(Atenção: post politicamente incorreto)
Se existe uma expressão mais vazia do que essa, aí em cima, eu não conheço.
Parada na fila do banco, vejo o anúncio no caixa: "Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais).
Primeiro que ninguém "porta" uma necessidade. Que tamanho ela tem? Está embrulhada? Passa na porta giratória? O detector de metais não vai barrar? Será que é perigosa a necessidade especial que estou portando?
Eu posso ter uma necessidade especial. Portá-la é quase impossível.
E o que é uma necessidade especial?
A minha, é de voar. Vai dizer que não é uma necessidade muito especial?
Ou me tornar mundialmente conhecida porque casei com o Brad Pitt. Mais especial que essa, é difícil...
Para outros, a necessidade especial pode ser fechar a boca e parar de comer. Ou de beber.
Mas eles não a portam. Eles têm essa necessidade especial de fazer dieta, ou ficar sóbrios.
Por que, simplesmente, não podemos dizer "Pessoas deficientes"?
Ah, é feio. Ui, que horror. Elas não são deficientes. Podem ser até bem eficientes.
Mas por que raios de repente a palavra "deficiente" se tornou tão repulsiva? Deficiente = com déficit. Ou não é um déficit auditivo? Um déficit de locomoção? Um déficit da visão? Qual é o problema em ter uma deficiência? Minha filha tem deficiência de atenção por ser hiperativa, e eu admito com todas as letras. Sua atenção é deficiente. Eu é que tenho uma necessidade especial de muita paciência extra para lidar com isso.
Aliás, ninguém mais usa "indivíduo" para "pessoa". Indivíduo agora é meliante. Houve um tempo em que indivíduo era qualquer ser humano. Mas agora, todo deficiente é uma pessoa, nenhum é um indivíduo. Graças a Deus. ;-)
Conheço pessoas com carências especiais -- aquelas que precisam de uma cadeira de rodas e não têm, precisam de aparelho auditivo e não têm. São paraplégicas e não esqueceram que existe sexo, mas a sociedade acha que paraplégico teve também a libido paralisada... Claro que essas também são necessidades especiais, mas eu as vejo mais como carências. A surdez não é uma necessidade especial, e sim uma deficiência, uma carência auditiva que leva à necessidade especial pelo uso de aparelho auditivo.
Entendem?
Tenho horror a essas expressões brandas, delicadíssimas que, no fundo, não querem dizer é nada. O desrespeito pelas "pessoas portadoras de necessidades especiais" sempre existirá, e o respeito de quem as vê como indivíduos com deficiências não as diminuirá.
Um comentário:
Gostei deste post.
Também não sou e nem procuro ser politicamente correto... até mesmo porque aquilo que era considerado correto há 100 anos, hoje não é mais, e daqui a 100 anos, quem sabe o que será correto?
As pessoas anseiam por conceitos, e aí caem nos preconceitos... dizer velho é errado, dizer preto é errado, quanta bobagem... o fato de se escolher uma palavra demonstra todo o preconceito embutido nela...
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