportes, o mesmo "secretário" me diz que preciso falar diretamente com a responsável pela empresa, que não está "no momento". Eu digo "E tu então deves ser o irresponsavel pela empresa...". Ele promete que ela ligará assim que chegar. Eu só digo "arrã". Desligo.

Lembro que moro no Brasil só hoje, porque, acreditem ou não, não tive TEMPO de ligar para a fulana novamente, e se inventasse de falar com ela no meio do estresse em que andei nos últimos dias, teria ido até lá e não seria bonito o espetáculo. Não que eu seja grossa. Mas não gostariam de ouvir o que tenho a dizer.

Dia primeiro, ontem.
Quando ligo para a Sky para saber do andamento da entrega do meu Sky+ novo, me dizem que a empresa de assistência ainda não mandou o laudo. Pergunto-lhes quantas folhas tem um laudo. Uma. Digo-lhes que pensei que fosse um livro, para levarem uma semana para enviar. Mas não receberam nem o laudo, nem a solicitação pelo novo aparelho. Eu que ligue, se quiser, para a assistência para saber a quantas andam.

Eu ligo hoje, dia 2, esquecendo que moro no Brasil, e só lembro quando descubro que a irresponsável pela empresa também "não se encontra". Suspiro. Peço que me ligue urgentemente.

Estou esperando, depois de ligar novamente para o curso e ouvir do rapaz "gentil" de lá: "Até sei quem a senhora é. É a mãe da Suzi.".

"Errou. A mãe da Suzi certamente também está furiosa, mas não sou ela."

"Ah, tá. A Alexandra liga pra senhora quando voltar, porque no momento não se encontra."

"Não liga não, porque tu nem sabes com quem estás falando."

"Eu sei, senhora. Temos o cadastro."

"Arrã. E mesmo com apenas dois cadastros das duas únicas alunas que vocês transportavam, tu não lembras da Letícia."

"Ah, eu vejo na ficha e Alexandre lhe liga."

Eu lhe digo que, se fosse a Alexandra, ligaria rapidinho, porque não será legal me ver pessoalmente lá.

Lembro que moro no Brasil, desligo e resolvo trabalhar um pouco, porque só quando cumpro o meu dever, quando me preocupo com minha qualidade e meus prazos, esqueço-me que moro no Brasil. Só quando não ligo a TV aberta, não preciso de serviços e não saio à rua eu me esqueço que moro no Brasil.

Desculpem o desabafo, mas a verdade é que falta tudo neste país: vergonha, dignidade, competência, honestidade, honra, cumprimento de metas, de horários, de promessas. Falta educação, cérebro, cultura, respeito, cidadania e, novamente, dignidade. Dignidade. Dignidade.

Repitam isso até a palavra perder o sentido.....................................

31.5.06


Um Corpo para o Crime é um dos meus outros filhos recentes. Recebi o exemplar da editora semana passada. Lançamento da Bertrand, deu-me um trabalho impressionante de pesquisas profundas ao traduzi-lo, ano passado. Recém foi lançado e eu recomendo. Uma história de suspense incrível dessa escritora ganhadora de prêmios (Val McDermid). Procurem nas boas livrarias...
É com orgulho que apresento um dos meus filhos mais novos, traduzido para essa parceria da Editora Casa da Palavra - http://www.casadapalavra.com.br/ - e o Comitê Olímpico Brasileiro.

Alguns livros que traduzo me enchem de orgulho. Esse é um deles.

É meu livro número 91 (91 livros traduzidos, no meu currículo).


25.5.06

Ando tão sem criatividade que nem consigo responder para mim mesma por que ando tão sem criatividade.

Talvez eu precisasse sofrer, para ter inspiração.
Talvez precisasse me apaixonar.
Talvez passar fome para entrar em transe.
Talvez precisasse chorar.

Não sofro. Não amo. Não passo fome. Faz tempo que não choro.

Ter uma vida satisfatória não me satisfaz.

22.5.06

Ainda se fazem companheiros?


