11.7.10

Estou muito triste, mas estou em paz.
Não há como não chorar.

* * * * *

Amigos que eu achava que tinha, descobri que nunca tive.
Pessoas que eu desconfiava serem boas, mostraram-se maravilhosas.
Algumas mágoas, tentarei não levar para sempre. Perdoarei, eventualmente - e descartarei essas pessoas da minha vida, porque não servirão para nada, se em um momento de tanta dor não se manifestaram.

* * * * *

Li hoje, em um site de Testemunhas de Jeová, que a dor da perda vem em ondas.
Por enquanto, é Tsunami.

* * * * *

Há amigos a quem ainda não contei que perdi minha mãe.
Não contei porque quero poupá-los das minhas lágrimas.
Prefiro chorar sozinha.

* * * * *

Sei que um porta de afeto se fechou, mas deu lugar a que muitas outras se abram.

* * * * *

Renate e Mônica, como vocês foram queridas! Colegas de tradução, mulheres, seres humanos sensíveis, amigas.

* * * * *

E em tudo isso, eu estaria um pouquinho melhor se essa m* de tala gessada não me impedisse de limpar minha casa, lavar sozinha os cabelos, lavar louça e me vestir direito. Acho que segunda-feira ponho o gesso - com 5 dias de atraso - ou encaminho a cirurgia, que a tomografia mostrou ser necessária, porque uma lasca de osso da fratura foi parar perto do dedão, bem longe da fina linha reta onde o osso do pulso se partiu. Diz o médico que se não operar, ficarei com limitação de movimentos do pulso.
Tudo isso porque a pessoa que ficaria com minha mãe no hospital domingo passado não apareceu, meu irmão foi até lá mas não queria (ou não podia) ficar e eu, na pressa, na preocupação, no cansaço (turnos intermináveis de 12 a 15 horas no hospital, todos os dias), fui descer a escada para a lancheria após 4 horas de fome junto ao leito da mãe, tropecei e, para evitar uma queda muito feia, levei os braços à frente e no mesmo instante senti a fratura no punho direito, clec clec.

9.7.10

Mamãe, minha bela,

Pouco mais de vinte e quatro horas atrás, te colocamos ao lado do teu filho Edinho, para sempre.
Brincávamos que "tínhamos onde cair mortas", por seremos as "felizes proprietárias" de um jazigo em um cemitério.
Caíste, pelo câncer.
Mãezinha, doi, doi, doi, doi, doi, doi.
Meu coração está quebrado.
Minha alma, em frangalhos.
A lista de "nunca mais" só cresce.
Nunca mais teu sorriso ao me ver, nunca mais tu me chamando de "negrinha" (a única pessoa no mundo que me chamava assim), nunca mais tu me avisando que os moranguinhos que plantaste estão no ponto para eu comer, nunca mais tu colhendo uma rosa linda para me dar, nunca mais tu fazendo palavras cruzadas na mesa da cozinha, nunca mais tu lendo teus romances bobinhos, nunca mais tu dormindo de óculos e luz acesa, nunca mais tu abrindo os braços e me chamando de "minha bela" quando eu chegava pra te ver, nunca mais, nunca mais.
A lista de mistérios só cresce: como falavas em espanhol perfeito em teus delírios, se nunca falaste espanhol? Tu vias ou não vias teu pai e tua mãe, quando a morfina alterava teu estado mental? Por que pediste umas vinte vezes "Liga pra Ingle", se isso nem é nome de gente? Como, ao delirar, falavas como uma professora primária dos anos 40 (todos os "r" no fim dos verbos, todos os pronomes, tudo certinho como não era tão comum falares?)...
Mamãe, peguei trauma de cheiro de suor humano. De urina.
Mãezinha, como conseguiste acordar da dose contínua de sedativo que te aplicaram para não sofreres, como conseguiste essa façanha, só pra ficares uma manhã inteirinha conversando lúcida comigo e me dando adeus?
Eu te disse: "Não te preocupa comigo. Posso cuidar de mim, de ti e de mais um exército inteiro, ninguém precisa me achar desamparada".
Sei que falei a verdade. Eu sou forte. Tão forte que me assusto com isso.
Mas, mãe, esse amor que tenho por ti doi tanto que nem sei dizer, e tenho chorado muito.
Hoje chorei ao acordar, porque lembrei do "meus pêsames" recebido daquele que teoricamente deveria ter chorado muito e se mostrado sensível à minha dor e ao teu sofrimento, mas que mandou a mãe dele representá-lo, porque ele estava "viajando". Esse mesmo cara colocou no seu MSN que havia perdido uma grande e antiga amiga, quando sua *cachorra* morreu. Temos menos valor que cães pra quem só nos passou a perna, mãe.
Hoje eu não pude sair na rua, nem pra ir colocar o gesso no braço direito que está com tala desde que quebrei o punho na queda da escada do hospital domingo passado (e tu disseste, fraquinha, na segunda-feira, ao me ver: "toda quebrada..."). Não pude sair porque meus olhos estão inchados demais, uma vergonha.
Eu vou chorar por ti pelo resto da vida, como ainda choro pelo Edinho que partiu 18 anos atrás e pelo meu pai, que foi embora 13 anos atrás. Por ti vou chorar mais.
Eu sei que serei feliz. Tenho certeza. Tu não criaste uma filha que nasceu pra chorar.
Só que vai levar um tempo ainda.
Hoje fiz uma coisa aqui, outra ali, e as horas passaram.
Passarão, todas elas, até o dia em que o mundo não precisar mais de mim e Deus me chamar como chamou a ti.
Aí te darei aquele abraço apertado que fiquei cinco meses sem poder te dar (doía tudo em ti).
Minha bela, elegante, bondosa, prática, caridosa, talentosa mãe,
FICA COM DEUS.

UM ANO ATRÁS...

Éramos felizes, mamãe (e sabíamos disso)