15.7.08

Da Série Abobrinhas Pobres

O sonho do bipolar:

"Vou economizar e comprar a Microsoft"

O pesadelo do bipolar:

"Pô, o Gates se aposentou, não posso mais tirar o cara da cadeira da Presidência"

9.7.08

Um nó a menos

Tem a ver com sentir-se sufocado por amores dependentes.
Tem a ver com a obrigação de querer bem a quem nos quer, embora nos mate a certeza de não podermos dar amor ilimitado a quem o suga de nós.
Tem a ver com amar quem é livre e, aí sim, ver a nós mesmos como dependentes, embora teimemos em não criar laços que nos escravizem.

Pronto.

Após quatro anos "mirabolando" toda a história para um segundo romance que está escrito apenas na minha mente, finalmente consegui desfazer o nó no qual trabalhava há mais ou menos um ano -- mesmo sendo apenas mental minha escrita, teimo em escrever histórias críveis, mesmo assim, e não descanso enquanto algo me soa falso e sem razão.

Esta noite, entretida no meu passatempo constante de trabalhar esse filme mental, esse romance puramente em meu cérebro, consegui desfazer um ponto da trama (no finalzinho do livro que ainda não escrevi) que me parecia sem solução.

Dei vivas.

Agora já posso digitá-lo -- se não esquecer todos os detalhes, já que pelo andar das coisas só terei tempo de me dedicar realmente a escrever um livro daqui a uns... muitos anos.

Graças a Deus.

Enquanto isso, Tobias, Luiza, Túlio & Cia serão meus novos amigos -- as pessoas completas que invento, como na "outra" vez, do "outro" livro que escrevi e que mesmo pronto parece não ter coragem de sair de minha casa.

Agora estou com um problema.

Que outra história inventar?

3.7.08

Pensei em colocar uma figurinha engraçadinha para esse post, mas decidi que o assunto é tão sério que não deve ter distração.

O Pronto-Socorro de Porto Alegre registrou uma queda de quase 40% no número de atendimentos a acidentados de trânsito, no segundo fim-de-semana da lei de tolerância zero ao álcool para motoristas.

Sabe o que é quase 40% de redução? Isso significa que, a cada 10 pessoas, quase 4 deixaram de se ferir ou morrer porque alguém pegou a direção após beber.

Posso ser idiota, mas acho que se uma só pessoa deixou de morrer por esse motivo, a lei de tolerância zero já valeu a pena.

Isso não significa que as pessoas vão parar de dar de cara em postes com seus carros, ou de cair de pontes, ou de atropelar gente em paradas de ônibus, ou de ir para casa de táxi porque beberam e esgüelar suas queridas companheiras ao chegar lá.

Significa, porém, que menos gente precisará chorar porque um inconseqüente acha que "não dá nada" encher a cara e dirigir.

Sei que tem gente que acha que sou azeda e que não sei o que é diversão, quando não entendo a graça de encharcar o cérebro com álcool e sair dando vexame, vomitando, se repetindo, falando bandalheira, fazendo impropriedades, enfim, sendo ridículo e patético. Eu não acho divertido perder o controle e ser alvo de pena dos outros. Mas se alguém perde o controle, que pelo menos tenha consciência *antes* de que é melhor poupar a si mesmo e a outros, pegando um táxi depois de beber.

Essa lei de tolerância zero ao álcool para motoristas, para mim, é um sonho tornado realidade.

Já que para muita (mas MUITA) gente diversão é sinônimo de álcool, então que peguem táxi. Se precisam tomar álcool para ficarem alegres, pelo menos não tragam lágrimas a outros, por causa do seu prazer.

Se querem beber, que dêem seus vexames e tirem fotos com aquelas caras de borrachos depois - a vergonha é sua, não minha. Porém, que não exponham outros à sua irresponsabilidade.

Fico mais aliviada ao pensar que as pessoas pensarão um pouco mais, nem que seja pelo temor da multa, da perda de pontos na carteira, da cadeia, do vexame. Há uma frase que diz que as pessoas sempre aprendem por um de dois caminhos: pelo amor ou pela dor. No que se refere ao álcool e direção, talvez aprendam pela dor de não poderem dirigir mais (mas que seja, será menos um louco ameaçando nossos filhos).

1.7.08

Quando cansados do trabalho, tiramos férias.
Para gordos, spa.
Quando desamados, divórcio.
Ao sentir sono, olhos fechados.
Quando chocados, desmaio.
Com grandes danos, coma.