7.5.06

Twisted

Sacana não é o cara que nunca foi teu homem, que foi apenas amigo mas agora não te vê mais porque tem alguém e pretende não dar motivos pra brigas com a mulher que ama (nem que seja apenas o amor do mês). Esse é um cara bem-intencionado e, embora magoe, é compreensível, até elogiável (Deus que me perdoe, nunca pensei que diria isso).
Sacana é o cara que foi teu um dia, casou com outra, tornou-se teu amigo e agora te convida pra jantar, quando sabes bem que a intenção dele é jantar-te.
Tola é a mulher que leva a mal o amigo bem-intencionado e acredita nas intenções do cara que, podendo ter casado com ela um dia, preferiu outra mas não se cansa de tentar com aquela com quem "não estava bem certo se era o momento, antes".
Acorda, mulherada.
Quando um homem te ama, ele diz.
Quando um cara te quer, ele fala.
Só uma tola acha que o homem não diz que a ama "porque ele não fala muito, mesmo".
Muitas vezes, quando não diz é porque não tem o que dizer sobre o assunto. Se quisesse, falava. Se não falasse, mostraria. Se não suportasse tua falta, te procuraria. Faria o impossível.

Um dia vou dar nome aos bois. E eles vão mugir taaaaaaaaantooo............ Vou começar com o A., passar pelo H. e terminar antes do fim do alfabeto só porque não conheço nenhum Zeno ou coisa parecida.

P.S. - Amigos, continuem sendo fiéis às suas mulheres. Eu continuo amiga e tiro o chapéu pra vocês. Sacanas, a otária aqui acordou faz tempo.


Pra quem ama ska e adora músicas divertidas, como eu, o PIETASTERS é um prato cheio. O forte dos caras é ska, com muita competência, mas eles atacam de rock (do bom) e de reggae também.

DELICIOSO.

Experimentem provar os "Degustadores de Torta".

28.4.06

U.N. Report: Tehran Defiant

Next war, please one step ahead...

26.4.06

Mais ou menos o que eu disse à minha filha (e funcionou)

* Tradução: "A poeira é feita de maus pensamentos e palavras feias, e de agora em diante você precisa apenas fazer coisas boas, porque sua mãe já cansou de passar o aspirador".

Não é uma gracinha? :-)

24.4.06

Seria tão mais fácil acreditar que só a matéria existe...
Entretanto, estou "velha" demais, experiente demais e antenada demais no etéreo para fingir que não me importo com nada além do corpo e das coisas.
Seria tão mais fácil viver apenas um dia após o outro...
Entretanto, é quase impossível abandonar a mania de viver no futuro sempre achando que o momento de agora já é o passado e que mesmo este futuro passa depressa demais.
Tudo tão breve nesta vida...
E sendo tão breve, ainda precisamos nos preocupar com o fato (possibilidade?) de a vida não ser só isso.
Queria por um instante baixar minhas antenas e mudar os meus canais.
Ser só matéria.
Ou uma formiguinha ignorante, pequena e limitada.
Entretanto, como elas, vejo-me limitada a seguir minhas trilhas.
Só queria trilhas mais claras.
Às vezes.

