11.2.08

Diário de Uma Mulher Comum

Na bula do medicamento para infecção urinária constam vários efeitos colaterais: dor de cabeça (sim senhor, tenho, e de 0 a 10 mereceria um 8,5), confusão mental (concordo, a tal ponto que desisti de tentar entender as frases do livro que traduzia ontem e fui dormir) e outros, que talvez eu tenha, mas nem percebi.

Na bula não diz que o remédio dá depressão. Diz que pode causar alucinações e paranóia. Mas não fala em depressão.

Coincidência ou não, desde que comecei a tomá-lo, 4 dias atrás, o mundo me parece cinzento. Mas também o dia está cinza, chove há 4 dias, os moços que pareciam gostar de mim não têm se pronunciado, está friozinho (20 graus no verão), o que me faria muito feliz se eu não estivesse deprimida, a grana é curtíssima (e pensar que tenho muito dinheiro a receber, mas ainda não chegou), é véspera de minha filha passar uma semana com seu pai novamente, nesse fim de férias...

Motivos para não dar pulos de alegria eu tenho. Mas não tenho razão para querer fechar os olhos e acordar daqui a um mês.

Não sei se o remédio dá depressão, mas me sinto como se. Tenho olheiras profundas, lábios de mau-humor, olhar sem brilho.

Meu amigo Steven me manda um email falando de Valentines Day, e lhe respondo que morro de inveja de uma amiga que está sofrendo de amor. E o que eu não lhe disse é que estou pensando em assassinar este blog.

Digo ao Steven que, pelo menos aqui no Brazil, muita gente faria qualquer coisa por um emprego melhor, por moradia decente, por um simples prato de comida. Eu faria quase qualquer coisa para sentir paixão real. Minha amiga sofre, e eu invejo suas mãos trêmulas e seus olhos vermelhos. Ela anda produtiva, em seu sofrimento, escrevendo melhor que nunca. E eu sofro porque todas as minhas tentativas de me apaixonar passam, como se eu acendesse um fósforo e ele em seguida se apagasse, sob um vento forte. Minhas tentativas de paixão são somente isso: tentativas.

Não conheço maior esterilidade do que a de um coração incapaz de se entregar.

Há pessoas que desejariam ser objeto da paixão de alguém. Eu não, apesar de saber que há quem goste de mim. Eu não faço questão de ser amada e saber que sou não me engrandece nem me envaidece. Ser objeto de paixão de alguém já me é indiferente. Eu não preciso ser correspondida. Não mesmo. O que me dá verdadeira angústia e desespero é a imunidade a esse sentimento. No momento em que me vejo apaixonada... já passou.

E por me ver sedenta no deserto, como em algum post do início desse blog em que eu falava exatamente sobre esse mesmo assunto, percebo que me tornei repetitiva, berrando (lamentando, gemendo, cantarolando, sussurrando) o tempo todo que quero, desejo, preciso me apaixonar.

Sendo assim, por falta absoluta de assunto (e excesso de traduções a fazer, bata na madeira), deixo em suspenso esse blog-nada, esse blog que não disse ao que veio, ou que já disse tudo o que precisava ser dito... Whatever.

Em março começo a freqüentar academia. Em março começa o estresse de cuidar das lições da filha e tudo o mais que acontece durante o ano letivo. Em março jurei que vou batalhar e mandar meu livro para as editoras (promessa que faço a mim mesma há 3 anos e não me animo). Em março eu me vejo louca com mais traduções do que consigo produzir (e disso não me queixo). Em março... ou em abril... em maio ou junho. Sei lá quando, mas algo terá de acontecer. Aí eu volto. Ou excepcionalmente antes disso, mas só se alguma mágica acontecer ou um mágico aparecer no meu coração.

Beijos a todos.

9.2.08


LIGHT MY FIRE!
(please)
I wanna feel like it's November, like I'm new to myself, like I'm in love (although the love for being in love should come first, within myself to burn you within me). Light my soul and then burn my body all over with the flames that -- I'm sure -- you've been hiding even from yourself for all these years (you're always so afraid to shine...).