25.1.08

Breve Investida do Destino no Meu Dia (comentário para a Dekka)

Para quem é louca por tecnologia e metida a técnica, como eu, nunca falta um cantinho da casa onde acumulam-se coisas do passado recente (tudo muda tão rápido!) -- cabos, extensões, conexões, aparelhos dos quais se podem aproveitar peças.
Vou ao balcão procurar um cabo de TV para trocar aqui no meu aparelho do quarto e, remexendo, encontro o tal cabo -- dois deles, até, e a minha velha secretária eletrônica. Está ali, e não lembro por que não a joguei fora. Exceto pelo adaptador, eu acreditava que não serviria para nada.
Por via das dúvidas, ligo na tomada e tudo acende. Inclusive o mostrador de mensagens gravadas que eu quis guardar um dia. Quatorze delas, supostamente importantes.
Vou voltando, da décima quarta até a mais antiga (todas de 2004). O primeiro contato da minha editora preferida que chegou até meu nome não lembro como; a voz da minha mãe dizendo "Hora de acordar!", meu anjo de Los Angeles ligando três vezes e reclamando, com sua voz grave, que primeiro só dá ocupado e quando finalmente acha que vai falar comigo, cai na secretária (tempos de conexão discada com a internet, baby); a voz da minha Letícia, então com 9 anos, me ligando da casa do seu pai para dizer "Mãe, só vou voltar depois do almoço, tá?" e então...

Aquela ligação sempre havia sido um mistério para mim.
Era um sussurro, apenas. Eu sabia quem era. Mas não entendia o que ele dizia, após o "Dayse, me liga." Era mais que sussurrado, o que ele subitamente suspirava no telefone, como se contasse um segredo medonho. Era dito de um modo que só poderia ser interpretado como "Tchau".

E hoje, ouvindo meia dúzia de vezes, em volume alto, subitamente entendi.
"Dayse, me liga.................. eu te amo".

Dekka, está aí o teu "E se". E se, em 2004, eu não tivesse bloqueado a minha mente e tivesse escutado o que H. realmente havia dito? E se, furiosa com ele, como sempre, eu não tivesse resolvido acreditar que era um "tchau" entrecortado, quase inaudível, como uma voz de espírito naquelas fitas horrorosas que circulam na Internet (transcomunicação, eles chamam)? Devo ter ouvido duas vezes apenas aquela mensagem, na época, e deixado para lá. Por que perderia meu tempo com aquele materialista que só pensava em comprar coisas e preferia mostrar objetos a mostrar seu interior? Devia ser um "tcha-au", a voz quase inexistente na gravação.

Não era. Era um "eu te amo", dito rapidamente, com medo até de pronunciar as palavras.

Que diferença faz isso agora?

Acho que nenhuma, como já te disse, Dekka. Porque se preferi não escutar a declaração na época, foi por não acreditar nela. E se é repetida agora por escrito, quase quatro anos depois, apesar de talvez ter sido real na época e ainda ser, agora.. os motivos para "não escutar" talvez sejam os mesmos.

Depois de manter minha boca aberta por uns 15 segundos, espantada, calei o fantasma do murmúrio eletrônico e joguei o aparelho de telefone fora, porque não carregou a bateria e, quando o abri, estava tudo enferrujado. Mas mantive a base com as mensagens "inesquecíveis". Talvez um dia eu esqueça por que pareciam inesquecíveis. Talvez um dia eu entenda por que dou tão pouca importância a esse fantasma de corpo bom, mas mente tortuosa, que me assombrou um dia e retorna sempre -- por músicas que escuto, por pequenas dores lembradas e por assaltos súbitos de desejo inoportuno.

A alma, meu demônio. A alma. Quando a entregares, talvez...

19.1.08

A alma, my demon, a alma...

É certo que minha vida faz-se por música.
Ele me deixa um recado bitter-sweet. Sempre sweet, mas bitter porque deixamos de viver algo e nunca saberei como teria sido. Eu presumia que sua alma encontrava-se com a minha quando nossos corpos estavam separados, porque quando os corpos encontravam-se, não sobrava espaço entre nós para outra coisa. E eu sentia, literalmente, que meu espírito se afastava de mim, perto dele. Sentia sono, sentia frio, sentia uma solidão que não sabia explicar, perto dele. E na distância, o sentia tão próximo...
É certo que noite e dia eu respiro música (além das letras das traduções), e cada pequenina coisa que me ocorre me traz as palavras de uma canção, como se eu, desregulada e esquizo, ouvisse vozes. Sempre.
Mas a voz dele me chega em palavras escritas.
eu te amo
(...)
eu sempre vou te amar
viva a dayse

E então a voz dele some e meu cérebro lhe responde imediatamente. Em uma fração de segundos, me vêm as palavras de outros para dizer-lhe o que sinto.
É triste que teu olhar doce tenha me fugido. É triste amar alma, e apenas isso. É triste e doce, a certeza de amar assim, descarnados nós, amar espiritualmente, e ainda com saudade da carne. Mas se carne nos bastasse, seríamos bem felizes. O que faz falta é a alma, meu querido H. E isso temos, mas não nos bastou.

The Lettermen
Love me like a stranger


Where is all the fire,
all the wild desire,
that we felt before?
The hunger in your touch,
that made you give so much,
and want me more and more.
When it all began,
the woman and the man,
were wilder than the sea
brighter than the sun,
but look what time has done,
today to you and me.
Can't we try pretending,
that we met today,
letting our emotions
carry us away.
Tasting for the first time,
lips we've never kissed.
Recapturing the feeling
that we both have missed.
(Chorus:)Love me like a stranger
who walked into my life.
Love me like this feeling
will only stay the night.
Hold me till I beg you
not to say good-bye,
I want to meet the stranger
hiding in your eyes.

15.1.08

Sinceramente (Cachorro Grande)



Ok, a musiquinha é de adolescente, a letrinha é simples, a melodia é grudenta, mas eu também tenho meus momentos "sem-noção" de romantismo doce. E esses momentos andam durando, desde que ouvi o Cachorro Grande cantando isso, faz tempo. Coincidiu com o momento em que comecei a pensar em uma pessoa especial, e a letra da música diz tudo. Gosto de seu charme, do seu groove e de como rola com esse homem distante. E muito. Tanto que só agora, meses depois de ouvir a música pensando nele, eu a ponho aqui, esperando que ele capte a mensagem sem que eu precise citar seu nome, sobrenome, etc. Por gostar tanto dele, acho que "Some things are better left unsaid", como já disse a Annie Lennox em "Why". But I say it anyway.
Com quanta ausência se faz um bolo de saudade?
Por quanto tempo se deixa na geladeira o desejo, antes de aquecer para o consumo?
Quantas pitadas de malícia e sutileza temperam a ânsia de ter-te ao meu lado?
Cozinha-se a espera durante quantos dias? Meses? Anos?
E qual a validade da tua receita de aflição amorosa, antes que tudo se deteriore e seja jogado fora?
Ou não é perecível, isso que juntas em mim com maestria dos grandes chefs e deixas prontinho para um grande banquete, privado e sem convidados, no bistrô do teu coração?