26.1.05

Special

... Some people are so special in our lives that, like a sacred love, like a saint, like some deep secret kept safe from the world’s ugliness, we want to keep their very existence for ourselves. In case you know someone that special, you know how I feel. We don’t want to share anything about this person with anyone. We don’t want to hear his name said by any other person. We don’t want to even say his name aloud.

But I’ll say it.

Steven.

You are one of the most beautiful persons I’ve ever, ever known, FRIEND.

(I could have fallen in love with you. But I shouldn’t, so I didn’t. Or did I?)

24.1.05

... Como podem faltar palavras a um tradutor?

... Como o geriatra diz ao paciente com memória falha que não se lembra qual é seu problema?


... e o nutricionista gordo, como faz?

... e como fica o psicólogo em um dia de fúria?

... e o guia turístico que nunca tira férias?



23.1.05

Cabeça de Melão



A prima vem com minha tia A. à minha casa.

E me conta que um dia desses foram visitar outra tia, que chamarei de M.

Tia A. já ia entrando no carro da filha no fim da visita quando sentiu-se mal e, com as pernas longas para fora do carro, começou a vomitar. A prima, que segurava um melão, não sabia se acudia a mãe para evitar que caísse e batesse com a cabeça na calçada e jogava o melão pro alto, ou o quê. Fincou sem piedade o melão sobre uma grade do portão já fechado da tia M. que, ao ver a irmã mal, tornou a abri-lo, fazendo suco de melão instantâneo.

Nisso, o gato e o cachorro saíram correndo para a rua, e tia M. que desde que enviuvou morre de medo que algo aconteça com as crianças que restaram, olhou rapidamente para a tia, rapidamente para o gato, rapidamente para o cachorro, e decidiu dividir-se em duas – partindo em zigue-zague atrás ora do gato, ora do cachorro, enquanto tia A. esvaía-se em vômito, e chamando “Fifiiiiiiiiii” pela rua do bairro e atraindo a vizinhança domingueira, que já conhece seus chiliques com os surtos repentinos de rebeldia dos bichinhos.

Caçados os animais, fechado o portão, melecada a calçada de melão, ela ofereceu gelatina à irmã. Gelatina líquida, que acabara de guardar na geladeira – para não deixar a vomitante de estômago vazio. Teve a oferta recusada, mas não se intimidou, mandou-as esperar e voltou de lá carregando dois copos da coisa vermelha.

Ao abrir o portão, a cena repetiu-se, com o saldo de:

Um gato extraviado (com estarrecedores sons de felino em luta ao longe)

Um cachorro perdido (sem som nenhum, provavelmente achou melhor calar-se para não dar pista).

Uma tia A. que conseguira evitar sujar-se de vômito agora com a roupa toda manchada de vermelho, porque a tia M. tremia tanto que virou-lhe a gelatina por cima.

Um melão espatifado.

Uma prima de nervos em frangalhos, que depois de meia hora começou a rir sem parar até chegar em casa.

O estômago da tia já está bom.

A cabeça da outra não.

20.1.05

De novo, ó pai?

Um sonho recorrente:

Chegam visitas de longe e meu pai vem junto. Eu me espanto. Está bonito, engordou, parece mais jovem, tem viço na pele e está bem vestido. Exclamo:

– Mas pai, eu pensei que tinhas morrido!

E ele ri. Diz que nunca esteve tão vivo e bem. E comprovo que sim.

Há oito anos os sonhos se repetem, e são sempre bons e desperto sempre alegre.

Na primeira vez, batiam palmas na frente de minha casa e era ele. Meu medo dava lugar à felicidade extrema, quando ele ria sua risada baixa e curta, um sorriso de uma orelha a outra, entrava, sentava-se tomando café comigo na cozinha e se divertia com minha perplexidade. Naquela primeira vez, ele me disse:

– Eu também pensei que havia morrido e, quando vi, estava vivinho da Silva! Olha só como melhorei!

Ontem sonhei o mesmo sonho, e ele tornou a dar sua resposta.

Hoje, porém, deitei-me para um cochilo depois de uma noite de insônia não por problemas, mas por puro êxtase com coisas maravilhosas que andam acontecendo em minha vida. O cochilo durou exatos 70 minutos e despertei novamente de um sonho com o mesmo tema.

Com tios que chegavam de longe, lá estava ele. E eu tornava a dizer:

– Mas pai...

E desta vez, ele franzia os lábios, já meio impaciente com minha incompreensão, e dizia:

– Não vai me dizer de novo que achavas que eu havia morrido. Quantas vezes já viste que não morri e, ao contrário, estou cada vez melhor? Já visitei tua irmã antes de passar aqui, e agora vim te ver.

E acordei.