Mas não existe folga para a vida.

O lado negro da morte é que não pode ser apenas experimentada (de fato, e nem me venham com experiências psicodélicas, ácidos e soluções alucinatórias).

Se a vida nos cansa, se é insuportável, se precisamos fugir por um bom tempo (de dívidas, de doenças, de amores, da fome, da dor, do horror), de nada adianta querer a morte se não temos certeza absoluta.

Ora, e se eu quiser voltar?

Precisamos inventar uma morte temporária, um ensaio de morte, algo assim como "Pré-Visualização", como quando escrevemos no blog e vemos como ficará. Faltaria apenas o botão de "Salvar" (ou NÃO SALVAR).

É preciso saber antes como ficará... Sem nós. Sem sentir nada (mas, poxa, como saberei, se não posso optar por voltar para contar?, nem me arrepender e voltar atrás?, nem lamentar minha escolha?).

A única folga para a vida é definitiva, e eu não queria desertar. Apenas, um dia, poder descansar bastante e voltar bem fresquinha (certamente...) e repousada.

Uma coisa é certa: não há folga para a vida. E isso, às vezes, não é nada justo.

29.6.08

E este aqui... (perdoem os homofóbicos)

Doce & Gabbana, "Time". Cliquem aí em cima.

Dolce & Gabbana

Um dos meus perfumes preferidos, num comercial para a versão masculina (a melhor parte é o "Oh dirty, dirty boy!!!") :-)

Amor Maior que a Dor (Precisamos Falar sobre o Kevin)

Às 3 horas da madrugada de hoje eu estava chorando, ao terminar de ler "Precisamos Falar sobre o Kevin", de Lionel Schriver (editora Intrínseca, tradução competente de Beth Vieira e Vera Ribeiro).
Comprei o livro com segundas intenções, para dá-lo à minha mãe e, depois tomá-lo emprestado para ler com calma.
O livro é uma série de cartas que Eva escreve ao marido ausente, Frank, de 8 de novembro de 2000 a 8 de abril de 2001, e nesse período de cinco meses ela disseca toda a sua vida desde o momento em que ela e Frank, então bem sucedidos profissionais, livres, ricos e inteligentes, debatem se deveriam ou não ter um filho.
O filho em questão, Kevin, acaba por assassinar, dois dias antes de completar 16 anos, nove pessoas na escola em que estudava, e em suas cartas a Frank, Eva tenta entender as razões (embora, francamente, ela já saiba desde a primeira linha da primeira carta).
Impressionantemente inteligente, Kevin é um enigma que fascina sua mãe e seus leitores, enquanto o pai o vê apenas por entre as nuvens cor-de-rosa do seu sonho americano do filho perfeito e saudável, jamais chegando a interessar-se por saber quem, realmente, pôs no mundo -- tarefa a que Eva se dedica incessantamente, desde a primeira rejeição do filho recém-nascido ao seu leite, no primeiro minuto do nascimento.
O livro tem surpresas que não pretendo estragar, e recomendo que todos os que pretendam ler o livro não leiam muitas resenhas sobre ele. O bom mesmo é ser pego de surpresa, como eu fui, sem expectativas, sem saber o que virá a seguir.
Confesso, porém, que a partir das primeiras páginas eu fui chegando a certas suposições (não é à toa que há 21 anos eu traduzo psicologia) e todas elas revelaram-se verdadeiras,no fim do livro. O que não tirou seu mérito e, ao contrário, fez brotar um choro do fundo da alma, nas últimas páginas.
"Precisamos Falar sobre o Kevin" não parece ficção, muito menos algo escrito por alguém tão jovem quanto Lionel (que é mulher, apesar do nome), que sequer tem filhos.
O original foi recusado por 30 editoras, antes de ser aceito para publicação -- e ganhou prêmio de livro do ano, na Grã-Bretanha.

5.6.08

Meu novo blog

Visitem meu novo blog (clicando em "Meu novo blog").
É um local onde exponho capas dos livros que já traduzi, falo um pouquinho de cada um e sobre outras coisas ligadas à minha vida como tradutora.
Em caso de dúvida, o link é
http://www.almadasletras.blogspot.com

30.5.08

"Nunca" é uma casa vazia
(o eco do que eu fui permanece)
"Sempre" é o teu olhar preso no cristal do colar
"Talvez" são os cabelos úmidos e o vestido de verão.

