16.8.11

Olhar apenas para nosso próprio umbigo nos deixa míopes. Olhe para os outros, mais e menos próximos, e sua visão humana continuará aguçada.
Pense em ajudar alguém. Não apenas pense. Faça. Seus problemas desaparecerão como por encanto. Como bônus, você recebe créditos em bondade para a sua vida (acredito realmente nisto).

A morte não existe.
O que existe é apenas uma distância maior entre nós e aqueles que amamos.
E uma espera sem tempo marcado (até onde saibamos) pelo reencontro.

17.6.11

Diário de uma mulher comum - XVII

Ontem à noite, por um breve momento, talvez 10 segundos ou nem isso, eu tive a certeza de que o olhar da minha mãe estava sobre mim.
De repente, sem mais nem menos, no meio de preparativos para ir dormir e outras rotinas automáticas, minha mente (ou coração?) foi invadida por uma só sensação, impossível de descrever em palavras, mas foi como se uma enchente de amor pairasse sobre mim, e assim, subitamente, me vieram lágrimas aos olhos e falei, reconhecendo aquela sensação: "Eu sou muito amada".
Desculpem-me, cínicos de plantão, descrentes ou aqueles que acham que a vida é só rarará, risinhos e besteirol e que tocar nesses assuntos é "coisa de louco".
Preciso avisar que, embora eu não goste de tocar muito neste assunto para não sofrer preconceito, eu sou sensitiva desde que me entendo por gente e, de vez em quando, preciso confiar na minha intuição e mediunidade.
Exatamente por já ter tido ("sofrido"?) incontáveis experiências e por usar minhas "antenas" todos os dias, para as mínimas coisas, sei diferenciar uma ilusão de uma sensação real de contato.
Logo depois que minha mãe faleceu, eu senti diversas vezes, durante uns três dias, alguém passando a mão por minhas costas devagar, como quem consola. Uma ajuda amiga, que me fazia correr minha própria mão por minhas costas ao sentir isso, até onde meu braço permitisse, para ver se não havia uma etiqueta de roupa, um fio de cabelo, um inseto, algo assim, causando a sensação de toque consolador.
Eu já não choro mais todos os dias. Mesmo porque eu preciso é viver e cuidar de mim - e mesmo porque eu evito recordar, porque isso traz muito sofrimento.
E então, quando estou vivendo normalmente, me sinto amada intensamente, por breves instantes.
Assim como veio, passou.
Mas o sono foi embora, o choro veio de novo e no meio da noite, quando eu já caía no sono, fui despertada por um forte cheiro de injeção, de remédio, quando não há a menor possibilidade de existir tal odor na minha casa inteira, menos ainda no meu quarto.
Assim, levantei, acendi a luz, ainda procurei a origem do cheiro, não encontrei e, finalmente, falei para mim mesma: "Let it be".
Deitei-me novamente com a TV ligada baixinho, acomodei-me na minha posição de dormir só escutando a TV (porque fica para o lado contrário daquele em que durmo) e em menos de cinco minutos já estava apagada.
Dormi menos que em muitas noites e acordei sem despertador às cinco e meia. Totalmente repousada.
Obrigada, anjos e amigos do outro lado.
E ao carinho de mãe, que nunca abandona os filhos.

16.6.11

Sarah Bareilles, "Gravity"



Este é o tipo de música que me faz querer me apaixonar novamente. E, mesmo sem estar apaixonada, é "como se", ao escutá-la. Inspiradora.

15.6.11

Três semanas de vida, dentinhos quase nascendo



Essa coisinha fofa é um dos cinco lindos siameses que minha Nyx teve.
Ela estava com seis para sete meses, eu planejava castrá-la dali a alguns dias, quando entrou no cio pela primeira vez e passou a noite fora. Na manhã seguinte, quando eu, desesperada, peguei a bicicleta para procurá-la pelo bairro, assim que saí pelo portão ela cruzou a rua a toda velocidade, com um belíssimo siamês em seu encalço. Ela entrou em casa, o siamês voltou para o seu canto.

