19.6.06

Diário de Uma Mulher Comum IX

Não lembro quem, mas alguém havia me dito que eu deveria assistir "Sideways".
Assisti hoje, no meio de cinco dias de marasmo - grana curta, mas a receber semana que vem, sem projetos de tradução (folga, graças a Deus!), sem problemas e sem prazeres.
As falas do personagem Miles são as minhas falas. As falas do amigo Jack são todos os meus amigos que apostavam em mim. As falas de sua agente literária são as mesmas das três editoras que se interessaram por meu "Voltar a Viver", mas não o publicaram.
Não sei se, ao final, Miles voltará a tentar publicar seu livro, já que ele diz (como eu já disse): "Terei de esquecer meu livro por mais três anos".
Os amigos que me davam força e me empurravam à frente com minha história de ficção andam sumidos.
Alguns são indiferentes.
Outro (um só, graças a Deus) odiou tanto minha história que não se pronunciou sobre ela até hoje, limitando-se a dizer que a odiou e que nunca falará comigo sobre minha "obra".
Sinto falta desse apoio apaixonado de amigos e, confesso, o ódio do meu amigo a quem amo por minha história de ficção levou-me a considerar minha criação uma idiotice em último grau.
Agora percebo que se eu pensar que escrevi algo idiota, estarei chamando de idiotas meus 18 leitores que adoraram a história e leram o rascunhão gigantesco do original, na primeiríssima vez em que o escrevi.
Se eu pensar que escrevi algo idiota, estarei dizendo que o copydesk daquela editora que não ousou publicar meu livro era um idiota (e nada está mais longe da verdade do que considerá-lo idiota). Se for assim, a editora era idiota; não era, nunca foi, tanto não foi que não publicou meu livrão por medo de afundar com ele.
Well.
O sensaborismo (desculpem, insipidez, ou algo que o valha, mas sensaborismo é uma palavra só minha, como desentendisentimento e outras) que me rondava nos últimos meses está começando a se dissipar, e não pela descoberta de um amor novo (sinceramente, não consigo amar e pronto, ponto final). Eu não quero um amor, não sinto saudade de nada, não anseio por grandes aventuras, não tenho ambições grandiosas.
Só quero sentir-me viva criando e tentando publicar.

Desta vez, pretendo não ir à falência, como ocorreu durante aquele período mágico de 2 anos em que vivi esse sonho de ser publicada.

Só pretendo não morrer de tédio, que é como me sinto desde que, sugestionável, achei que eu só podia ser idiota, por pretender ser escritora. Há muitos escritores mais idiotas que eu por aí.

...

Ai.

Acabei de perceber que talvez eu "precise" ser idiota para ser publicada. Que talvez os idiotas façam sucesso atualmente.

Bem, então aí acaba meu dilema. Se me publicarem, poderei pensar que sou boa ou que sou uma idiota.

De qualquer modo, serei feliz com qualquer das opções.

Quem não costuma escrever ficção talvez não entenda a dor de não criar. O bloqueio. A decepção quando o que escrevemos não dá frutos. Quem não costuma escrever ficção não entende, principalmente, esse enorme, imenso, negro, doloroso buraco em que se transforma a vida de um escritor que não escreve.

Vou dar minha cara a tapa.

Aguardem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Dayse, tudo bem?
Mandei um email para você, respondendo ao seu comentário. Beijão.

Anônimo disse...

duas. desse ano não passa, juro. tá sendo até ilustrado, o bicho.
*
e sideways é um dos meus filmes prediletos de todos os tempos.
*
beijo, saudade.
ale siedschlag