2.6.06

... isto é Brasil.

Dia 23.
A empresa de transporte "escolar" que contratei para levar minha filha ao curso preparatório para os exames de ingresso no Colégio Militar me liga, dizendo que só fará o transporte até sexta, dia 26. "Não há número suficiente de alunos para justificar a continuação do serviço".
Digo-lhes que isso não consta do contrato e que, se assinei promissórias até outubro, a obrigação da empresa é cumprir sua obrigação até outubro, independente do número de alunos, já que o transporte de minha filha não era contingente de um certo número mínimo de alunos dentro dos carros (múltiplos, a cada dia um, a cada dia em um horário, com um motorista diferente a cada vez e, muitas vezes, vindo só depois que eu ligava lembrando-os de buscar a Letícia). Digo-lhes que preciso do reembolso dos dias não usados e pagos antecipadamente (120 reais).

Do outro lado, ouço um pffff de alguém que parece tratar com um zé povinho numa filha de Inamps. Digo isso não porque o zé povinho mereça menos do que o máximo da boa educação, mas porque neste país feito de zé povinhos, todos se tratam com o maior desrespeito possível, não o contrário.

Dia 23. O técnico da Sky (TV por satélite) finalmente aparece para verificar (mais uma vez, pelos meus cálculos a oitava) meu aparelho de Sky+ que desde o primeiro mês já deu problemas. Explico que a m* não grava a programação, não faz a famosa pausa na programação ao vivo, tão anunciada por eles, não reproduz o que aparentemente estava gravado antes, se perde e tira do ar os canais...
Milagrosamente, o técnico (que morou anos nos EUA e aprendeu um pouco de profissionalismo) me diz que nesses casos o aparelho não é consertado (está expirando a garantia, mas ainda é válida), mas substituído. Eu duvido, mas como sua informação bate com a informação dada pela própria Sky em seu medonho-mas-melhorando atendimento ao cliente, resolvo dar um crédito.
Ele liga para a Sky que lhe diz que sua empresa de assistência é que deve requisitar o aparelho novo (claro, ele também é zé povinho, um simples técnico - não importa se a supervisora está apenas um décimo de grau acima dele na hierarquia de zé-povão a doutor).

... Lembro que moro no Brasil.

Dia 24.
Minha filha diz que, em sua sua de aula da escola, outras meninas escrevem no quadro negro da turma de 5a. série: "Fulano comeu o cu de...". Pergunto se as meninas não foram suspensas. Minha filha me olha, muito surpresa, e diz: "Claro que não, mãe, porque a professora entra, vê e não faz nada".

Faço eu, mas isso é assunto pra outra hora. E aí lembro que moro no Brasil.

Dia 24.
Ligo para a tal empresa de transportes, o mesmo "secretário" me diz que preciso falar diretamente com a responsável pela empresa, que não está "no momento". Eu digo "E tu então deves ser o irresponsavel pela empresa...". Ele promete que ela ligará assim que chegar. Eu só digo "arrã". Desligo.

Lembro que moro no Brasil só hoje, porque, acreditem ou não, não tive TEMPO de ligar para a fulana novamente, e se inventasse de falar com ela no meio do estresse em que andei nos últimos dias, teria ido até lá e não seria bonito o espetáculo. Não que eu seja grossa. Mas não gostariam de ouvir o que tenho a dizer.

Dia primeiro, ontem.
Quando ligo para a Sky para saber do andamento da entrega do meu Sky+ novo, me dizem que a empresa de assistência ainda não mandou o laudo. Pergunto-lhes quantas folhas tem um laudo. Uma. Digo-lhes que pensei que fosse um livro, para levarem uma semana para enviar. Mas não receberam nem o laudo, nem a solicitação pelo novo aparelho. Eu que ligue, se quiser, para a assistência para saber a quantas andam.

Eu ligo hoje, dia 2, esquecendo que moro no Brasil, e só lembro quando descubro que a irresponsável pela empresa também "não se encontra". Suspiro. Peço que me ligue urgentemente.

Estou esperando, depois de ligar novamente para o curso e ouvir do rapaz "gentil" de lá: "Até sei quem a senhora é. É a mãe da Suzi.".

"Errou. A mãe da Suzi certamente também está furiosa, mas não sou ela."

"Ah, tá. A Alexandra liga pra senhora quando voltar, porque no momento não se encontra."

"Não liga não, porque tu nem sabes com quem estás falando."

"Eu sei, senhora. Temos o cadastro."

"Arrã. E mesmo com apenas dois cadastros das duas únicas alunas que vocês transportavam, tu não lembras da Letícia."

"Ah, eu vejo na ficha e Alexandre lhe liga."

Eu lhe digo que, se fosse a Alexandra, ligaria rapidinho, porque não será legal me ver pessoalmente lá.

Lembro que moro no Brasil, desligo e resolvo trabalhar um pouco, porque só quando cumpro o meu dever, quando me preocupo com minha qualidade e meus prazos, esqueço-me que moro no Brasil. Só quando não ligo a TV aberta, não preciso de serviços e não saio à rua eu me esqueço que moro no Brasil.

Desculpem o desabafo, mas a verdade é que falta tudo neste país: vergonha, dignidade, competência, honestidade, honra, cumprimento de metas, de horários, de promessas. Falta educação, cérebro, cultura, respeito, cidadania e, novamente, dignidade. Dignidade. Dignidade.

Repitam isso até a palavra perder o sentido.....................................

Um comentário:

Anônimo disse...

[violet]Tô cansada :(
Sou meio assim... Se a gente for reclamar de tudo que tá uma merda aqui não vai fzer outra coisa. Ainda assim, bem que eu queria fazer só isso. Fico puta por não dar tempo e por muitas vezes não termos a quem recorrer.
Tb tô estressada e isso é muito ruim. Bjos. [/violet]