Resumo da ópera: minha Nyx entrou no cio e conseguiu encontrar logo um siamês, que lhe deu cinco lindíssimos e saudáveis filhotinhos.

Minha vontade é ficar com todos eles, mas obviamente, não pretendo virar aquelas loucas que têm 10 gatos em casa (embora o pátio seja grande e eu pudesse tê-los). Já estão todos dados, menos um, que minha filha escolheu. Mas minha paixão é esse aí da foto, um machinho que sempre que me vê já vem correndinho para o meu lado.

Um motivo adicional para não ficar com todos: já tenho a Nyx, o Kinim e a Lana...Agora a Nyx vai entrar na castração, como o Kinim e a Lana. Por mais belos que sejam os filhotes, a cada parto eu tenho de lavar e lavar e lavar cobertores... (a Nyx é caprichosa, e eu também).

Minhas coisinhas mais fofas (literalmente)

7:15h, bom dia em Eldorado do Sul

23.5.11

Para que servem as tias?

Para nos dar amor infinito quando perdemos a mãe.
Eu não conhecia a beleza desse tipo de amor, até minha mãe cruzar para o outro lado.
Coisas fofas.

21.5.11

... A gente faz bem em escolher com que vai se magoar, porque se não escolher, fica difícil viver.
Foto: uma calçada na Jerônimo de Ornellas, Porto Alegre. Crédito: Dayse Batista
Uma coisa injusta (não só comigo, como com qualquer pessoa): alguém interpretar - incorretamente - o que escrevo e, quando eu explico o que escrevi, a pessoa magoar-se.

Então, o desejo parece ser apenas o de fazer valer sua opinião.

Triste, isso.

20.5.11

Sabe de uma coisa, mamãe...
O único jeito de eu não me destruir de saudade é anulando todos os pensamentos que me remetam a ti.
E anular os pensamentos, fugir do teu rosto na minha memória,fechar meus ouvidos para a recordação da tua voz, é como cavar um gigantesco buraco na minha vida, onde sempre estiveste.
E assim, eu me cubro com um cobertor esfarrapado de migalhas de realidade, de rotinas que não fazem mais sentido, porque tu não estás mais aqui.
Quantas vezes terei de repetir a mim mesma que não estás mais aqui, até me convencer?
Sabe de uma coisa, mamãe...
Cada vez menos eu me permito chorar, porque se começo eu não paro mais.
O mundo, sem ti, ainda é um lugar muitíssimo menos amigo, menos suave e para sempre menos generoso comigo.
Hoje eu sei que saudade, em seu sentido extremo, só pode ser sentida por quem perdeu alguém como tu, essencial para a vida.
Essencial, quase como se, sem ti, eu não a tivesse mais.

11.5.11

HERE I AM (Shawn McDonald)

Se existe uma música que me faz sentir vontade de me rasgar toda, berrar, de abrir alma e coração, me atirar de cabeça numa paixão, esquecer barreiras, distâncias, medos e o universo inteiro, é esta.
Dá vontade de nem sei... ("ando tão à flor da pele, que qualquer beijo de novela me faz chorar..", mas isso já é outra música, igualmente bela)...
Esta música abre uma porta em mim que em geral está fechada. É um convite irresistível.

O Shawn McDonald tem uma voz maravilhosa, e sua interpretação nesta música é uma das coisas mais agitadoras de coração que conheço.



6.5.11

Piada do dia:

Em uma revisão de medicina, texto sobre análises laboratoriais, o engraçadinho traduz "draw order" por "ordem de sorteio"...


E são 14.000 palavras com uma média de 40% de correções... para uma agência para a qual me orgulho de trabalhar (Burg, de Chicago, fundada em 1930) e que só tem excelentes profissionais.

Queria saber de onde tiraram essa anta, desta vez.

Ainda bem que antas não sobrevivem... pelo menos não sobrevivem ao primeiro trabalho em uma mesma agência. O lado ruim é que logo pegam mais trabalho para uma nova agência, e vão pulando, enganando e ganhando seu dinheirinho. E se dizendo tradutores.

Estou no meu momento de raivinha. Desculpem.