5.4.06


Quatorze anos atrás, foste embora.
Domingo, chovia.
Teu capacete não te deixou ver a carroça na escuridão, sob a chuva fina.
Até hoje não sabemos que carro te encontrou no meio da pista, quando caíste da moto ao te desviares da carroça (não quisemos saber - o motorista não teve culpa).
Quatorze anos atrás passei o domingo contigo. Isso nunca acontecera, tu e eu em um domingo inteiro juntos. Eram raras as oportunidades de estarmos juntos e durante anos, discutíamos brigávamos, nesses encontros em família.
Agora, porém, era a fase em que nos tornávamos realmente amigos. Irmãos de alma e carne, tão semelhantes nas crenças, nos valores, nas decepções, nas esperanças, nos medos. Meses antes, quando começaram os pesadelos dos quais eu despertava chorando, começamos a admitir nosso amor um pelo outro (se de longe só falavas bem de mim para teus conhecidos, de perto só discordávamos -- mas então, quatro ou cinco meses antes daquele domingo, algo mudou e vimos um ao outro como sempre deveríamos ter visto, com amor raro e precioso.)
Naquele dia, rumo ao cinema, te olhei diferente.
Perguntaste "O que estás olhando, bruxa?" (eu sorri -- desde a infância eu era a "bruxa", para ti, e sabia que isso tinha muito de carinho)
Perguntaste mais duas vezes, na volta do cinema ("O Príncipe das Marés", tua escolha - peguei horror desse filme). Na última, respondi, com ternura: "Não posso te olhar?". Te amava mais, naquele momento e, então, não sabia o porquê.
Não me despedi de ti da forma habitual. Em vez de olhar até entrares no elevador; em vez de correr à sacada para te ver subindo na moto, onze andares abaixo; em vez de sentir o coração partido ao te ver ir embora... Em vez disso apenas te disse "tchau" depois do beijinho no rosto. Fechei a porta.
Te encontrei novamente quatro horas depois, mas já não viste.
Quando ligaram dizendo que havias sofrido um acidente, ainda chovia. E eu sabia que havia te perdido.
Não tive pressa em ir ao teu encontro.
Não havia mais pressa.
Nossa mãe não se lembra daquele dia (a dor inimaginável apagou a memória).
Lembro de todos os segundos.
Lembro que fui te encontrar, solitário e deitado, apenas um tênue fiozinho de sangue no cantinho de uma das unhas. Inteirinho.
E não estavas mais ali.
Nunca me perguntei por que me ofereci para fazer o que só havia visto em filmes: ir te ver, te reconhecer, saber se era tu mesmo, irmão, parado ali e incrivelmente seco com tuas roupas, embora tudo tivesse ocorrido na chuva. Nunca entendi isso. Um erro de continuidade, nesse filme maluco que pensamos ser realidade?
Partiste naquele dia e a partir dali nunca mais tive a ilusão de eternidade. Nunca mais tive os pesadelos dos quais acordava chorando quase todas as noites. Agora eu sabia por que alguém me avisava, e qual era o aviso, por que alguém me preparava e por que a mim.
Sabes que te amei. Sabes que és padrinho de minha filha, aí onde estás, ainda que não a tenhas conhecido.
Sabes que nunca, nunca, nunca te esquecemos.
E sabemos que estás bem.
Sempre dói, irmão, como se fosse ontem.
Sempre doerá.
E ao mesmo tempo, meu lindo, valente, querido, honesto, forte e amado Edinho, somos felizes porque estiveste conosco.
Tua irmã bruxa um dia contará aos outros como também sabias que era tua hora (eu sabia, mas não reconheci naquele instante).
Mas ainda não há coragem para isso.
Fica com Deus, com o pai, com nossa vó tão exótica e com teus amigos que já partiram.
Um dia nos vemos.

4.4.06

CONFUSÃO "EMESSENISTA"

