24.2.06

Para ti, Vivi

Não gostamos de ser larvas. Queremos ser borboletas.
Somos feios um dia,
Vemos o mundo à volta,
Espiamos para fora do casulo,
E temos medo.
Mãos brutas podem tentar nos despedaçar,
Olhos insensíveis não nos percebem,
Seres rudes nos rotulam.
Um dia, nós, larvinhas, andamos zanzando nos muros,
Buscando folhinhas, lambendo gotinhas, rastejando na graminha,
E sentimos rancor vendo borboletas belas nos reflexos das janelas
Até que descobrimos, finalmente, que somos nós as borboletas,
Que basta abrir as asas e partir.
Basta alcançar os céus e viver (ainda que brevemente).
Um dia, tu, larvinha, eras minha.
Borboletaste.
Te afastaste.
E eu fiquei aqui, com toda a grama, todas as árvores, todos os muros, todos os galhos, todas as mãos, todos os ventos fortes aprisionados na intenção de te proteger,
Sem saber que querias descobrir tuas asas.
Descobrir outras casas.
Voar
Bater asas e fugir.
(P.S. - Chorei com teu último comentário e parte do rancor por teres voado começou a sumir. Começou.)

22.2.06

Diário de Uma Mulher Comum VIII


“Necessário, somente o necessário,
O extraordinário é demais.
Eu digo, o necessário,
Somente o necessário,
Por isso é que essa vida eu vivo em paz”.

(versão da musiquinha “Bare Necessities” do filme “Mogli”)


Acordo descansada, finalmente, depois de uma maratona de quase um mês trabalhando mais que em toda a minha vida. Nas duas últimas noites eu havia dormido em média 3 horas por noite e, então, esta noite consegui 6 horas de sono profundo, o que é o suficiente para me fazer sentir humana de novo.
Certas coisas viram luxo para um tradutor, seguidamente: banho demorado, refeição sem pressa, cama para dormir decentemente, calorzinho, ver TV, conversar, sair à rua. E ainda tem quem se ofenda quando boto “ocupada, ocupadíssima” no MSN para evitar conversas.
Mas tudo isso compensa. A gente aprende a valorizar pequeníssimas coisas (tipo: levantar para passar um café).
E compensa porque é isso o que se ama. É para pesquisar que nasci. Para aprender. Para produzir. Para traduzir. E para ganhar razoavelmente bem (muito bem, segundo alguns parâmetros, ou nem tanto, segundo outros).
Traduzir é vocação, é aventura. Não há rotina, nem programação, não há como prever o que se fará daqui a dois dias, às vezes nem daqui a duas horas, e é preciso gostar muito de entrar num estado alterado da consciência sem droga nenhuma, apenas adrenalina, que faz com que nem pisquemos na frente da tela e com que, diante da concentração fenomenal, as horas voem.
Dormi como um ser humano normal de ontem para hoje e, ao acordar, percebi que apesar do sofrimento, esse “osso” do meu ofício é exatamente o que eu gosto de roer.
Traduzir não é para os moles de espírito e de corpo. Não é para preguiçosos e desinteressados, nem para aqueles que têm horários fixos. Apesar de não haver programação na vida do tradutor, ele precisa de uma disciplina que poucos têm. Precisa da força espiritual para saber que seu lugar, naquele instante, não é no cinema, não é no show do U2, não é no parque, nem na praia. Para saber que nosso trabalho é útil, que rende frutos (se bem que não o reconhecimento público, já que somos invisíveis para a maioria das pessoas, que sequer percebem que durante o dia inteirinho topam com nosso trabalho em tudo, do instante em que abastecem seus carros até o momento em que ligam a TV à noite para assistir ao noticiário ou a séries americanas).
Traduzir, por incrível que pareça, é um trabalho “braçal” – que o digam meus braços trêmulos, minhas mãos doloridas, pernas e pés de chumbo após tantas horas sentada. Felizmente, não tenho problemas de coluna.
Minha mãe me liga, 8 da noite, com “peninha” de mim. Eu rio, porque se o corpo mal se sustenta de pé, o espírito vai bem, muito obrigada. Nada como encher a mente só com Jogos Olímpicos e a história de seu marketing bem sucedido para esquecer outros incômodos da vida. Digo-lhe que o cansaço é só físico, porque traduzir acende a mente, não cansa. É um trabalho cerebral que vicia.
Algumas pessoas fazem da profissão sua vida. Outras fazem da profissão apenas “trabalho”. Eu tenho profissão, trabalho e vida, tudo junto, com a tradução, e sem ela não encontro minha identidade.
A pressão de traduzir faz com que nos descubramos, sempre, por revelar que somos muito mais fortes do que pensamos, mais resistentes, persistentes, perfecionistas. E quem me vê durante tantas horas quase imóvel olhando para o computador e batucando no teclado nem imagina quantas “viagens” eu fiz, nesse tempo todo: à Antigüidade, a Argos e Olímpia, a países como Grécia, Canadá, Estados Unidos e Japão, aos estádios brilhando de novos a cada edição dos Jogos Olímpicos (atenção: olimpíadas é o período **entre** os Jogos, é um erro chamar os Jogos Olímpicos de “Olimpíadas”, aprendam isso de uma vez por todas), a salas de reunião na Suíça, a mundos que normalmente não procuramos.
Estranhamente, a letra da musiquinha adorável, lá em cima, e a personalidade do Balu, o urso comodista e bon vivant do Mogli, têm tudo a ver comigo, que de comodista e bon vivant não tenho nada. Não invejo o Balu. Talvez ele não dê valor às bare necessities tanto quanto pensa, por falta do contraste, que é o trabalho duro e o esforço brutal para cumprir prazos. Entretanto, sou grata a ele por me mostrar que, depois de tanto esforço, quando o dinheirinho começa a entrar, só o que me importa são as bare necessities, somente as necessidades básicas, e tudo o que me atrai é um momento ao sol, uma risada e um abraço – o que o dinheiro pode comprar passa a ser muitíssimo secundário. Cama, comida, roupa limpa, afeto. Necessidades básicas. Bare Necessities.
A tradução sempre nos leva a novos caminhos. E a descobertas sobre nós mesmos.
Primeiro, a gente pensa que está se matando de trabalhar por causa da grana. Depois descobre que não, como provei a mim mesma ao ajudar uma amiga na primeira parte dessa maratona de um mês de dias longuíssimos na frente de um micro, com uma tradução que se pagava nada ou a miséria que ela receberia, dava quase no mesmo.
Não é pela grana.
Não é por fama (essa não existe para o tradutor, exceto entre seus pares, o que para mim não é grande coisa, mas já ajuda).
Não é por nada, exceto vocação e amor por produzir algo que permaneça.
Mesmo que passemos uma semana sem sair do escritório.