"Jamais" é o espaço do resto das nossas vidas.

13.5.08

Com quantas rugas no rosto
se conta um desgosto?

12.5.08

Diário de Uma Mulher Comum XV

Em um dia lindo de sol, perfeito para um Dia das Mães, sinto-me feliz.
Feliz porque minha filha está ali, criando curvinhas no corpo de mocinha que se descobre a cada dia. Feliz porque as birras do passado transformam-se em entendimento do mundo e em compreensão. Feliz porque em um Dia das Mães perfeito, ganho beijo, cartão artesanal precioso e belo, feito por uma menina que já nasceu artista, presentinho comprado por ela mesma com dinheiro de sua mesada, carinho aos montes.
Em um Dia das Mães perfeito, o pai da filha, com quem não vivo há anos, liga para me parabenizar -- e isso nos faz feliz (à minha florzinha e a mim), dando um sabor de plenitude e de tudo estar redondo.
Não digo que aquele Fantasma não me assombre ainda.
Sim -- aquele temor insidioso de uma tragédia sempre me assombra, e desde a morte do meu colega Paulo passei umas duas semanas no mais fundo esconderijo de minha alma, catando todos os monstrinhos que brincam de me aterrorizar com o pânico de, um dia, deixar minha filha desamparada -- que mãe não se pela de medo disso?
Não digo que eu não me condene por pensar demais. Não que eu rumine. Não. Não sou de ruminar coisas e criar besteiras sem fim em fantasias ansiosas-paranóicas. Sou pé-no-chão, bem realista até. Mas tenho o defeito de não saber pensar devagarzinho, só na superfície, de leve e em pedaços. Eu penso rápido, profundo, pesado e inteiro. E esses pensamentos são, às vezes, como tijolos, porque quem pensa assim não consegue fugir nem de si -- precisa sempre ver a verdade em tudo, inclusive em sua alminha fugidia.
Ainda me sinto velha em alguns dias -- na TPM, mostly -- e ainda me cobro por não sair pra caminhar ou correr no parque ou malhar ou pedalar ou dançar-qualquer-coisa-assim às sete da manhã faça chuva ou faça sol.
Ainda me sinto obcecada com a idéia de quem preciso de CÉU pra viver. De que preciso MUITO de flores, verde, água, chuva, raios, cão, gatos, qualquer coisa menos asfalto -- e de que um dia terei de recuperar essas coisas que abandonei porque preciso que minha filha tenha um bom colégio, e bom colégio na cidade envolve apartamento que não é cobertura, não tem sacada, não tem vista ampla, não é térreo, não é em andar alto (é apenas um apartamento que posso pagar e onde cabem minhas coisas com tranqüilidade).
Ultimamente, outra "obsessão" (que passará, eu sei), infiltrou-se nesses pensamentos profundos. A vontade de adotar uma criança. Ou de namorar alguém que já tenha filhos, para eu "adotá-los" como meus também. Uma ânsia que nunca será satisfeita de ter tido 12 filhos (como não sou louca, tive apenas o número de filhos que achei que podia sustentar -- uminha, uma única, e que é tudo o que desejei). Mas isso passará, porque não poderei sustentar mesmo, não arranjarei namorado com filhos mesmo (quem quase não sai de casa não arranja namorado...)...
Entretanto, por um dia inteiro, posso ser feliz.
Posso ser feliz junto à minha mãe saudável. Junto à minha filha surpreendente e incrível.
... Mas Dia das Mães não é pra isso mesmo? Para descobrirmos que tudo o que precisamos na vida está ali, na figura da filha e da mãe?

22.4.08

Diário de uma Mulher Comum XIV

Li, em algum lugar, que quando alguém morre, é o fim do mundo.
Não para quem fica. Não para os parentes enlutados. Não para os amigos que sentem a dor brutal da perda. Não para os clientes, os credores, os amores.
Todos os dias o mundo acaba.
Para quem morre, o mundo acaba-se.
De repente, não mais os amores, não mais as canções, não mais os clientes, não mais os risos, nem preocupações, emoções, esperanças, planos, problemas.
Com um grau maior ou menor de sofrimento, o mundo acaba para quem fecha os olhos pela última vez.
Talvez haja outro mundo -- não sei.
Sei que existem coisas que não se pode explicar.
O mundo acabou-se para o Paulo, tradutor gaúcho e colega, ante-ontem no fim da manhã.
Antes de ante-ontem, eu o vi quando o mundo quase terminava para ele e, desde então, o mundo para mim ficou meio trêmulo, meio oscilante, meio incerto e desconcertante. Choque. Emoção. Tristeza.
Embora o nosso mundo tenha se apagado para ele quando fechou os olhos para sempre, eu quero pensar em algo que lhe deu alegria e que talvez sirva para dar alegria a mim também, embora não possa compreender direito como funciona um outro mundo que às vezes se mostra nesse estado brumoso entre o sono e a vigília.