27.4.11

ABRACE ALGUÉM HOJE

Não me preocupa muito estar sem dinheiro,
não comer o que desejo,
a falta de viagens,
passeios,
de um bom livro,
o tempo ruim,
insônia.
O que me seca,
me entristece,
me isola em mim mesma
me tira o brilho,
me desmotiva,
o que careço,
com toda a sinceridade
e profundamente,
são abraços de afeto
(e a gente pode pedir dinheiro, pedir comida, pedir livros e se refugiar do frio ou calor, mas não pode sair à rua pedindo abraços, por mais que isso seja vital)

26.4.11

Não sabem falar, não abram a boca

Coisas que me irritam muito:

Vendedores que dizem "softer" (para "software")

Vendedores que dizem "home títcher" (ou é professor doméstico ou é home theater, palhaço, mas o que eu vi na minha frente não parecia um professor, e sim um sistema de som, pura e simplesmente)

O pior é ter de rolar os olhos disfarçadamente, para não ter de corrigi-lo (já fiz isso uma vez, numa loja em que anunciavam pelo sistema de som da loja a venda de "nóte" books, onde ficaram extremamente magoados comigo e continuaram anunciando nóte books, acredito que com mais vontade ainda)

A pior experiência não é corrigir ignorante, mas corrigir burros. Ignorante aprende; burros, não, e ainda acham que *a gente* é que é o asno. E em segundo lugar vem a experiência de passar por arrogante, quando se tenta corrigir.

Três segredos e velhos hábitos

1. Eu escrevo diário desde que tinha 12 anos. Queimei a maioria, em um dia de fúria com as viradas da vida. É esquisito constatar nosso amadurecimento e envelhecimento com diários. E é muito estranho ver o passado vivo em diários antigos.

2. Meu passatempo preferido para pegar no sono ainda é inventar histórias. Levo uns quatro anos para concluir filmes mentais inventados, histórias completas, e em meio à elaboração das características físicas de um ou outro personagem, ou detalhando uma cena verbalmente em minha cabeça, geralmente durmo - de modo que nenhuma ideia se fixa mais que dez minutos e, na noite seguinte, tenho de optar se trabalho novamente a cena ou se vou adiante na história.

3. Escrevo melhor do que falo, de modo que quando preciso organizar minhas ideias, finjo que estou escrevendo. Ao falar, eu gaguejo um pouco, sou atrapalhada, as ideias se atropelam. Ao escrever, não. As frases se colocam direitinho, "de primeira", na tela ou no papel, sem gagueira (!) ou atropelo, sem precisar de rascunho. Se eu pudesse optar, não falaria nunca mais - só escreveria e reservaria a voz só para cantar.

24.4.11

20.4.11

Cola em teste (fofocas do mundo tradutório)

Eu reviso testes para a contratação de tradutores por uma agência. De dez, um consegue ser aprovado, em média.
Tá certo que a agência não é daquelas que pagam uma fortuna para profissionais com anos de estrada nas costas, mas considerando que pretendem admitir recém-formados, um aprovado em cada dez pretendentes a tradutor deveria ser assustador.
Só não me assusta mais porque tenho décadas de estrada e me decepciono quase todos os dias com os resultados do "trabalho" de tradutores - alguns até com bom nome na praça - e já vi praticamente tudo.
O que eu ainda não tinha visto era cola em teste de tradução.
Dois tradutores, uma mulher e um homem, com testes de versão e de tradução exatamente iguais, com os mesmos erros e as mesmas vírgulas nos lugares errados. Invalido os dois e reservo dois minutos para ficar de boca aberta, pensando como alguém pode ser tão idiota assim. Colando em teste, o que fariam na hora de um trabalho bem técnico? Mandariam pro tradutor do Google? Aposto que sim.
Tenho nojo de gente metida a esperta.
Por outro lado, é graças a esses que os tradutores de verdade se valorizam a cada dia.

(se eu fosse contar todas as histórias que conheço... Infelizmente, a ética me impede.)