Há quem goste. Juro.


P.S. -- E nesse meio-tempo, de ontem para hoje, ganhei: dois "Eu te Amo" (de alguém cujo "eu te amo" pós-caso de amor que não deu em nada representa muitíssimo mais do que aquele "eu te amo" que ele poderia ter dito quando tentávamos ter um romance, e do meu irmão, que sempre foi todo emoção e suas emoções atualmente têm sido límpidas e belas) e um "meu amor" (meu Guri faz aniversário e eu é que me sinto presenteada com suas palavras ternas) que parecem vir do nada, mas refrescam o coração. As pessoas costumam ser gentis e demonstrar que gostam da gente, mas fazia tempo que eu não ouvia essas palavrinhas, e vindo das pessoas que vieram, sei que são verdadeiras. Espontâneas. Não "cavocadas" ou provocadas.

Sou ou não sou feliz? Hein? Diz aí! :-)

12.2.06

Up, where we belong (Brokeback Mountain)



Quando a única coisa que se tem em uma vida miserável e solitária é o amor, e nem isso pode ser vivido. Quando não se pode vivê-lo e depois é preciso passar o resto da vida sozinho. Quando não há saída, nem esperança. Quando não é preciso muitas palavras para falar de amor.

10.2.06

I'm Looking Through You
















(Beatles for me today)
I'm looking through you
Where did you go
I thought I knew you
What did I know
You don't look different
But you have changed
I'm looking through you
You're not the same

Your lips are moving
I cannot hear
You voice is soothing
But the words aren't clear
You don't sound different
I've learned the game
I'm looking through you
You're not the same

Why, tell me why
Did you not treat me right
Love has a nasty habit
Of disappearing overnight

You're thinking of me
The same old way
You were above me
But not today
The only difference
Is you're down there
I'm looking though you
And you're nowhere

Why, tell me why
Did you not treat me right
Love has a nasty habit
Of disappearing overnight

I'm looking through you
Where did you go
I thought I knew you
What did I know
You don't look different
But you have changed
I'm looking through you
You're not the same

Yeah, Oh, baby you've changed
Aah, I'm looking through you
Yeah, I'm looking through youY
ou've changed, you've changedY
ou've changed, you've changed
Te vejo em todas as meninas.
E quero que todas sejam felizes,
como tu nunca foste
E quero protegê-las,
como nunca pude contigo.
Te vejo nas tuas meninas
E quero que te amem
Como tu nunca me amaste.
... Mas nada é culpa tua.

7.2.06

EU


RECUPEREI


O MEU


GATO

(esquelético, mas vivo)

(detalhes outro dia que agora não sou dona de mim mesma)

Aos que torceram a favor, VALEU.


5.2.06

Eu, abaixo assinado, declaro...

Não acredito em conversar sem dizer nada.
(mas acredito em conversas profundas em meio a risadas)
Não acredito em ouvir sem escutar.
Aprendi devagar.
Aprendi a hora de brincar.
E aprendi que quando não é hora de brincar, não vale a pena desperdiçar vida, tempo, palavras, energia e oportunidades fingindo que se conversa.
Conversa, só as de verdade.
Não acredito em amizade sem doação.
Em amigos sem coração.
Em amor sem paixão
(mas paixão não precisa ter tesão).
Não acredito em passar o tempo.
Quero sempre que o tempo não passe.
Perpetuar o agora,
fazer render.
Não ser um equívoco dos deuses no mundo.
Não ser uma palhinha perdida no monte.
Não acredito em lutar todas as batalhas.
Acredito em escolher as que realmente valem a pena.
Não acredito em muitos ideais.
Quero a alma ideal, apenas.
E a calma real
De quem se encontra, sempre,
em seus próprios olhos no espelho,
Não nos olhos do outro.