Feliz porque minha filha está ali, criando curvinhas no corpo de mocinha que se descobre a cada dia. Feliz porque as birras do passado transformam-se em entendimento do mundo e em compreensão. Feliz porque em um Dia das Mães perfeito, ganho beijo, cartão artesanal precioso e belo, feito por uma menina que já nasceu artista, presentinho comprado por ela mesma com dinheiro de sua mesada, carinho aos montes.
Em um Dia das Mães perfeito, o pai da filha, com quem não vivo há anos, liga para me parabenizar -- e isso nos faz feliz (à minha florzinha e a mim), dando um sabor de plenitude e de tudo estar redondo.
Não digo que aquele Fantasma não me assombre ainda.
Sim -- aquele temor insidioso de uma tragédia sempre me assombra, e desde a morte do meu colega Paulo passei umas duas semanas no mais fundo esconderijo de minha alma, catando todos os monstrinhos que brincam de me aterrorizar com o pânico de, um dia, deixar minha filha desamparada -- que mãe não se pela de medo disso?
Não digo que eu não me condene por pensar demais. Não que eu rumine. Não. Não sou de ruminar coisas e criar besteiras sem fim em fantasias ansiosas-paranóicas. Sou pé-no-chão, bem realista até. Mas tenho o defeito de não saber pensar devagarzinho, só na superfície, de leve e em pedaços. Eu penso rápido, profundo, pesado e inteiro. E esses pensamentos são, às vezes, como tijolos, porque quem pensa assim não consegue fugir nem de si -- precisa sempre ver a verdade em tudo, inclusive em sua alminha fugidia.
Ainda me sinto velha em alguns dias -- na TPM, mostly -- e ainda me cobro por não sair pra caminhar ou correr no parque ou malhar ou pedalar ou dançar-qualquer-coisa-assim às sete da manhã faça chuva ou faça sol.
Ainda me sinto obcecada com a idéia de quem preciso de CÉU pra viver. De que preciso MUITO de flores, verde, água, chuva, raios, cão, gatos, qualquer coisa menos asfalto -- e de que um dia terei de recuperar essas coisas que abandonei porque preciso que minha filha tenha um bom colégio, e bom colégio na cidade envolve apartamento que não é cobertura, não tem sacada, não tem vista ampla, não é térreo, não é em andar alto (é apenas um apartamento que posso pagar e onde cabem minhas coisas com tranqüilidade).
Ultimamente, outra "obsessão" (que passará, eu sei), infiltrou-se nesses pensamentos profundos. A vontade de adotar uma criança. Ou de namorar alguém que já tenha filhos, para eu "adotá-los" como meus também. Uma ânsia que nunca será satisfeita de ter tido 12 filhos (como não sou louca, tive apenas o número de filhos que achei que podia sustentar -- uminha, uma única, e que é tudo o que desejei). Mas isso passará, porque não poderei sustentar mesmo, não arranjarei namorado com filhos mesmo (quem quase não sai de casa não arranja namorado...)...
Entretanto, por um dia inteiro, posso ser feliz.
Posso ser feliz junto à minha mãe saudável. Junto à minha filha surpreendente e incrível.
... Mas Dia das Mães não é pra isso mesmo? Para descobrirmos que tudo o que precisamos na vida está ali, na figura da filha e da mãe?
3 comentários:
Oi!
Passando...
Bom dia, Dayse.
Passando aqui para retribuir a visita. Irei repeti-la, com certeza.
Embora fora do post, quero dizer que adorei a música do Cachorro Grande, pouco conhecido por estas bandas.
Tomara que o "homenageado" tenha se tocado...rsrs.
Abraços.
Carlos Z O Junior
Daysoca,
se divulgar essa obsessão, garanto que vai chover candidato :-)
quer vir pra cá? pras Prairies?
Parabéns pela data. Letícia está um amor!
--quote--Ou de namorar alguém que já tenha filhos, para eu "adotá-los" como meus também. Uma ânsia que nunca será satisfeita de ter tido 12 filhos ---unquote
bj
Susana
que também quis meia dúzia no mínimo...
mas a Roda Viva...
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