Alguns anos atrás -- não sei se três, quatro ou cinco --, liguei para o Paulo em uma certa manhã. Não sabia se deveria. Não queria que me considerasse uma delirante-louca-desequlibrada-ridícula. Mas liguei, porque o sonho que eu havia tido não pertencia a mim, mas sim a ele.
Perguntei-lhe, brevemente, se a sua mãe era viva. Ele respondeu que sim, muito surpreso. Eu ri, e lhe disse, então, que apenas lhe contaria meu sonho, mas que ficava aliviada ao saber que sua mãe estava viva e bem.
No sonho, a mãe do Paulo havia morrido, mas me pedia para dizer-lhe que estava bem, e que ele não devia preocupar-se com nada. Que ela não sofria e que, ao contrário, estava tranqüila e que ele precisava saber disso.
Alguns dias (não recordo quanto tempo) depois, o Paulo ligou-me, e eu já nem lembrava mais dos detalhes que lhe contara daquele sonho, mas ele recordava cada palavra. Ligava-me para me dizer que sua mãe havia falecido, mas que ao pensar naquele sonho que eu lhe havia transmitido, sentia-se muito melhor.

Sempre tive esses sonhos estranhos que não me pertencem. Somente duas vezes transmiti aos outros, porque achei que era meu dever (em geral ficam na família, e na maior parte das vezes, são certeiros e nunca bons). Na segunda vez que sonhei e achei que deveria transmitir à pessoa, felizmente o sonho era um absurdo bobo, que não tinha nada a ver com a sua realidade, e já não recordo o sonho direito. Com a mãe do Paulo, também pode ter sido uma coincidência incrível, sonhar com uma mensagem positiva de sua mãe falecida antes, para que, quando ela fosse embora, ele tivesse algum consolo.

Agora, não sonhei nada com o Paulo, não daria uma de profeta forçadamente, não diria que "já sabia".

Não sabia, não, e quando eu soube da sua doença, apenas 10 dias atrás, senti o mesmo choque que todos sentiram. Que só aumentou ao vê-lo no hospital, no sábado. E que se transformou em tristeza dolorida no domingo, em seu sepultamento (na mesma capela do mesmo cemitério onde meu pai foi velado e enterrado).

Queria ter a certeza que o mundo do Paulo não terminou. Não tenho -- logo eu, tão "espiritualizada", tão "isso", tão "aquilo", tão agarrada a qualquer chance de acreditar em algo.

O nosso continua, com a lembrança dele -- que teve o "azar" de falecer em um feriadão. Sei que no futuro isso não importará nada, mas teria sido reconfortante para a família se um grupo maior de nós, tradutores, estivéssemos lá para apoiar, demonstrar nosso carinho, levar flores, essas coisas. Mas o Paulo deu azar. Faleceu num feriadão.

Assim como outra pessoa de quem eu gostava e que faleceu no mesmo dia que o Paulo, mas à noite, de ataque cardíaco, dentro da casa onde eu morei por 6 anos e que era vizinha da minha mãe. Ô, mundo.

Paulo fechou os olhos -- mas de um modo muito peculiar, me deu umas duas ou três lições de humildade muito pessoais, além de bons bate-papos ao longo de uns sete anos. Poucos papos. Poucos encontros frente a frente. Mas vários momentos de gratidão, de gentileza, de risadas e de sensatez.

O fim do mundo chega para todos -- eu só espero que alguém diga, de nós, o que ouvi dos familiares dele. Que era um pai para todos. Que era um ser humano generosíssimo. Que pensava sempre primeiro nos outros.

Difícil esquecer alguém assim.

Sei que a morte não pode ser entendida além do fim físico. Eu, que já a vi tantas vezes, em encontros tão significativos, acho que ela serve apenas para ensinar os vivos a viverem melhor. E o Paulo me deixou uma ou duas lições sobre isso.