Um psicólogo diria que nunca me conformei com a morte por leucemia de meu pai, oito anos atrás, uma morte feia que o deixou, em questão de dias, cadavérico e monstruosamente... monstruosamente tudo. Era eu quem estava lá, com ele, quando sua mão apontou para fora da janela e para o céu, no último instante. Era eu quem lhe dizia que ele deveria ir sem medo. Era eu quem lhe dizia que não adiantava não acreditar na morte, porque isso não o faria escapar dela (em tom de confidência com aquele que se dizia imorrível e temia mais que tudo esse momento que, em sua opinião, só viria quando ele chegasse aos trezentos e poucos anos de idade).

Conformei-me e agradeci porque ele pediu, no último momento, para ir. Esperou minha mãe chegar para visitá-lo (ela, a ex – pela atual ele nem esperou), e no momento em que ela saiu do quarto, na minha companhia ele apontou para fora daquela janela, para o céu com dedo levantado e se foi).

Decidi que não vou mais me espantar, quando ele vier me ver, tão bem, bonito e saudável. Na próxima vez direi apenas, toda feliz:

– Nossa, pai, mas como gostas de mim, hein?

Porque esta é a verdade.

Só esta.

18.1.05

Dinheiro se traduz como...

Eu sou o sonho de qualquer patrão (acho que sempre fui).

Sou o tipo de pessoa que, frente a uma oferta de trabalho, vai apresentando credenciais, dizendo que está sempre disponível, que aprende com facilidade, é esperta, rápida e bem-disposta... e que, finalmente, já com um pé para fora da porta, volta-se e pergunta: "Mas qual é o salário, mesmo?"

Se me perguntarem se prefiro ganhar cinco vezes mais trabalhando com pessoas intolerantes, competitivas e egoístas, com egos que exigem carregadores ou receber o suficiente para pagar as contas (ou quase nem isso) para trabalhar na companhia de pessoas bem-humoradas, solidárias, carinhosas e parceiras, vou sempre optar pela segunda alternativa. Para mim quase não há como escolher.

Donde se conclui que ainda não fiquei rica e dificilmente ficarei.

Prefiro a simplicidade de um sorriso que a complicação da burocracia.

Não sou tola e conheço meu valor, mas valorizo muito coisas que nem todos colocam na balança, em outras pessoas e nas parcerias que formam.

Provavelmente já servi de motivo de riso para gananciosos mal-humorados que ganham mais que eu -- e rir dos outros é praticamente a única fonte de diversão para muita gente --, mas continuo sorrindo por dentro e por fora, em paz comigo mesma.

Por isso, quando tenho a possibilidade de ganhar mais dinheiro que o "normal", como talvez aconteça em breve com trabalho monstruosamente difícil (para alguns), desconfio.

Where's the fun of it?

Cadê a diversão?

Porque parece que, na mente de muitos, ganhar o pão e divertir-se ao mesmo tempo não são coisas que possam ocorrer simultaneamente. Parece que até para mim a possibilidade de ganhar mais significa que parte da diversão do trabalho e do contato humano terá de ser eliminada.

Descubro a resposta dentro de mim. A diversão para mim (incompreensivelmente para outros) é o desafio. O tema da tradução é dos que mais gosto. A diversão está em ter sido escolhida no meio de candidatos do mundo inteiro (literalmente). A diversão é saber que vou ganhar bem traduzindo o que amo. E me cercando de gente querida, que vira a noite e ainda ri, toma Coca-Cola e aspirina pra espantar o sono, bate cabeça sobre o teclado e sente que vai entrar em coma de cansado -- e mesmo assim, acha isso lindo.

A diversão, para mim, é em meio a este projeto traduzir para amigos ganhando cinco vezes menos, uma ou duas horas por dia, do que o projeto me pagará. Porque esses amigos eu não dispenso. Dinheiro some. Amigos é que não podem sumir.

Nasci tradutora.

E tendo nascido tradutora, nasci um pouco artista. E sendo um pouco artista, o que menos conta para mim é ficar rica de grana. Sou rica de contatos, sorrisos e carinhos. De possibilidades, projetos e criatividade. De trocas humanas, de coisas boas dadas a este mundo. De amor pela vida. Se com isso vier muito dinheiro, será o melhor de dois mundos.

E aí me pergunto se situações ideais podem tornar-se realidade.

Mas isso é muito complicado para mim. Entra na filosofia e prefiro ver na prática se o ideal e o real podem se encontrar. Quem sabe não acho a solução mágica?

14.1.05

Tu não detestas, quando alguém de quem gostavas demais e que te mandou esgoto abaixo com soda cáustica e ainda rezou um Pai-Nosso para que nunca mais te visse, inclui teu nome em correntes inócuas e detestáveis de boa-sorte em que todos do caderninho de endereços do programa de e-mail entram de gaiatos? Não detestas quando teu coração se acelera, por ver o nome da criatura num e-mail mais que esperado e, então, percebes que até hoje a dita não lhe apagou do livro de endereços, quando deveria ter raspado teu nome dali com esponja de aço, já que fez isso contigo em todos os outros aspectos? Não detestas ver que serves apenas como o otário da vez, para fazer número e repassar o e-mail inútil?