Dois homens bravos. Dois homens atraentes. 
Dois profissionais de primeira.
Dois mortos na Líbia.
Duas grandes perdas.
Duas grandes ausências.
Duplo lamento.
Chris Hondros, já indicado para o Prêmio Pulitzer, trabalhava para a Getty Images e Tim Hetherington, indicado ao Oscar com Restrepo, era fotógrafo da Vanity Fair. Ambos morreram na Líbia hoje, durante ataque em que mais dois profissionais ficaram gravemente feridos. Grande pena, o tipo da coisa que me emociona.



Foto de Chris Hondros

Foto de Tim Hetherington

5.4.11

Minha mãe foi pro Japão

Nos primeiros dias após a perda de minha mãe, inventei a fantasia autoprotetora de que minha mãe havia ido morar no Japão, bem longe, no interior, sem Internet...
Quando a dor ameaçava me estraçalhar, eu brincava, comentando: "Mas que droga, ela ter ido pro Japão assim, de repente..."
Minha mãe foi pro Japão.
E então vieram o terremoto e o tsunami, o vazamento nuclear...
Pobre da minha mãe.
Tive de tirá-la às pressas do Japão num avião de sonhos, improvisado, particular, só pra poder levá-la para a Rússia.
Acho que lá não haverá nenhum desastre natural e ela poderá viver em paz, embora tão distante de mim...

(aos desavisados: isso não é um atentado contra a memória de minha mãe. É o tipo de humor que ela apreciaria, como quando fomos uma vez ao cemitério e, em um dos corredores, vimos uma lápide toda preta, de vidro, brilhante, sem qualquer inscrição e, ao um comentário meu de que só faltava mesmo o controle remoto, porque já haviam providenciado a TV de plasma, ela caiu na risada e foi ampliando a brincadeira - e lá fomos nós, descendo as rampas do cemitério desde o sexto andar, rolando de rir, com vergonha do ataque absurdo de apreciação pela vida num lugar tão esquisito)

19 + 34

Dezenove anos atrás, meu irmão, querido, honesto e honrado, partiu deste mundo, aos 34 anos.
Ele deixou de ver muita coisa - na época, mal os CDs tinham surgido. O telefone era seu vício (sorriso, aqui, ao lembrar), e era preciso puxá-lo, praticamente arrancar o aparelho das suas mãos, porque quando voltava de suas viagens, meu irmão caminhoneiro ("internacional", frisava ele, já que conhecia o gelo da Patagônia, além do calor horroroso das terras secas do nordeste do Brasil) grudava-se em seus amigos, por telefone ou pessoalmente.
Ele era chegado na família, mas conheceu apenas dois dos oito sobrinhos que teria hoje, incluindo minha filha, por quem seria louco - seus temperamentos são tão parecidos que às vezes me espanto.
Ele não teve Internet, nem twitter, nem TV a cabo, nem DVD, nem pay-per-view, nem homebanking, nem celular, ipod e tanta coisa que eu já vivi para ver - mas sua vida era brutalmente real, com sofrimentos, perdas, encontros e desencontros, todos acontecendo em tempo e realidade reais.
Seu sorriso era precioso, e sua risada mais ainda (uma risada pequena, gostosa e inesquecível).
Éramos parecidos - fisicamente, e nos medos, nas solidões e anseios, na espiritualidade.
Meu irmão não teve tempo de apegar-se a alguém e casar. Não teve filhos. 
Deixou em minha mãe uma marca feita de lágrimas corrosivas, ardendo para sempre em sua alma. Minha mãe levou alguns bons anos para voltar a sorrir.
Perdi meu irmão quando começávamos a realmente apreciar os adultos em que havíamos nos transformado, e hoje eu precisaria dele mais do que nunca antes (apesar de ainda ter outro irmão amado). 
Infelizmente, meu querido Edinho não está aqui para servir de apoio, mas felizmente não passou pela dor de perder nossa mãe.
Ela está com ele, agora. Os dois, juntinhos (e ela sempre dizia que seria a próxima a morar juntinho dele, quando íamos ao cemitério).