Dayse -- após um fim-de-semana "inesquecível" e ainda meio perdida nas reverberações emocionais.

2.4.08

Minha indignação é dolorida, meu coração é apertado e meus dias, preocupados.
Meu espanto não é novo, e meus berros são eternos (não de agora, não dessa vida, tenho certeza).
Pensando em
Mariana Almeida Andrade,
Isabella Nardoni
e tantas outras meninas, cujas mães perguntam-se, desesperadas, onde estão suas filhas e seus braços abraçam agora o vazio, peço que minhas amigas perguntem-se, sempre (como eu me pergunto, sempre que minha Letícia não está ao meu lado):

ONDE ESTÃO MEUS FILHOS?
COM QUEM ESTÃO MEUS FILHOS?

... Que minhas amigas e todas as mulheres e homens do mundo que amam seus filhos possam sempre responder a essa pergunta com tranqüilidade.





31.3.08

Adriano e a Parede

Adriano construiu sua muralha para proteger-se dos "bárbaros" da Escócia.
Adriano, o imperador romano, era um construtor de muros ;-)
Eu deveria me chamar...
Adriana?

29.3.08

Enquanto o nordeste é inundado, o Rio Grande do Sul enfrenta uma seca terrível.
É tanta, que os peixinhos estão morrendo desafogados...

23.3.08

Frase da Letícia, minha filha, 12 anos 5 meses:

"Mãe, sonhei com a continuação

de um sonho que nunca tinha tido".

8.3.08

Primeiro, constróis uma esfera
Então, a enches de esperanças
Por fora ela se mostra fria e bela.
Intransponível.
Depois, pensas onde erraste
Ao fixar tua espera
No mundinho sem ar
Da tua protegida cela

11.2.08

Diário de Uma Mulher Comum

Na bula do medicamento para infecção urinária constam vários efeitos colaterais: dor de cabeça (sim senhor, tenho, e de 0 a 10 mereceria um 8,5), confusão mental (concordo, a tal ponto que desisti de tentar entender as frases do livro que traduzia ontem e fui dormir) e outros, que talvez eu tenha, mas nem percebi.

Na bula não diz que o remédio dá depressão. Diz que pode causar alucinações e paranóia. Mas não fala em depressão.

Coincidência ou não, desde que comecei a tomá-lo, 4 dias atrás, o mundo me parece cinzento. Mas também o dia está cinza, chove há 4 dias, os moços que pareciam gostar de mim não têm se pronunciado, está friozinho (20 graus no verão), o que me faria muito feliz se eu não estivesse deprimida, a grana é curtíssima (e pensar que tenho muito dinheiro a receber, mas ainda não chegou), é véspera de minha filha passar uma semana com seu pai novamente, nesse fim de férias...

Motivos para não dar pulos de alegria eu tenho. Mas não tenho razão para querer fechar os olhos e acordar daqui a um mês.

Não sei se o remédio dá depressão, mas me sinto como se. Tenho olheiras profundas, lábios de mau-humor, olhar sem brilho.

Meu amigo Steven me manda um email falando de Valentines Day, e lhe respondo que morro de inveja de uma amiga que está sofrendo de amor. E o que eu não lhe disse é que estou pensando em assassinar este blog.

Digo ao Steven que, pelo menos aqui no Brazil, muita gente faria qualquer coisa por um emprego melhor, por moradia decente, por um simples prato de comida. Eu faria quase qualquer coisa para sentir paixão real. Minha amiga sofre, e eu invejo suas mãos trêmulas e seus olhos vermelhos. Ela anda produtiva, em seu sofrimento, escrevendo melhor que nunca. E eu sofro porque todas as minhas tentativas de me apaixonar passam, como se eu acendesse um fósforo e ele em seguida se apagasse, sob um vento forte. Minhas tentativas de paixão são somente isso: tentativas.

Não conheço maior esterilidade do que a de um coração incapaz de se entregar.

Há pessoas que desejariam ser objeto da paixão de alguém. Eu não, apesar de saber que há quem goste de mim. Eu não faço questão de ser amada e saber que sou não me engrandece nem me envaidece. Ser objeto de paixão de alguém já me é indiferente. Eu não preciso ser correspondida. Não mesmo. O que me dá verdadeira angústia e desespero é a imunidade a esse sentimento. No momento em que me vejo apaixonada... já passou.

