30.5.08

"Nunca" é uma casa vazia
(o eco do que eu fui permanece)
"Sempre" é o teu olhar preso no cristal do colar
"Talvez" são os cabelos úmidos e o vestido de verão.

"Jamais" é o espaço do resto das nossas vidas.

13.5.08

Com quantas rugas no rosto
se conta um desgosto?

12.5.08

Diário de Uma Mulher Comum XV

Em um dia lindo de sol, perfeito para um Dia das Mães, sinto-me feliz.
Feliz porque minha filha está ali, criando curvinhas no corpo de mocinha que se descobre a cada dia. Feliz porque as birras do passado transformam-se em entendimento do mundo e em compreensão. Feliz porque em um Dia das Mães perfeito, ganho beijo, cartão artesanal precioso e belo, feito por uma menina que já nasceu artista, presentinho comprado por ela mesma com dinheiro de sua mesada, carinho aos montes.
Em um Dia das Mães perfeito, o pai da filha, com quem não vivo há anos, liga para me parabenizar -- e isso nos faz feliz (à minha florzinha e a mim), dando um sabor de plenitude e de tudo estar redondo.
Não digo que aquele Fantasma não me assombre ainda.
Sim -- aquele temor insidioso de uma tragédia sempre me assombra, e desde a morte do meu colega Paulo passei umas duas semanas no mais fundo esconderijo de minha alma, catando todos os monstrinhos que brincam de me aterrorizar com o pânico de, um dia, deixar minha filha desamparada -- que mãe não se pela de medo disso?
Não digo que eu não me condene por pensar demais. Não que eu rumine. Não. Não sou de ruminar coisas e criar besteiras sem fim em fantasias ansiosas-paranóicas. Sou pé-no-chão, bem realista até. Mas tenho o defeito de não saber pensar devagarzinho, só na superfície, de leve e em pedaços. Eu penso rápido, profundo, pesado e inteiro. E esses pensamentos são, às vezes, como tijolos, porque quem pensa assim não consegue fugir nem de si -- precisa sempre ver a verdade em tudo, inclusive em sua alminha fugidia.
Ainda me sinto velha em alguns dias -- na TPM, mostly -- e ainda me cobro por não sair pra caminhar ou correr no parque ou malhar ou pedalar ou dançar-qualquer-coisa-assim às sete da manhã faça chuva ou faça sol.
Ainda me sinto obcecada com a idéia de quem preciso de CÉU pra viver. De que preciso MUITO de flores, verde, água, chuva, raios, cão, gatos, qualquer coisa menos asfalto -- e de que um dia terei de recuperar essas coisas que abandonei porque preciso que minha filha tenha um bom colégio, e bom colégio na cidade envolve apartamento que não é cobertura, não tem sacada, não tem vista ampla, não é térreo, não é em andar alto (é apenas um apartamento que posso pagar e onde cabem minhas coisas com tranqüilidade).
Ultimamente, outra "obsessão" (que passará, eu sei), infiltrou-se nesses pensamentos profundos. A vontade de adotar uma criança. Ou de namorar alguém que já tenha filhos, para eu "adotá-los" como meus também. Uma ânsia que nunca será satisfeita de ter tido 12 filhos (como não sou louca, tive apenas o número de filhos que achei que podia sustentar -- uminha, uma única, e que é tudo o que desejei). Mas isso passará, porque não poderei sustentar mesmo, não arranjarei namorado com filhos mesmo (quem quase não sai de casa não arranja namorado...)...
Entretanto, por um dia inteiro, posso ser feliz.
Posso ser feliz junto à minha mãe saudável. Junto à minha filha surpreendente e incrível.
... Mas Dia das Mães não é pra isso mesmo? Para descobrirmos que tudo o que precisamos na vida está ali, na figura da filha e da mãe?