Tenho 82 contatos no MSN.
Quatro Anas, Três Vivis, dois Luíses, dois Daniéis e achava que havia um Sid, apenas.
O MSN é assim: temos uma fileira de gente ali, que entra, sai, às vezes nos bloqueia, às vezes desinstala o programa e nos inclui novamente, às vezes sai do ar durante muito tempo... Sou gente boa, e em geral primeiro permito o acesso pra depois ver se conheço ou não. Se não conheço, fatalmente bloqueio pra sempre (a não ser que seja um caso excepcional de um homem extremamente inteligente, interessantíssimo, boa-pinta, livre e desimpedido e que more perto de mim -- o que, francamente, não existe e se existir não vai me querer, dãh.).
Então:
Ontem à noite entra o Sid online jogando uma piadinha sobre um novo "fã" que me caiu do céu (do céu? really...).
Respondo no tom bem-humorado que sempre uso com ele.
Então pergunto de quem é aquela foto. Quem é aquele na foto.
"Sou eu", responde.
Acho que está de brincadeira. O Sid é mais gordo, mais moreno, também usa óculos mas tem cabelos pretos e curtos. Ele se ofende, inventa uma desculpa e me deixa pendurada.
Hoje, encafifada a mais não poder (detesto ofender as pessoas involuntariamente -- quando o faço, é por querer mesmo), resolvo dar uma revisada na minha lista de contatos.
E lá descubro um segundo Sid. Que é esse com quem falei ontem. Que não é o primeiro Sid. Que não poderia ter a cara do Sid porque não é o Sid, mas sim o Sid.
Entendem?
Nunca falei antes com este Sid.
Ou falei, achando que era o Sid.
Ufa.
Mando email pedindo desculpas. Explico -- e acho que pareço uma idiota, com minha explicação.
Exceto por um tal "Daniel Dourado" que me adicionou ontem e não deu uma palavra comigo ainda, mesmo quando perguntei quem era, achei que eu sabia quem estava na minha lista.
Não sei.

Pessoal, seguinte, de uma vez por todas deixa eu esclarecer esta minha aparente personalidade anti-social no MSN.

Sou uma pessoa ocupada. Ocupadíssima. Ocupadérrima.
Sou tagarela. Bem-humorada. A-do-ro falar abobrinhas e adoro gente.
Só que uso o MSN basicamente para trabalho. Praticamente só pra isso.
Vivo pedindo que tratem apenas assuntos de trabalho pelo MSN, porque se não for assim, não dou conta de responder mensagens pessoais, trocar umas idéias, realmente conversar com amigos, traduzir, ler emails, responder, consultar Google, postar no Blog...
Existe vida fora da Internet, e ultimamente tenho procurado racionalizar meu tempo online.
Então, assim:
Meu endereço de MSN é daysebat@hotmail.com. Pat e quem mais quiser, me adicione porque vou gostar muito, muito mesmo, mas entendam que apesar de AMAR um bom papo, já digito durante umas oito horas por dia. Não tenho muita paciência para ficar digitando em bate-papo. Então prefiro, de vez em quando, dar apenas um "oi" rapidinho pelo MSN, esperando que os amigos compreendam, perdoem e saibam que ainda os amo, apesar da falta de tempo e de energia pra conversar com todo mundo. Mensagens pessoais breves? Tudo bem.
Longos papos?
Mandem e-mail (que leio quando tenho tempo).
E ponham seus e-mails nos comentários aos posts (viste, Lúcia do Letras & Cia?), porque de outro modo não tenho como responder.
É isso.
Se eu confundir alguém, perdoem.
A vida não tá mole não. Mas é assim que eu gosto.
Beijos ae todos, mesmo que não sejam quem eu pensei que era, ou até por causa disso, tá?

3.4.06


Então essa mulher queria ser maga.
Criou um sigilo, pôs nele seus desejos com cuidado.
Memorizou bem a prática:

criar, entrar em transe, gravar no inconsciente
(deveria depois esquecer o símbolo mágico

– rezava o mandamento da bruxaria)
Ao saltar concretizou sua vontade.
Pendurada no fio que desce do lustre, jaz a maga.
Esqueceu o que havia mandado para o inconsciente

(não apenas o sigilo, mas esqueceu-se de tudo, para sempre).
Morreu encantada, ao menos.

2.3.06

Tempos atrás criei uma palavra.

Desentendissentimento

Isso acontece quando a gente tem um desentendimento do sentimento.
Acontece.
A gente às vezes tem desentendimentos. Com pessoas às quais somos indiferentes, ou até com gente de quem gostamos, mas o desentendimento não envolve sentimento.
O desentendissentimento ocorre quando nossa visão do afeto do outro estava errada o tempo todo, e então discutimos, ou nos desiludimos, ou nos desentendemos porque é impossível conciliar, reconciliar, refazer as ilusões, reformular opções.