Não é irônico?

Não é um nojo?

Não é mortalmente engraçado, de rir e chorar ao mesmo tempo?

Vou lançar uma bomba dentro da caixa de entrada dela.

13.1.05











Night and day

Why is it so

That this longing for you

Follows wherever I go?

(...in the silence of my lonely room I think of you...)



11.1.05

Ale Schiedschlag, meu "eu" no universo paralelo, em que sou muito melhor poetisa

(Texto dela. Um T+ de texto. É uma honra apresentar-te para quem não sabe o que está perdendo, Ale. Visitem em http://pontogemini.festim.net/)



talvez assim



Desmascara-te. Sem sombras, assim de peito aberto, vem. Talvez assim.

Escancara-te, feito touro na arena. Balanço panos vermelhos aqui, espero.

flamenco.jpg

Abre-te, homem-sésamo. Quarenta ladrões no meu peito, loucos para pular pro teu.

Talvez assim. Acho que sim.

7.1.05

No meu devido lugar

I’m perfectly happy with who, what and where I am.

Estou perfeitamente satisfeita com quem e o que sou, além de onde estou.

E quando digo isso, as pessoas em geral pensam que tenho algum problema mental.

Quando ser feliz vira um caso de suspeita de problema mental, quando se é quase obrigado a ser infeliz, o que se pode esperar?

Repito: estou plenamente satisfeita com minha vida.

E, considerando-se que sou mulher, madura, chefe da casa, e não vivo à espera de nenhum príncipe...

Considerando que divirto-me imensamente com meus amigos, namorados, casos e etc., mas não os considero fundamentais para minha felicidade...

Considerando que não preciso, não quero e não vou me casar nem sob tortura...

Considerando que acho meu trabalho uma fonte inesgotável de alegria e prazer...

Considerando que me divirto muito, em todos os sentidos, na minha própria companhia...

Considerando que amo gente e adoro meus amigos não porque podem me servir, mas porque são mesmo maravilhosos..

Será que sou doente, por seguir perfeitamente tranqüila com meu barquinho em meio às ondas crespas e furiosas da vida?

Ou será que tudo isso é fruto daquilo que prego, que a felicidade ou infelicidade é fruto de cada pequeno gesto nosso, a cada momento, de cada pequena escolha que pode nos levar ao inferno ou ao céu?

Ou será que me sinto assim por merecimento, já que este mesmo barquinho já enfrentou quase todas as tempestades possíveis, das pequenas às grandes tragédias, e finalmente encontrou um mar mais calmo?

Ao ver dois filmes aparentemente nada a ver um com o outro, alguns dias atrás, dei-me conta disso (de que quase não é normal ser feliz como mulher “sozinha” e de que nossas pequenas escolhas influenciam imensamente nosso futuro, mais além).

Os dois filmes, tão diferentes e tão complementares: “Avassaladoras” (no qual a personagem fez com que eu me sentisse anormal no começo e, só no fim, ela se transforma em alguém igualzinha a mim) e “Efeito Borboleta”. Recomendo os dois, embora o segundo peque por ser simplório em seu “método” de volta ao passado.



4.1.05

Exagero de Realidade

...Queria casar com um jornalista da CNN.

Esta semana, eles me sufocaram com uma dose maciça de realidade que, se não me deu a maior depressão que já tive, foi por pouco.

Ontem, por volta das 18 horas, decidi que não os verei mais. Estou boicotando a TV durante alguns dias. Não quero mais saber. Não posso suportar. Sou covarde, bicho bobo, alegrinha com minha vida de Alice...

Deixarei que eles chorem sem mim, lá na Ásia. Que me digam que para o resto da vida, não importando quantos banhos tomem, sentirão entranhado nas narinas, no corpo e na alma, o cheiro da morte.

Deixarei que entrevistem a menina indiana que quase não consegue falar, chocada. Que sua voz estrangulada não me chegue mais aos ouvidos.

Serei alienada por uns bons três ou quatro dias, para sobreviver. Porque tenho uma filha para quem sorrir. Uma vidinha para cuidar além da minha própria vida.

Mas enquanto isso, queria casar com um jornalista da CNN. Não porque ganha bem cobrindo pesadelos. Mas porque, dentro do pesadelo, é humano e não nos deixa fazer que conta que somos Alices no País das Maravilhas.

Abençoados jornalistas.

Casaria com o meio ruivinho (e por que será que não memorizei o nome dele, depois de vê-lo em minha tela esses dias todos?), mesmo sabendo que ele não estaria quase nunca em casa comigo (mas talvez por isso mesmo fosse o marido perfeito). Casaria com ele, que se parece com o McGyver (ô, que coisa antiga), porque enquanto não estivesse comigo, eu saberia que ele está aprendendo, cada vez mais, a ser humano por força de sua profissão e ajudando para que nós, aqui, possamos entender (em uma fração mínima) o que é TRAGÉDIA.

Tudo o mais na vida é festa.