4.5.07

Diário de Uma Mulher Comum XII


Isso de se sentir ridícula é falta do que fazer, baby.
Yeap.
Ontem, pré-estréia do Homem-Aranha 3.
Levei minha filha ao 1. Levei minha filha ao 2. Desta vez, ela só poderia ir comigo segunda ou terça-feira, e como nossa agenda está lotada para 2a e 3a feira próximas (graças a DEEEEEEEUS!), encaramos uma pré-estréia, à 00:01.
Cinema lotadíssimo, acho que eu e mais meia dúzia éramos os mais velhos ali. Turma variando de 25 a 18 anos. Uma festa, com direito a parabéns de todo mundo a alguém lá no meio da platéia (antes de começar, porque esperamos meia hora sentados até o início do filme), hino do Grêmio, bateção de pé nos comerciais, assovios e tudo o mais, permeado por um cheiro insuportável de pipoca.
Valeu a pena.
O que mais gostei? O Homem de Areia.
Antes disso, a única vez em que eu havia ido ao cinema tão tarde foi na infância. Véspera de Natal, meia-noite, sessão do Mogli, com meu pai. Depois só fui mais uma vez ao cinema com meu pai, assistir 2001, Uma Odisséia no Espaço. Eu, pequena, discutindo com ele detalhes do filme. Nunca esqueci, assim como nunca esqueci que deveria ter levado mais meu pai ao cinema (agora é tarde pra arrependimentos..).
Mas enquanto escutava e via a farra antes do filme, recordei (eu que não sou dessas coisas) as matinés da minha pré-adolescência.
Todo fim-de-semana, sagradamente, o Cine Rey, lá na galeria superior, que era onde eu gostava de sentar, e as guerras de pipocas, bolas de papel, os filmes de faroeste (que eu adorava) e os grandes épicos. Nenhum filme muito novo, mas sempre a mesma emoção. Talvez eu tenha assistido a um musical, mas francamente, acho que as matinés eram uma sucessão de filmes bíblicos e faroeste. Não importava. Bom mesmo era vestir a calça jeans e todos os domingos saber que ia ao cinema, eu e meu irmão mais novo.
Enquanto recordava, lembrei:
Cada saco de pipoca. Cada ingresso. Cada pacotinho de Bibs crocante. E também cada passagem de ônibus. Cada pequenina coisinha dessas saía do bolso de uma mulher que tinha três filhos e fazia milagres para dar a eles tudo o que os outros tinham.
Eu tinha uma única calça de passear (cor-de-rosa, deus me livre) e uma calça jeans que nem era jeans, mas "brim" (Topeka ou US.Top, não lembro). Tênis era o Bamba, porque fora isso só os importados. E quando roubaram minha calça cor-de-rosa do varal, ficaram só as jeans e minha mãe correu pra mandar fazer (mandar fazer!, ainda existe isso?) uns vestidinhos para mim.
Mesmo assim, entre altos e baixos, estudei metade do tempo em escola pública, metade em escola particular (dependia do recheio da bolsa da minha mãe).
Meu pai vivia de sonhos. Minha mãe vivia de contas a pagar, que a impeliam à frente. Como eu.
Hoje, acordamos cedo e fomos a outro colégio particular, depois que o Sevigné "recusou" minha filha, sem mais explicações, me trazendo uma depressão, a sensação de ser ridícula, feia e pobre. Encantamo-nos e minha filha não apenas foi aceita, como desde o primeiro momento a trataram como aluna (o contrário do Sevigné, onde tive a impressão de que precisava convencê-los de que merecíamos pisar lá).
Então o que têm o Homem-Aranha e o Colégio Champagnat a ver um com o outro?
Nada.
Exceto uma mãe que faz tudo, absolutamente tudo para que a filha tire boas fotos mentais de sua vida, tenha bons exemplos para quando for ela mesma mãe, possa reviver mentalmente, um dia, esses nossos momentos e o meu esforço para lhe dar as coisas materiais que meu bolso permite, os abraços que meus braços contêm e os sonhos que minha alma transpira.
Já não sou-estou ridícula.
E só o que faltava para eu melhorar eram sonhos -- seja na forma de um filme, ou de um colégio ideal.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vc é sempre perfeita. Não tô falando de ser mãe, mas de ser escritora, que é o que posso ver melhor.
Tenho pensado muito em ir com meu pai ver Cartola, pq ele sempre conta que o via dormindo embaixo do viaduto, que ninguém ligava pra ele e agora é isso que tá aí.
Não vou no cinema há tanto tempo...
Tb tenho dessas coisas de recordar, paro e o tempo passa cmg pensando em cada pequeno detalhe de tanta coisa que já se viveu. Qdo vejo coisas então, as pego em minhas mãos, nossa...
Essa frase aqui é com certeza uma grande frase da minha vida tb: "Meu pai vivia de sonhos. Minha mãe vivia de contas a pagar, que a impeliam à frente."
Mas qdo vc fala de ser mãe... Me fez chorar, pq minha mãe nunca disse essas coisas, mas que importa? Ela fazia.
Bjos.

Anônimo disse...

O tempo... sempre o tempo. Será suficiente?

(Só hoje a descobri no meu blog já encerrado, a propósito de um excerto de um compêncdio de psiquiatria que citei e que traduziu).

Tudo de bom!