2.4.11

O Homem do Terno Preto

Para mim, existem poucas coisas mais gostosas que ler histórias do Stephen King antes de dormir. Aliás, qualquer livro bom é uma delícia - e este é um prazer que eu havia abandonado, tantos anos indo dormir só quando já caía de sono.
Como a filha de Deus aqui anda selecionando mais os clientes e, portanto, trabalhando menos e ganhando mais, agora sobra um tempinho para esses prazeres.
Eu estava lendo "O Idiota", do Dostoievski, depois que terminei "Cell", do Stephen King. É um livro pra divertir, depois outro mais sério. Só que O Idiota, inegavelmente interessante, me irrita pela tradução antiga e"ultrapassada" com sua linguagem demodê. Sei lá, acho que uma tradução deveria ser atemporal, não com palavras localizadas numa época, e numa tradução que nem sei de onde veio (tá, sei o nome do tradutor, e encontrei no blog da Denise Bottman (http://naogostodeplagio.blogspot.com uma menção de que a tradução é da década de 40... logo, explicam-se as expressões de linguagem beeem chatinhas e a estranheza da tradução)... Então, deixei um pouco de lado o Príncipe Mítchkin e sua traduçãozinha chatinha (não entendo russo - se entendesse, lia no original) e ontem dormi ao som do audiobook do "The Man in the Black Suit", do meu amadíssimo Stephen King, que me salva do tédio da vida.
Audiobook é o "contar historinhas para dormir" versão adulta.
Ah, delícia, botar a cabeça no travesseiro, ligar o notebook (ainda não tenho um Kindle) e dormir sob aquela voz soturna de velhinho dizendo que, em 1914, quando era um garoto....
Pena que o prazer não durou muito. Sou excelente "dormideira". bastam dez minutos na cama e eu me vou pro mundo dos sonhos.
O lado bom é que o audiobook vai durar muito (assim como os livros, que só leio na hora de dormir e, por isso, demoooooro pra acabar - e sou daquelas que livro só é livro se tiver mais de 500 páginas, hehe).
Eu recomendo.

28.3.11

Parece um diamante... um cristal...
... mas é apenas uma gota de chuva no meio da plantinha.
A chuva proporciona belas fotos, e estou apaixonada pelo mundo da macrofotografia, com a câmera Sony de 14 mega HD que me dei de aniversário.
... E se olhássemos tudo com olhos macro, como se fossem fotografias?
Na maior parte dos momentos, passamos pelas coisas sem lhes dar importância, mas tudo é belo, desde a borboleta, passando pela aranha de jardim, até o líquen modesto na laje do quintal. A fotografia é apenas um modo de ampliar a visão das coisas, fazê-las perdurar, como a gota de água que uma hora depois já escorreu do meio da plantinha.

23.3.11

"casas" geminadas? 
(no meu jardim - clique para ampliar)
,
Florzinha simples...
... Mas desde quando existe flor simples?
Cada uma é um deslumbre natural.
(foto tirada no meu jardim - clique para ampliar)

8.3.11

Eu deveria estar trabalhando, mas uma notícia leva-me ao http://www.foxnews.com, dali eu parto para a visualização de casa históricas do Queens (N.Y.) (ah, como eu amo arquitetura...), depois acabo em um site brilhantemente escrito (em inglês), que me toca fundo. A autora diz em http://www.grannymar.com/blog/2008/04/:


