26.5.10

E ela fala dormindo.
Conversa com pessoas invisíveis.
Conta coisas. Escuta. Responde.
Pelo menos, tem companhia.
Faltam poucas horas para a minha mãe internar-se.
"Exames", dizem os médicos. Tons of tests.
"A internação pode durar três dias ou três meses", dizem eles. E ela lhe dá aquele olhar meio perdido, meio "eu sei tudo", no meio dos seus ai-ai-ais.
São tantos ai, ai, ais.
Cinco dias na minha casa, na minha cama, e milhaaaaaaares de aiaiais depois, eu já nem sei direito quem sou.
Sou uma dor imensa.
Uma solidão que não pode ser preenchida.
Sou a que se perdeu de si.
E segue às cegas por aí, dando de cara com o Destino.

10.5.10

Sou uma filha pequena de Deus.
Pequena. Bem pequena.
Muito pequenina.
É bom lembrar disso, porque filhos pequenos têm muito a aprender com a vida e com as quedas.
Eu tenho.
Lição de humildade pra lá de corretiva, ver a mãe chorando de dor e não poder fazer mais que comprar remédio e dar o ombro pra ela molhar.
E aí você pergunta: "Mas pô, que merda, só acontece coisa ruim na tua vida ultimamente?"
Ah, não.
O Banco diz que minha pontuação (o índice de confiança no banco em mim) é hipermegaalta e me dá um cartãozinho com chip e um aparelhinho que libera tudo, como se eu estivesse dentro do banco (agora fica mais fácil eu gastar tudo o que ganho no mesmo dia, pagando contas, já que meus limites de transferência acabaram com o desbloqueitor dinheireitor Tabajara deles). Além disso, aumentam absurdamente meus limites (compras parceladas, cheque especial, limite para empréstimos instantâneos). Valeu, Banrisul. Tô feliz da vida porque posso afundar le-gal, com essa tentação toda.
Corrigindo: estaria feliz, porque a geladeira e a mesa de jantar novas ficam pra São Nunca, agora que eu gasto uns 500 reais de remédios, mais uns 400 para alguém dar uma cuidadinha na mãe quando não estou com ela, mais isso, mais aquilo e mais aquilo outro. Mas ó: eu venderia a alma, se isso ajudasse minha mãe a ficar boa.

Ah, e pra não dizer que na real, na real *mesmo* nem tudo anda ruim: comi bergamota (mexerica) bem docinha, ao sol (antes de praticamente quebrar minha rótula deixando a estufa cair sobre a minha perna).

E arranquei mato. Ô, como adoro arrancar mato dos canteiros de qualquer pessoa, já que eu não tenho canteiros próprios.
E aí eu vou cuidar da mãe e levo meu modem 3G da TIM (TIM MATA, OTÁRIO).
Com crédito, tento 6 vezes ativar o pacote dia, que custa 10 reais por 24 horas.
Não consigo, como da outra vez. Aparece mensagem de "serviço indisponível" no software de conexão.
Consigo conexão avulsa, 1 real por cada mega que baixo.
Alguns minutos depois, tento ativar novamente o pacote dia, e daí dá a mensagem esperada, para eu aguardar confirmação.
Que não vem.
O que vem é uma mensagem de "Você não tem saldo suficiente para esta operação".
Resumo da ópera: a TIM está roubando os clientes, "saindo do ar" para ativar 250 MB por 10 reais, mas aceitando que a gente conecte a 1 real por MB. E, obviamente, quando a gente já não tem mais 10 reais porque gastou 6 reais em conexão avulsa por necessidade de trabalho, aí a operadora FAZ DE CONTA que iria permitir a ativação, mas aí a gente NÃO TEM MAIS SALDO, então não dá mais pra conectar pelo plano dia, anyway.
Como eu sou otária.
A propósito do gato com tumor: o Negão (o meu gato pretão) morreu.
Segunda-feira ele esgotou a sua sétima vida (ele devia ter nascido americano, já que lá gatos têm "nine lives" (nove vidas).
Não foi o tumor que o matou.
Foi insuficiência renal, que causou encefalopatia.
Chorei, chorei, chorei, chorei.
Aproveitei pra chorar pelo Negão e pelo resto das coisas que doem.
Chorei inclusive pelas pessoas estúpidas que no domingo dizem, lá do hospital veterinário que "o Negão tá bem, tá comendo e se movimentando muito" e na segunda ligam pra dizer que se enganaram, que o Negão morreu e nem chegou a comer, em nem um minuto, que quem comeu e estava bem era um outro gato preto.
E agora o Kinim, meu outro gato preto, chora "muau muau muau" bem alto, hora sim, outra também, à procura do seu amigo que não existe mais.
Que saudade da minha vida de dois meses atrás.
Acordamos com choro, dormimos com medo.
Almoçamos precaução, jantamos desilusão.
Rimos da dor, choramos com o que devia fazer rir.
Está tudo errado.
E mesmo assim, está tudo como tem que ser.
Que seja.
O lado irônico de ajudar uma mãe doente é que ninguém *me* ajuda e, então, eu deixo cair a estufa tipo radiador, beeeeem pesada, sobre a minha perna e, principalmente, o meu joelho, quando retiro da caixa e tento virar o presente de dia das Mães de cabeça para baixo para ajeitar os rodízios.
Resultado: joelho esquerdo PRETO, muito inchadão e muita dificuldade para caminhar.
Mas não vou ao médico, não. Se for, ele enfaixa ou engessa, e aí não vou poder ajudar a mãe e mesmo sozinha ninguém vai me ajudar, se eu não for ajudá-la..................
Whatever you give a woman, she's going to multiply.
If you give her sperm, she'll give you a baby.
If you give her a house, she'll give you a home.
If you give her groceries, she'll give you a meal.
If you give her a smile, she'll give you her heart.
She multiplies and enlarges what is given to her.
So--if you give her any crap, you can expect a ton of shit.

(Found in http://www.netfunny.com/rhf/jokes/09/Feb/giving_woman.html)

3.5.10

Eu tenho um gato com um tumor nas costas que ficou cego e está no hospital.
Tenho uma mãe com tumor na clavícula que está em casa e sente muita dor.
Eu tenho amor (e pavor, em igual medida).