Eu não quero mais ter desentendissentimentos. Mas é impossível.
Seres humanos se enganam, se iludem, fantasiam, idealizam, amam.

Talvez, eu possa criar um desilusório sentifirmamento. Um céu de sentimentos e emoções onde não caiba ilusões. Um amor realista. De olhos abertos.

Quem sabe?

Um outro modo de amar é possível.

24.2.06

Para ti, Vivi

Não gostamos de ser larvas. Queremos ser borboletas.
Somos feios um dia,
Vemos o mundo à volta,
Espiamos para fora do casulo,
E temos medo.
Mãos brutas podem tentar nos despedaçar,
Olhos insensíveis não nos percebem,
Seres rudes nos rotulam.
Um dia, nós, larvinhas, andamos zanzando nos muros,
Buscando folhinhas, lambendo gotinhas, rastejando na graminha,
E sentimos rancor vendo borboletas belas nos reflexos das janelas
Até que descobrimos, finalmente, que somos nós as borboletas,
Que basta abrir as asas e partir.
Basta alcançar os céus e viver (ainda que brevemente).
Um dia, tu, larvinha, eras minha.
Borboletaste.
Te afastaste.
E eu fiquei aqui, com toda a grama, todas as árvores, todos os muros, todos os galhos, todas as mãos, todos os ventos fortes aprisionados na intenção de te proteger,
Sem saber que querias descobrir tuas asas.
Descobrir outras casas.
Voar
Bater asas e fugir.
(P.S. - Chorei com teu último comentário e parte do rancor por teres voado começou a sumir. Começou.)

22.2.06

Diário de Uma Mulher Comum VIII


“Necessário, somente o necessário,
O extraordinário é demais.
Eu digo, o necessário,
Somente o necessário,
Por isso é que essa vida eu vivo em paz”.

(versão da musiquinha “Bare Necessities” do filme “Mogli”)


