
Algumas pessoas vivem no, para e pelo passado.
Referem-se a ele, sempre. Mencionam tempos gloriosos. Agruras. Frustrações. Recordações de amores. Parecem estar sempre apenas com um pé enfiado no agora e todo o resto (coração, mente) nos dias que já se foram.
Detesto o passado.
Não detesto o que passou, mas detesto lembrar o passado.
Eu não vivo o passado. Não escuto uma música e fico relembrando “um grande amor” e revivendo aquela época. Não vejo o nome de um antigo colega de trabalho no Orkut apenas para ficar horas discorrendo sobre “aquele tempo”.
Eu não suporto viver do que já passou.
Sou dez. Dez Dayses, dez fases de vida, dez mulheres em dez fases e tempos diferentes, e sempre preferirei a de agora e mais ainda a de amanhã.
Não ouço mais as mesmas músicas que ouvia dez anos atrás (pelo menos 90% delas enfiei na lata de lixo mental), não uso o perfume que usava dez anos atrás. Não tenho o mesmo homem que dez anos atrás. Não moro na mesma casa que dez anos atrás.
Se insinuam que sou uma fugitiva de mim mesma, posso sacudir os ombros e responder: “So what?” Não me importo com o que pensavam de mim há dez anos e não me importo com o que pensam hoje.
(Confesso que sou vergonhosamente independente, mental, financeira e emocionalmente)
Na minha vida, há uma única constante: a família
Acredito que nossos passos vão se apagando no tempo, nossas pegadas precisam sumir e jamais devemos repisá-las. O único caminho é em frente.
Não lamento nada. Engulo as lições, jogo fora os bagaços e assimilo os frutos da aprendizagem. E sigo em frente.
Creio que os dias são curtos demais, a vida é absurdamente pequena para tanto que se quer e o coração está sempre ansioso demais por bater, para que se perca tempo reprisando filmes (é, raramente assisto reprises), ouvindo milhares de vezes a mesma música com a mesma emoção (ouça-se, mas com emoções diferentes a cada vez), tentando acertar durante anos a fio com uma mesma pessoa que se mostrou a errada desde o início, apanhando na cara, metaforicamente, por tentar capturar uma sombra fugidia de quem já fomos.
Stephen King criou uma história na qual um monstro indizível, invisível, incrível, engolia com um ruído estrondoso tudo o que já havia passado, quando o dia anoitecia.
Sou assim.
Sou minha própria time-eater – eu devoro meu passado para que ele não acabe por me devorar.