E por me ver sedenta no deserto, como em algum post do início desse blog em que eu falava exatamente sobre esse mesmo assunto, percebo que me tornei repetitiva, berrando (lamentando, gemendo, cantarolando, sussurrando) o tempo todo que quero, desejo, preciso me apaixonar.

Sendo assim, por falta absoluta de assunto (e excesso de traduções a fazer, bata na madeira), deixo em suspenso esse blog-nada, esse blog que não disse ao que veio, ou que já disse tudo o que precisava ser dito... Whatever.

Em março começo a freqüentar academia. Em março começa o estresse de cuidar das lições da filha e tudo o mais que acontece durante o ano letivo. Em março jurei que vou batalhar e mandar meu livro para as editoras (promessa que faço a mim mesma há 3 anos e não me animo). Em março eu me vejo louca com mais traduções do que consigo produzir (e disso não me queixo). Em março... ou em abril... em maio ou junho. Sei lá quando, mas algo terá de acontecer. Aí eu volto. Ou excepcionalmente antes disso, mas só se alguma mágica acontecer ou um mágico aparecer no meu coração.

Beijos a todos.

9.2.08


LIGHT MY FIRE!
(please)
I wanna feel like it's November, like I'm new to myself, like I'm in love (although the love for being in love should come first, within myself to burn you within me). Light my soul and then burn my body all over with the flames that -- I'm sure -- you've been hiding even from yourself for all these years (you're always so afraid to shine...).

25.1.08

Breve Investida do Destino no Meu Dia (comentário para a Dekka)

Para quem é louca por tecnologia e metida a técnica, como eu, nunca falta um cantinho da casa onde acumulam-se coisas do passado recente (tudo muda tão rápido!) -- cabos, extensões, conexões, aparelhos dos quais se podem aproveitar peças.
Vou ao balcão procurar um cabo de TV para trocar aqui no meu aparelho do quarto e, remexendo, encontro o tal cabo -- dois deles, até, e a minha velha secretária eletrônica. Está ali, e não lembro por que não a joguei fora. Exceto pelo adaptador, eu acreditava que não serviria para nada.
Por via das dúvidas, ligo na tomada e tudo acende. Inclusive o mostrador de mensagens gravadas que eu quis guardar um dia. Quatorze delas, supostamente importantes.
Vou voltando, da décima quarta até a mais antiga (todas de 2004). O primeiro contato da minha editora preferida que chegou até meu nome não lembro como; a voz da minha mãe dizendo "Hora de acordar!", meu anjo de Los Angeles ligando três vezes e reclamando, com sua voz grave, que primeiro só dá ocupado e quando finalmente acha que vai falar comigo, cai na secretária (tempos de conexão discada com a internet, baby); a voz da minha Letícia, então com 9 anos, me ligando da casa do seu pai para dizer "Mãe, só vou voltar depois do almoço, tá?" e então...

Aquela ligação sempre havia sido um mistério para mim.
Era um sussurro, apenas. Eu sabia quem era. Mas não entendia o que ele dizia, após o "Dayse, me liga." Era mais que sussurrado, o que ele subitamente suspirava no telefone, como se contasse um segredo medonho. Era dito de um modo que só poderia ser interpretado como "Tchau".

E hoje, ouvindo meia dúzia de vezes, em volume alto, subitamente entendi.
"Dayse, me liga.................. eu te amo".

Dekka, está aí o teu "E se". E se, em 2004, eu não tivesse bloqueado a minha mente e tivesse escutado o que H. realmente havia dito? E se, furiosa com ele, como sempre, eu não tivesse resolvido acreditar que era um "tchau" entrecortado, quase inaudível, como uma voz de espírito naquelas fitas horrorosas que circulam na Internet (transcomunicação, eles chamam)? Devo ter ouvido duas vezes apenas aquela mensagem, na época, e deixado para lá. Por que perderia meu tempo com aquele materialista que só pensava em comprar coisas e preferia mostrar objetos a mostrar seu interior? Devia ser um "tcha-au", a voz quase inexistente na gravação.

Não era. Era um "eu te amo", dito rapidamente, com medo até de pronunciar as palavras.

Que diferença faz isso agora?