Acordo descansada, finalmente, depois de uma maratona de quase um mês trabalhando mais que em toda a minha vida. Nas duas últimas noites eu havia dormido em média 3 horas por noite e, então, esta noite consegui 6 horas de sono profundo, o que é o suficiente para me fazer sentir humana de novo.
Certas coisas viram luxo para um tradutor, seguidamente: banho demorado, refeição sem pressa, cama para dormir decentemente, calorzinho, ver TV, conversar, sair à rua. E ainda tem quem se ofenda quando boto “ocupada, ocupadíssima” no MSN para evitar conversas.
Mas tudo isso compensa. A gente aprende a valorizar pequeníssimas coisas (tipo: levantar para passar um café).
E compensa porque é isso o que se ama. É para pesquisar que nasci. Para aprender. Para produzir. Para traduzir. E para ganhar razoavelmente bem (muito bem, segundo alguns parâmetros, ou nem tanto, segundo outros).
Traduzir é vocação, é aventura. Não há rotina, nem programação, não há como prever o que se fará daqui a dois dias, às vezes nem daqui a duas horas, e é preciso gostar muito de entrar num estado alterado da consciência sem droga nenhuma, apenas adrenalina, que faz com que nem pisquemos na frente da tela e com que, diante da concentração fenomenal, as horas voem.
Dormi como um ser humano normal de ontem para hoje e, ao acordar, percebi que apesar do sofrimento, esse “osso” do meu ofício é exatamente o que eu gosto de roer.
Traduzir não é para os moles de espírito e de corpo. Não é para preguiçosos e desinteressados, nem para aqueles que têm horários fixos. Apesar de não haver programação na vida do tradutor, ele precisa de uma disciplina que poucos têm. Precisa da força espiritual para saber que seu lugar, naquele instante, não é no cinema, não é no show do U2, não é no parque, nem na praia. Para saber que nosso trabalho é útil, que rende frutos (se bem que não o reconhecimento público, já que somos invisíveis para a maioria das pessoas, que sequer percebem que durante o dia inteirinho topam com nosso trabalho em tudo, do instante em que abastecem seus carros até o momento em que ligam a TV à noite para assistir ao noticiário ou a séries americanas).
Traduzir, por incrível que pareça, é um trabalho “braçal” – que o digam meus braços trêmulos, minhas mãos doloridas, pernas e pés de chumbo após tantas horas sentada. Felizmente, não tenho problemas de coluna.
Minha mãe me liga, 8 da noite, com “peninha” de mim. Eu rio, porque se o corpo mal se sustenta de pé, o espírito vai bem, muito obrigada. Nada como encher a mente só com Jogos Olímpicos e a história de seu marketing bem sucedido para esquecer outros incômodos da vida. Digo-lhe que o cansaço é só físico, porque traduzir acende a mente, não cansa. É um trabalho cerebral que vicia.
Algumas pessoas fazem da profissão sua vida. Outras fazem da profissão apenas “trabalho”. Eu tenho profissão, trabalho e vida, tudo junto, com a tradução, e sem ela não encontro minha identidade.
A pressão de traduzir faz com que nos descubramos, sempre, por revelar que somos muito mais fortes do que pensamos, mais resistentes, persistentes, perfecionistas. E quem me vê durante tantas horas quase imóvel olhando para o computador e batucando no teclado nem imagina quantas “viagens” eu fiz, nesse tempo todo: à Antigüidade, a Argos e Olímpia, a países como Grécia, Canadá, Estados Unidos e Japão, aos estádios brilhando de novos a cada edição dos Jogos Olímpicos (atenção: olimpíadas é o período **entre** os Jogos, é um erro chamar os Jogos Olímpicos de “Olimpíadas”, aprendam isso de uma vez por todas), a salas de reunião na Suíça, a mundos que normalmente não procuramos.
Estranhamente, a letra da musiquinha adorável, lá em cima, e a personalidade do Balu, o urso comodista e bon vivant do Mogli, têm tudo a ver comigo, que de comodista e bon vivant não tenho nada. Não invejo o Balu. Talvez ele não dê valor às bare necessities tanto quanto pensa, por falta do contraste, que é o trabalho duro e o esforço brutal para cumprir prazos. Entretanto, sou grata a ele por me mostrar que, depois de tanto esforço, quando o dinheirinho começa a entrar, só o que me importa são as bare necessities, somente as necessidades básicas, e tudo o que me atrai é um momento ao sol, uma risada e um abraço – o que o dinheiro pode comprar passa a ser muitíssimo secundário. Cama, comida, roupa limpa, afeto. Necessidades básicas. Bare Necessities.
A tradução sempre nos leva a novos caminhos. E a descobertas sobre nós mesmos.
Primeiro, a gente pensa que está se matando de trabalhar por causa da grana. Depois descobre que não, como provei a mim mesma ao ajudar uma amiga na primeira parte dessa maratona de um mês de dias longuíssimos na frente de um micro, com uma tradução que se pagava nada ou a miséria que ela receberia, dava quase no mesmo.
Não é pela grana.
Não é por fama (essa não existe para o tradutor, exceto entre seus pares, o que para mim não é grande coisa, mas já ajuda).
Não é por nada, exceto vocação e amor por produzir algo que permaneça.
Mesmo que passemos uma semana sem sair do escritório.

Há quem goste. Juro.


P.S. -- E nesse meio-tempo, de ontem para hoje, ganhei: dois "Eu te Amo" (de alguém cujo "eu te amo" pós-caso de amor que não deu em nada representa muitíssimo mais do que aquele "eu te amo" que ele poderia ter dito quando tentávamos ter um romance, e do meu irmão, que sempre foi todo emoção e suas emoções atualmente têm sido límpidas e belas) e um "meu amor" (meu Guri faz aniversário e eu é que me sinto presenteada com suas palavras ternas) que parecem vir do nada, mas refrescam o coração. As pessoas costumam ser gentis e demonstrar que gostam da gente, mas fazia tempo que eu não ouvia essas palavrinhas, e vindo das pessoas que vieram, sei que são verdadeiras. Espontâneas. Não "cavocadas" ou provocadas.

