31.12.16

(Ao som de "Wild World")

Te dei minhas asas para que aprendesses a voar.
Te dei minhas asas para que teus voos fossem mais longos, mais altos e mais perfeitos que os meus, sempre em zigue-zague, nunca tão altos, nunca tão longos.
Fui embelezando as plumas, ajeitando  as condições, reformando e refazendo tudo para que pudesses ver o mundo do alto.
Só não contava que, ao te dar minhas asas, eu fosse ficar presa à terra.
Achei que tu, pássaro mais forte e mais jovem, me levarias junto de vez em quando em tua recém-conquistada liberdade.
Achei que me verias lá de cima e pegarias minhas mãos levantadas ao ar, à espera do passeio.
Eu não contava com ganhares as minhas asas e descobrires que elas servem para nunca mais voltar.
Para abandonar o ninho e esquecer que, afinal, as asas ainda não são tuas. Que eram apenas emprestadas, como só quem ama poderia fazer por ti.
Logo, talvez descubras que as asas talvez não sejam do tamanho ideal. Que, no alto, também há predadores. Que, lá em cima, a chuva também cai e ventos fortes podem te derrubar. Que, quase alcançando as nuvens, ao olhares para baixo também há coisas feias e que não é possível pairar eternamente.
Quando pousares, estarei aqui.
Sempre.

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