28.2.07

E por falar em dia perfeito...








Começou com um plano simples: passar dois dias e um pedacinho de outro em um lugar tranqüilo para atender minha sede de natureza e a promessa feita à filha de que a levaria para cavalgar à vontade.

Descobri um lugar e pessoas que imediatamente conquistaram meu coração.

Vacaria fica a 910 metros de altura, uma das cidades mais altas do Rio Grande do Sul. E meu plano simples era, além de deixar minha filha andar a cavalo, viajar para longe (4 horas de Porto Alegre), para um lugar que eu não conhecia.

Na passagem, em Caxias do Sul, pensei "naquele gringo" e lamentei não ter levado Johnny Lang no MP3. Se mãe e filha não estivessem comigo, acho que teria dado uma de louca e ligado do celular dizendo "Oi, tô passando pela tua cidade, queres me ver?". On second thought... Melhor não. Já pensou se a resposta fosse um sonoro e cantado (no seu sotaque gracioso) "nããããoooo..."?

Anyway.

Meu plano simples levou-me a uma cidade aparentemente sem graça e decepcionante, ao chegar lá quando escurecia.

Logo ao descer do ônibus, veio ao nosso encontro o Heitor, com quem eu havia conversado ao reservar o apartamento na pousada. Moço bonito, educado e cheio de histórias, que nos levou até nosso destino final enquanto caía a noite e nos contava um pouquinho da história de Vacaria. E eu ouvindo. E ouvindo. E ouvindo (quisera escutar a noite inteira). E, por ele, eu soube que Vacaria não é tão feia assim, não (pena que não pude conferir realmente, já que a pousada é um pouco afastada da cidade).

Para resumir uma longa história (pois tudo que se sente verdadeiramente, de coração, tende a penetrar muitos níveis na nossa consciência, trazendo associações e fazendo com que tudo seja ampliado e adquira mais sons, mais cores e mais detalhes do que aparentemente teriam, aos olhos desinteressados de um observador casual -- eu não observo nada casualmente):

Eu nunca, nunquinha, havia estado em um lugar como aquele. Comer bem, à vontade, todas as refeições e mais cafezinho livre, leite das vacas de lá mesmo, chá, e ainda mais pipoca quentinha no meio da tarde, como se fôssemos visitas, não hóspedes. Ver minha mãe saindo para "passear" com a dona da pousada que ia à cidade fazer compras. Ouvir essa senhora muito bonita que, com seus 78 anos, tem histórias que não acabam mais, uma mais interessante que a outra.. Conviver com outros hóspedes como se estivéssemos em uma sala de estar, num sábado chuvoso... Andar a cavalo na companhia de uma instrutora também cheia de histórias e delicadeza, que nos chamava a atenção para uma lebre que passava veloz na nossa frente, para o casalzinho de corujas quietinho no chão...

Eu nunca havia estado em um hotel ou pousada onde houvesse um armário cheio de livros - de romances a Dicionário Aurélio - tentando-nos a ficar mais dias, para poder escolher um durante um inverno tenebroso como devem ser os invernos por lá.

Vídeos aos montes, também (não vi DVD...).

Acesso em Banda Larga à vontade (pena que o Norton anti-vírus deles deixe o computador se arrastando...).

Funcionários que dá vontade de trazer junto para a nossa casa.

Boa-vontade e simpatia que não acabam mais.

Sempre amei a natureza. Sempre amei pessoas de todas as cores, idades e tendências.

Encontrei na Pousada Capão do Índio a união do que me faz sentir viva.

QUERO VOLTAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRRR! (É só arranjar tempo e dinheiro...)

http://www.capaodoindio.com.br

Ele



(ELE falava à minha alma e eu o escutava. Quando começou a falar apenas para os meus ouvidos, desliguei corpo, cérebro e coração. Mas me faz sentir querida, com a música que chama "Perfect Dayse". Em um mundo perfeito, H., eu te amaria e seria feliz - e melhor ainda, tu me amarias também.)

Lou Reed - Perfect Day
Perfect Day

Just a perfect day,

Drink Sangria in the park,

And then later, when it gets dark,

We go home.

Just a perfect day,

Feed animals in the zoo

Then later, a movie, too,

And then home.



Oh it's such a perfect day,

I'm glad I spent it with you.

Oh such a perfect day,

You just keep me hanging on,

You just keep me hanging on.



Just a perfect day,

Problems all left alone,

Weekenders on our own.

It's such fun.

Just a perfect day,

You made me forget myself.

I thought I was someone else,

Someone good.



Oh it's such a perfect day,

I'm glad I spent it with you.

Oh such a perfect day,

You just keep me hanging on,

You just keep me hanging on.



You're going to reap just what you sow,

You're going to reap just what you sow,

You're going to reap just what you sow,

You're going to reap just what you sow...

12.2.07

Innocence



Innocence, produção francesa de 2004, é um filme perturbador. A história começa quando um caixão chega a uma espécie de internato/prisão/escola para moças e dele sai uma menina vivinha da Silva, que então é cuidada por um grupo de meninas, variando dos 6 aos 12 ou 13 anos. Vivem em um lugar sem contato com o mundo exterior, são "codificadas" por cores nas fitas dos cabelos e usam apenas roupas brancas, o típico uniforme que faz pedófilo babar. Aliás, o filme inteiro é sutilmente convidativo para instintos mais básicos e baixos, embora não haja absolutamente nada explícito.
As menininhas têm aulas intensivas de balé e de biologia e se preparam todas para algo que as menores não sabem o que é e que para o espectador também não fica claro. Todas as noites, ao atingir certa idade, uma delas vai a um lugar misterioso aonde as menores são proibidas de ir, mas o espectador não a acompanha e, portanto, não sabe qual é ou o que acontece nele.
Elas não sorriem, não recebem visitas, não sabem o que é afeto de um adulto e até menstruarem não vêem sequer um homem. Como chegam muito jovens, em pouco tempo já não perguntam sobre família e seu universo torna-se o dia-a-dia nos prédios em meio ao bosque.
Ao final de sua "formação", as meninas são levadas e largadas no meio de uma grande cidade, em local público. E mais uma nova "aluna" chega em um caixão ao internato.
Eu tirei minhas conclusões, mas o filme é aberto a várias interpretações para as pistas assombrosas e desconfortáveis que vão sendo lançadas. O problema é que quando chegamos à conclusão mais ou menos óbvia, julgamos terrível demais para ser verdade
Belíssima fotografia
Aos que não gostam de filmes lentos, um conselho: assistam mascando chiclete para não caírem no sono, porque vale a pena.

7.2.07


Tu lamentas por quem não precisa dos teus lamentos.
O sábio não lamenta pelos vivos, nem pelos mortos.
Nunca houve um tempo em que eu não existisse,
Nem tu, nem esses príncipes dos homens.
Nenhum de nós jamais morrerá:
O irreal não há, e o real jamais deixa de ser.
Bhagavad-Gita