Sou ou não sou feliz? Hein? Diz aí! :-)

12.2.06

Up, where we belong (Brokeback Mountain)



Quando a única coisa que se tem em uma vida miserável e solitária é o amor, e nem isso pode ser vivido. Quando não se pode vivê-lo e depois é preciso passar o resto da vida sozinho. Quando não há saída, nem esperança. Quando não é preciso muitas palavras para falar de amor.

10.2.06

I'm Looking Through You
















(Beatles for me today)
I'm looking through you
Where did you go
I thought I knew you
What did I know
You don't look different
But you have changed
I'm looking through you
You're not the same

Your lips are moving
I cannot hear
You voice is soothing
But the words aren't clear
You don't sound different
I've learned the game
I'm looking through you
You're not the same

Why, tell me why
Did you not treat me right
Love has a nasty habit
Of disappearing overnight

You're thinking of me
The same old way
You were above me
But not today
The only difference
Is you're down there
I'm looking though you
And you're nowhere

Why, tell me why
Did you not treat me right
Love has a nasty habit
Of disappearing overnight

I'm looking through you
Where did you go
I thought I knew you
What did I know
You don't look different
But you have changed
I'm looking through you
You're not the same

Yeah, Oh, baby you've changed
Aah, I'm looking through you
Yeah, I'm looking through youY
ou've changed, you've changedY
ou've changed, you've changed
Te vejo em todas as meninas.
E quero que todas sejam felizes,
como tu nunca foste
E quero protegê-las,
como nunca pude contigo.
Te vejo nas tuas meninas
E quero que te amem
Como tu nunca me amaste.
... Mas nada é culpa tua.

7.2.06

EU


RECUPEREI


O MEU


GATO

(esquelético, mas vivo)

(detalhes outro dia que agora não sou dona de mim mesma)

Aos que torceram a favor, VALEU.


5.2.06

Eu, abaixo assinado, declaro...

Não acredito em conversar sem dizer nada.
(mas acredito em conversas profundas em meio a risadas)
Não acredito em ouvir sem escutar.
Aprendi devagar.
Aprendi a hora de brincar.
E aprendi que quando não é hora de brincar, não vale a pena desperdiçar vida, tempo, palavras, energia e oportunidades fingindo que se conversa.
Conversa, só as de verdade.
Não acredito em amizade sem doação.
Em amigos sem coração.
Em amor sem paixão
(mas paixão não precisa ter tesão).
Não acredito em passar o tempo.
Quero sempre que o tempo não passe.
Perpetuar o agora,
fazer render.
Não ser um equívoco dos deuses no mundo.
Não ser uma palhinha perdida no monte.
Não acredito em lutar todas as batalhas.
Acredito em escolher as que realmente valem a pena.
Não acredito em muitos ideais.
Quero a alma ideal, apenas.
E a calma real
De quem se encontra, sempre,
em seus próprios olhos no espelho,
Não nos olhos do outro.

23.1.06

Pingos luzentes
Na luz artificial
-- Choro natural

Chuva noturna
Molhando nosso quintal
-- Um ponto final

21.1.06


JACK BAUER alimenta-se de luz (que vem, certamente, das centenas de disparos de armas de fogo durante uma temporada).
De acordo com meus cálculos, ele está há mais de 15 horas usando manga comprida, correndo como louco, suando, cansando-se, gastando energia e, até agora, não tomou um golinho sequer de água e não comeu uma migalhinha sequer de pão.
Vá ser supermacho assim lá em casa...

