27.6.07

. . . 100 . . . 100 . . . 100 . . . 100 . . . 100 . . . 100 . . . 100 . Caros.

Quando o Romário fez seu "Gol 1.000", comentei aqui em casa: "Ih, ó o cara aí. Eu sei fazer gols, mas ele não sabe traduzir. Ele faz 1.000 gols e o mundo olha pra ele. Eu vou para o meu centésimo livro e o mundo nunca ouviu falar de mim. Garanto que o Romário não traduz, e acho que nunca leu nem 10 livros."

Pois ontem o Sedex me trouxe meu CENTÉSIMO livro para traduzir. Felizmente, um livro interessante, lindo, de massagem pediátrica. Agora, ao lado dele, estão me esperando ainda o livro número 97 e 98. Estou com três livros para traduzir bem aqui (e mais 80.000 palavras de mecânica...).

Esta semana, portanto, estou celebrando, apertando minhas próprias mãos em cumprimento (porque pessoalmente ninguém fez isso ainda, exceto minha mãe, mas mãe não conta, né?).

Depois de uns 70 e-mails de cumprimento dos meus amigos tradutores, comeceu a ficar melancólica e até agradeci publicamente ao meu grande anjo platônico, quando se manifestou dizendo que se sentia especialmente gratificado com minha conquista. Deve mesmo sentir-se.

Depois de 20 anos traduzindo, venho aqui, ao som de "Smile", do David Gilmour (calminha que dá gosto), compartilhar com vocês duas idéias, extraídas dessas minhas meditações na comemoração aos 100 livros.

Uma delas é que finalmente minha árvore tradutória amadureceu e os frutos caem em minha cabeça. Já não preciso subir na árvore, desesperada, buscando frutinhos ainda pequenos e verdes, ansiando pela colheita farta. A árvore levou uns 19 anos para firmar, mas agora posso colher seus frutos. Isso me alegra.

A outra é que acho que, pretensiosamente, vou fundar o Clube dos 100. Não que o clube vá ter 100 sócios. Não.

Terá uma dúzia, no máximo. Clube dos Tradutores do Inglês que já Traduziram 100 livros. Clube dos 100, portanto. Esse clube restrito, selecionadíssimo, o fino da elite (mal paga) das editoras, formado por felizes e exaustos tradutores que já verteram lágrimas sobre o teclado do computador, bem poderia servir a um fim bem legal: já pensou se cada um deles doasse seus 100 ou mais livros a uma biblioteca? Já pensou se cada um deles pedisse 6 exemplares de cada livro que traduziu às editoras (geralmente recebemos um, no máximo 2 exemplares) e, no conjunto, então, formássemos 6 minibibliotecas com 1.200 livros para doar à comunidade? Já pensou?

... Deixa.

Acho que a consciência de que num país que não lê eu consegui traduzir cem livros me subiu à cabeça e me deixou meio assim... boba, entende?

Mas eu mereço ficar boba uma vez a cada vinte anos.

Parabéns pra mim.