12.8.06

Sob inspiração de Ryuichi Sakamoto (The Sheltering Sky Theme)

Desde quando o céu nos protege, se é permeável, se dele nascem raios, descem furacões, enchentes e pedaços de objetos espaciais?
Desde quando o céu nos protege, se acima dele os satélites nos vigiam, nos transmitem, nos emitem, nos paralisam e nos tornam dependentes?
Desde quando é este o céu que nos ensinaram a almejar, se além das nuvens o que estão são os olhares de milhões de sonhadores, zilhões de astros, uma ou outra astronave primitiva aos olhinhos sem escleras dos ETs, galáxias distantes às quais nunca chegaremos e buracos negros que sugam pedaços inteiros do universo enquanto olhamos a lua?
Estranhamente, "The Sheltering Sky", mesmo no filme, não protegia ninguém de nada. Na vastidão dos desertos marroquinos, o céu não apenas não protegia, mas desorientava, e o John Malcovitch morria de sei-lá-o-quê, enquanto a Debra-sortuda-Winger se perdia no planeta levada por um Tuareg e, depois, já sem identidade, via-se como eu desejaria ser um dia, um ser, só um ser, sem passado, nem presente, nem futuro, oca e louca.
Desde quando o céu protege, se nem nossas preces dirigidas a quem lá deveria estar são ouvidas?
Desconfio que o céu-firmamento, céu cinzento, céu pasmacento, foi feito apenas para dividir os mundos. O de cá e o de lá. Desconfio, além disso, que o céu protege sim – mas a eles, do lado de lá, de nós, tão pequenos e mesquinhos, do lado de cá.