Não gostamos de ser larvas. Queremos ser borboletas.
Somos feios um dia,
Vemos o mundo à volta,
Espiamos para fora do casulo,
E temos medo.
Mãos brutas podem tentar nos despedaçar,
Olhos insensíveis não nos percebem,
Seres rudes nos rotulam.
Um dia, nós, larvinhas, andamos zanzando nos muros,
Buscando folhinhas, lambendo gotinhas, rastejando na graminha,
E sentimos rancor vendo borboletas belas nos reflexos das janelas
Até que descobrimos, finalmente, que somos nós as borboletas,
Que basta abrir as asas e partir.
Basta alcançar os céus e viver (ainda que brevemente).
Um dia, tu, larvinha, eras minha.
Borboletaste.
Te afastaste.
E eu fiquei aqui, com toda a grama, todas as árvores, todos os muros, todos os galhos, todas as mãos, todos os ventos fortes aprisionados na intenção de te proteger,
Sem saber que querias descobrir tuas asas.
Descobrir outras casas.
Voar
Bater asas e fugir.
(P.S. - Chorei com teu último comentário e parte do rancor por teres voado começou a sumir. Começou.)