People suffering from loss or heartbreak find their body and mind reacting strangely even in normal situations. They experience mood swings. They sometimes avoid places and people that bring up nostalgic memories and can make them weep uncontrollably. Even when you can’t have your loved one back, you may still be able to move on with your life and become a stronger human being. The tragedy of life is not that it ends so soon, but that we wait so long to begin it. The best tribute we can pay a loved one is to LIVE!
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tradução:
"Pessoas que sofreram uma perda ou desilusão descobrem que seus corpos e mentes ainda reagem de modo estranhamente tranquilo em situações normais. Elas passam por oscilações de humor. Às vezes, elas evitam lugares e pessoas que possam trazer à tona recordações nostálgicas e lhes causar o choro incontrolável. Mesmo se não é possível trazer alguém que você amou de volta, ainda é possível ir em frente em sua vida e se tornar um ser humano mais forte. A tragédia da vida não é que ela termina cedo demais, mas que esperamos demais para darmos início a ela. 
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Hoje são oito longos meses sem minha mãe. Tenho passado por tudo o que se passa numa situação assim, com o plus de eu ser uma pessoa extraordinariamente sensível e ter amado minha mãe com verdadeira dedicação. 
Moro na casa que ela construiu e que sempre ajudei a manter. A casa agora é minha, mas sempre digo a mim mesma que é a "nossa" casa. Melhorei-a (fiz muro alto, caiado e branquinho, pintei tudo por dentro, branquinho também, plantei, plantei, arranquei mato, "floreei" seu jardim de novo). Tenho negligenciado minha própria aparência, por falta de tempo (cavoucar, catar mato e pegar pá e enxada não contribuem para a beleza das mãos). Estou mais corada e meus braços são testemunhas das horas ao sol cuidando do jardim. De resto, mobiliei, comprei comprei comprei (e paguei, paguei, paguei), trabalhei muito, cuidei do irmão que se deprimiu (eu nem sei se eu me deprimi, com o luto, não sei dizer qual seria a diferença de uma depressão e o que sinto desde o dia do velório da mamãe). 
Não estou triste. Nem alegre. Eu ando tranquila pela certeza de que faço o que tem de ser feito (sempre). Tranquila por cumprir a promessa que fiz à mãe no último dia de lucidez dela: "Não te preocupa comigo. Eu vou ficar bem. Posso cuidar de ti, de mim e do mundo inteiro, se for preciso. Sempre estarei bem."
Ela sabia que sim. Eu contemplo a vida, ajo quando preciso, penso muito, cuido de quem tem de ser cuidado (sei fazer isso bem) quando preciso, mas...
É muito difícil procurar minha mãe em todos os lugares, e só encontrá-la em minhas lembranças. Difícil ter as lembranças tão vivas que posso quase apostar que, se olhar fixo para a porta, eu a verei vindo ao meu encontro. 
Estou cuidando direitinho das lembranças, das coisas, da vida. Mas...
Ainda evito pessoas que (como no texto do blog que citei) tenho certeza que me causarão um surto incontrolável de choro (a simples palavra "mãe" me traz água aos olhos, agora), ou que me farão sofrer com comentários impensados ("Tua mãe me disse que muitas vezes queria te poupar de sofrimento e por isso não te contou muitas coisas"). Tenho evitado ativamente ver essas pessoas. Antes, eu esperava que, com o tempo, eu poderia confrontar pessoas que me trarão toda a dor e a saudade de volta. Agora, sei que isso é impossível, porque a dor não passa e a saudade só aumenta, a falta que ela faz é abismal e ninguém pode preencher o vazio que era preenchido por seu amor
Já há 8 meses eu evito situações e pessoas. Não sou muito gregária mesmo, gosto bastante da minha própria companhia (me divirto comigo, sou boa companhia para mim mesma, e considero isso uma qualidade). Mas sei que uma hora terei de redescobrir o sorriso verdadeiro, a alegria real, a expectativa de um amor, a emoção de uma viagem, a esperança de um futuro palpável. Uma hora terei de deixar de ser essa pessoa equilibrada, suave, tranquila, que se comporta tão bem ante tudo isso e que não tem mais extremos de tristeza, nem de alegria. 
Hoje, tenho tudo o que sempre quis. Não tenho queixas da vida - nem de Deus, que a levou, porque isso era parte do plano dEle. 
Mas perdi um tesouro, uma âncora, uma joia, um anjo. E com isso, me sinto menos importante, menos bonita, menos querida, menos necessária, menos tudo. Então sigo assim. Vivendo normalmente - sem saber bem o que é viver normalmente, agora.  

2.2.11

Se essa rua se essa rua fosse minha...
Eu mandava eu mandava expulsar
Pagodeiros santarrões e motoqueiros
Só pra ter o silêncio em seu lugar

10.1.11

Parece que estás livre novamente,
eu estou desde sempre.
Parece que estamos livres novamente
para continuarmos perdidos um para o outro
(mas o desejo ainda aprisiona)