19.1.06

Prece para hoje

Meus desejos são pequeninos. Minhas ambições, modestas.
Só peço a Deus que eu abra os olhos amanhã.
Que quando eu abri-los, logo depois ouça a voz de minha mãe ao telefone.
Que minha menina retenha seus defeitos e aumente suas qualidades, que ninguém perfeito é charmoso.
Que, longe, me ligue e eu ouça seu boa-noite sonolento.
Que a temperatura nunca mais chegue a 40 graus mormacentos.
Que os cupins das portas resolvam comer outra coisa.
Que minha gata aprenda a roer as unhas, já que não sabe cortá-las.
Que meu fogão auto-limpante aprenda a se auto-limpar.
Que a cera repelente a pó me deixe o piso impecável.
Que meu poder mental me regenere e me leve de volta aos 26 anos.
Que um raio cósmico elimine as baratas do mundo.
Que não falte comida (nem veneno de barata).
Que minhas contas não aumentem.
Que se aumentarem, eu dê conta.
Que se não der conta, tenha paciência.
Que se não tiver paciência, alguém me console.
Que se ninguém me consolar, eu não perca a fé..
Que haja café, cigarro e água mineral em noites insones.
Que um dia eu largue o café e o cigarro e não tenha mais noites insones.
Que meus amigos precisem de mim e não me deixem por namoradas ciumentas.
Que suas namoradas ciumentas aprendam a ser elegantes.
Que, sendo elegantes, ensinem a outras a também serem.
Que eu não me sinta desvalorizada, porque sou abandonada quando os amigos têm namorada.
Que os homens aprendam que isso fere.
Que, quando eu abrir os olhos amanhã, ainda tenha o dom de perdoar.
Que, amanhã, todos os que estavam vivos agorinha mesmo cheguem ao fim do dia ainda respirando.
E só isso já basta.
Amém (de coração, Deus, só isso já basta).

8.1.06

Você não gosta de mim,
mas seu marido gosta.
Ele não tem motivo para gostar,
Nem você para desgostar de mim.
Se me conhecer, verá que sou inofensiva.
Que canto porque sei e porque gosto. Que danço muito, mas fecho a janela que dá para a sua.
Que não saio para a rua quando todos saem, durante o dia, mas não há macho me sustentando e só não a vejo mais porque estou trabalhando e não há necessidade de lhe explicar que meu trabalho se faz com música alta e no quarto sim, mas é honesto e nada tem a ver com suas fantasias.
Você não gosta de mim, mas seu marido sim.
Não gosto de seu marido, nem do marido de ninguém. Na verdade, minha próxima chance de me apaixonar provavelmente será na outra encarnação. Nesta anda difícil.
Vizinha, meus saltos altos, meu batonzinho, meu perfume e meus cachos, meu vestido e minha voz não querem dizer nada. Eu uso desses artifícios para não me esquecer que ainda sou mulher (juro que em grande parte do tempo nem chego a me perguntar se sou, tão ocupada estou sempre com questões mais urgentes). No fundo, não sou feminista, mas nem sou tão feminina, e nem sei o que sou. Provavelmente não sou nada do que outros vêem, nem sou aquilo que penso ver em mim. Você não gosta de mim, mas seu marido não compreende que prefiro ter amigas que admiradores sorrateiros que me espiam do cantinho da sala na frente da minha janela. Prefiro, vizinha, conquistá-la, e ser um pé no saquinho de seu homem.
Esqueça-me.
Nem moro aqui.
Habito, apenas, porque algum lugar há de ter o corpo para largar a si e às suas tralhas -- mas em noventa por cento do tempo em que não me alugo às palavras (essas sim, minhas comandantes tiranas e soberanas), minha alma sai pelas janelas, sobrevoa as árvores, mete-se em becos e vive paixões inventadas e conquista amores reais enquanto meus olhos estão fechados.
Como você vê, vizinha, vivo entre a palavra e o sonho (sono, pouco). Não me sobra, entre os dois, tempo sequer para planejar paixões obscuras.
Deixe-me.
E se meu canto lhe incomodar, ligue sua máquina de lavar barulhenta, seu liquidificador, seu aspirador, e vá torcer seu narizinho para a louça suja (e não ligue, se seu genro comentar "Mas como canta bem essa mulher!" - não escute, prefira o som do programa dominical na TV. Afinal, você é apenas normal.).
Não me perturbe. Já tenho muito o que fazer, tentando me prender ao chão.