Acho que nenhuma, como já te disse, Dekka. Porque se preferi não escutar a declaração na época, foi por não acreditar nela. E se é repetida agora por escrito, quase quatro anos depois, apesar de talvez ter sido real na época e ainda ser, agora.. os motivos para "não escutar" talvez sejam os mesmos.

Depois de manter minha boca aberta por uns 15 segundos, espantada, calei o fantasma do murmúrio eletrônico e joguei o aparelho de telefone fora, porque não carregou a bateria e, quando o abri, estava tudo enferrujado. Mas mantive a base com as mensagens "inesquecíveis". Talvez um dia eu esqueça por que pareciam inesquecíveis. Talvez um dia eu entenda por que dou tão pouca importância a esse fantasma de corpo bom, mas mente tortuosa, que me assombrou um dia e retorna sempre -- por músicas que escuto, por pequenas dores lembradas e por assaltos súbitos de desejo inoportuno.

A alma, meu demônio. A alma. Quando a entregares, talvez...

19.1.08

A alma, my demon, a alma...

É certo que minha vida faz-se por música.
Ele me deixa um recado bitter-sweet. Sempre sweet, mas bitter porque deixamos de viver algo e nunca saberei como teria sido. Eu presumia que sua alma encontrava-se com a minha quando nossos corpos estavam separados, porque quando os corpos encontravam-se, não sobrava espaço entre nós para outra coisa. E eu sentia, literalmente, que meu espírito se afastava de mim, perto dele. Sentia sono, sentia frio, sentia uma solidão que não sabia explicar, perto dele. E na distância, o sentia tão próximo...
É certo que noite e dia eu respiro música (além das letras das traduções), e cada pequenina coisa que me ocorre me traz as palavras de uma canção, como se eu, desregulada e esquizo, ouvisse vozes. Sempre.
Mas a voz dele me chega em palavras escritas.
eu te amo
(...)
eu sempre vou te amar
viva a dayse

E então a voz dele some e meu cérebro lhe responde imediatamente. Em uma fração de segundos, me vêm as palavras de outros para dizer-lhe o que sinto.
É triste que teu olhar doce tenha me fugido. É triste amar alma, e apenas isso. É triste e doce, a certeza de amar assim, descarnados nós, amar espiritualmente, e ainda com saudade da carne. Mas se carne nos bastasse, seríamos bem felizes. O que faz falta é a alma, meu querido H. E isso temos, mas não nos bastou.

The Lettermen
Love me like a stranger


Where is all the fire,
all the wild desire,
that we felt before?
The hunger in your touch,
that made you give so much,
and want me more and more.
When it all began,
the woman and the man,
were wilder than the sea
brighter than the sun,
but look what time has done,
today to you and me.
Can't we try pretending,
that we met today,
letting our emotions
carry us away.
Tasting for the first time,
lips we've never kissed.
Recapturing the feeling
that we both have missed.
(Chorus:)Love me like a stranger
who walked into my life.
Love me like this feeling
will only stay the night.
Hold me till I beg you
not to say good-bye,
I want to meet the stranger
hiding in your eyes.

15.1.08

Sinceramente (Cachorro Grande)



Ok, a musiquinha é de adolescente, a letrinha é simples, a melodia é grudenta, mas eu também tenho meus momentos "sem-noção" de romantismo doce. E esses momentos andam durando, desde que ouvi o Cachorro Grande cantando isso, faz tempo. Coincidiu com o momento em que comecei a pensar em uma pessoa especial, e a letra da música diz tudo. Gosto de seu charme, do seu groove e de como rola com esse homem distante. E muito. Tanto que só agora, meses depois de ouvir a música pensando nele, eu a ponho aqui, esperando que ele capte a mensagem sem que eu precise citar seu nome, sobrenome, etc. Por gostar tanto dele, acho que "Some things are better left unsaid", como já disse a Annie Lennox em "Why". But I say it anyway.
Com quanta ausência se faz um bolo de saudade?
Por quanto tempo se deixa na geladeira o desejo, antes de aquecer para o consumo?
Quantas pitadas de malícia e sutileza temperam a ânsia de ter-te ao meu lado?
Cozinha-se a espera durante quantos dias? Meses? Anos?
E qual a validade da tua receita de aflição amorosa, antes que tudo se deteriore e seja jogado fora?
Ou não é perecível, isso que juntas em mim com maestria dos grandes chefs e deixas prontinho para um grande banquete, privado e sem convidados, no bistrô do teu coração?