15.9.07

ENGENHEIROS DO DESTINO


http://translationjournal.net/journal/42destino.htm

(Comentário meu sobre o livro maravilhoso de José Henrique Lamensdorf, colega tradutor e escritor de rara racionalidade e sensibilidade em equilíbrio, para o Translation Journal, jornal on-line de/para tradutores)

Quando eu tinha uns 10 anos, deitada na grama do quintal em noites de verão, fitando o mar de estrelas muito além do meu serzinho pequeno e solitário, costumava pensar que não fazia sentido simplesmente nascer, crescer e morrer—tendo alegrias e decepções entre o começo e o fim, mas ao final, morrendo como todos os outros humanos, como os insetos, as flores, os mamíferos e tudo o mais que tivesse vida física. Nessas noites da pré-adolescência, começando a descobrir o mundo, eu procurava respostas simples para perguntas que só se tornariam cada vez mais complicadas, com o passar dos anos.

Certamente, mais ou menos dos dez anos até o fim da vida, a pergunta mais poderosa que nos fazemos é sempre sobre o porquê de estarmos no mundo. Depois vêm outras, e para essas encontramos parte das respostas na filosofia, astronomia—até na astrologia—, psicologia, e outras "ias" criadas para satisfazer nossa ânsia por respostas.

Você alguma vez teve a sensação arrepiante de que esse show legítimo da vida em geral é espantosamente bem coordenado, para ser um mero acaso ou um passatempo de deuses que não compreendemos? Já se espantou com coincidências esquisitas, sincronicidades, marés de sorte ou ondas de extremo azar? Você já teve a impressão de que apesar de sermos as criaturas mais inteligentes a pisar neste planeta, ainda assim não somos os donos do espetáculo e que a equipe de produção falha ocasionalmente, provocando coisas feias como guerras, pragas, grandes catástrofes naturais e outras calamidades? Ao admirar a grandiosidade de uma obra arquitetônica, a beleza extrema de uma estátua ou a sublime elevação do espírito provocada por uma sinfonia vibrante, você já se perguntou por que há tamanha disparidade em talentos, vocações e oportunidades no mundo? E, ao pensar nesse incrível espetáculo da vida, já chegou a perguntar-se para que, afinal, serve tudo isso?

Engenheiros do Destino não lhe impõe um conhecimento profundo, nem pretende mastigar e lhe devolver prontas para consumo teorias complicadíssimas da física ou astronomia. Não tenta convencê-lo de uma verdade absoluta. Não servirá como auto-ajuda no sentido de lhe entregar algumas fórmulas bonitas que, segundo o autor, resolverão se não todos, pelo menos os problemas que o levaram a comprar o livro.

Engenheiros do Destino não quer lhe revelar segredos ocultos há séculos em imagens de pintores famosos, em pisos de igrejas antigas ou papiros recém descobertos. Na verdade, ao ler o livrinho aparentemente singelo—mas realmente estimulante—de José Henrique Lamensdorf, descobrimos que seu maior mérito é tornar claro e explicar o que às vezes intuímos sobre os mais variados temas que nos preocupam.


Lamensdorf nos oferece uma luz reveladora, com a qual aponta a coerência máxima naquilo que vemos como aspectos aparentemente discrepantes da existência.
Nessa teoria geral do funcionamento do universo, ele aborda, com idéias fascinantes e inesperadas, coisas tão diversas como reencarnação, homossexualidade, viagens no tempo, astrologia, poder, fantasmas e aparições, experiências extracorpóreas, transplantes e, até mesmo, o processo de traduzir.


Engenheiros do Destino mexe com as idéias do leitor, levando-o a ampliar as indagações e explicações oferecidas, após cada parágrafo. Não é para preguiçosos mentais. E pode causar efeitos colaterais—essa é, de fato, a intenção de Lamensdorf, ao apresentar os responsáveis pelo real show da vida e um pouquinho do roteiro e da produção envolvida no espetáculo.

Não recomendado para materialistas empedernidos, pessoas sem fé em coisa alguma, pessoas secas e sem um mínimo de humor. Absolutamente contra-indicado para aqueles que consideram que tudo já foi explicado ou que a sua própria teoria é a única que conta.


O livro Engenheiros do destino pode ser comprado:
em inglês:na Amazon: http://www.amazon.com/Engineers-Fate-J-H-Lamensdorf/dp/1419612654; na Booksurge (a editora, que é do grupo Amazon): http://www.booksurge.com/Engineers-of-Fate/A/1419612654.htm;
em português:na editora: http://www.livropronto.com.br//livro/liv_engenheiros_destino.asp.

9.9.07

Precisa-se I

Precisa-se de alguém que invada minha casa, venha até meu canto de trabalho, imprima meu primeiro romance, prontinho e acabado, coloque num envelope e o envie a uma editora, ou mais se possível.

... porque pareço ter um bloqueio sério contra simplesmente imprimir e enviar -- não consigo, não consigo, não consigo.

Precisa-se II

Precisa-se

que os amigos que já chegaram a ler meus escritos procurem a palavra-chave "Cruel" em seus discos rígidos, pois pode estar ali o original do segundo romance que comecei a escrever e perdi quando troquei de micro (sei que entreguei a duas pessoas no mínimo, mas essas não se deram ao trabalho de procurar...).

3.9.07

The Art of Losing




Verdadeiramente eu:


The art of losing isn't hard to master;

so many things seem filled with the intent to be lost

that their loss is no disaster.

Lose something every day.

Accept the fluster of lost door keys, the hour badly spent.

The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:

places, and names, and where it was you meant to travel.

None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch.

And look! my last, or next-to-last, of three loved houses went.

The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones.

And, vaster, some realms I owned, two rivers, a continent.

I miss them, but it wasn't a disaster.

--Even losing you (the joking voice, a gesture I love)

I shan't have lied.

It's evident the art of losing's not too hard to master

though it may look like (Write it!) like disaster.


(Elizabeth Bishop, poeta norte-americana, 1911-1979)