4.7.05


Vou confessar um pecado: eu ainda não havia assistido ao filme “Magnólia”.

Por quê?

Primeiro, porque detesto o Tom Cruise e só vejo algo com ele se considero inevitável, um prejuízo para a minha cultura se não assistir aos filmes bons nos quais ele é o ator principal. Explico: não é que eu deteste o Tom Cruise como ator. Não. Ele é soberbo. Mas detesto sua cara, seus trejeitos, seu corpo, tudo. Só admiro mesmo é sua capacidade como ator.

Dito isso, confesso que, passando por cima de minha intolerância ao Cruise (que além de tudo é um infantilóide, na minha opinião), reservei mais de três horas para assistir Magnólia apenas porque havia alguns filmes gravados no meu Sky+ e tnha de começar a ver algum. Então que fosse esse, num domingo chuvoso e sem traduções, casa arrumada e tédio.

No início, achei divertido. O lance de alguém que morre assassinado com um tiro ao saltar de um prédio para o suicídio é genial. Rolei de rir.

Então, tudo muda e me vejo no meio de um caleidoscópio de cenas rápidas mostrando vidas comuns, personagens tensos e irritantes. Algumas cenas longas demais me irritam, depois. Outras me parecem exageradas, fake, mas vá lá. Continuo olhando, porque em algum lugar o filme deverá chegar.

Em uma hora, o filme começa a me pegar, apesar da tensão contínua que me faz desejar fugir e encarar uma comédia. O Tom Cruise merece o título de “personagem mais abominável”, com seu curso de “Tame Her”.

Em duas horas, estou absolutamente boquiaberta e encantada, achando que não tem mais solução e que cada um daqueles dramas terminará em tragédia. Há quase que um point of no return quando a chuva começa, no filme. E a tensão continua.

Antes da chuva dos sapos, um momento memorável, inesquecível, em que a Aimée Man canta “It’s Not Going to Stop” e cada um dos personagens, em seu cantinho particular, balbucia junto com a trilha as palavras da canção triste. Belíssimo.

Philip Seymour Hoffman não poderia ser mais delicado e comovente, como o enfermeiro cheio de compaixão, e amei a parte em que diz ao atendente do "Tame Her": "Now we've got to the part in which, if we were in a film, I'd say the old man is dying and longs to see his son" (ou algo semelhante). Então, ele diz: "But this is real, this is not a film and there's a man dying here". Perfeito o modo como ele diz que dramas assim acontecem, que não é só nos filmes.

E quando os sapos começam a cair do céu, me descubro dando vivas, entusiasmada com o inusitado.

Entendo por que o filme fez tanto sucesso. Ou não deveria entender, já que é tão inteligente e o povo tão ignorante (parece-me que muitas pessoas sentam-se para assistir a um filme na esperança de não precisarem pensar, de serem anestesiadas e transportadas durante uma hora e meia para longe de suas vidas).

Este filme não nos transporta para longe de nossas vidas. Ao contrário. Ele nos traz mais para perto de nossos dramas íntimos, de nossa solidão. Faz com que encaremos a necessidade de continuar, de fazer algo bom, de perdoar. Parece simplista, mas não é, esta mensagem.

Um elenco incrível, personagens com conteúdo, uma trilha perfeita, atuação suprema, uma direção que nos leva para dentro dos dramas como se fôssemos espiões, como se nem devêssemos estar ali. Depois, agradecemos porque estávamos.

Magnólia é uma obra de arte.

É para isso que o cinema foi inventado.

Um filme grande e um grande filme, impecável em todos os sentidos.

Acho até que começarei a ser mais tolerante com o Tom Cruise. Quem consegue demonstrar com tanta sutileza o tumulto íntimo frente a uma confrontação de suas mentiras (na entrevista com a jornalista), quem consegue dar tanto realismo ao desespero e descontrole (quando seu pai morre) merece meu respeito, não importando se na vida real só diz e faz bobagens (sua entrevista patética num talk show, ele de joelhos declarando seu amor àquela “guria” a quem jurou “amor eterno”...). Talvez, depois de “Entrevista com o Vampiro”, eu não tenha visto um Tom Cruise tão absolutamente fascinante quanto em Magnólia.

Já é algo para um domingo sem graça.

8 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelos mais de 8000 visitantes, Dayse. Gosto muito de seus "escritos", cheios de tensão, tesão, humor, ironia, um luxo só. Tento sempre dar uma chegadinha aqui pelo menos uma vez por semana.
Beijos,
Lina

Anônimo disse...

Também adorei o filme, Dayse, embora tenha uma certa antipatia pela aquela cara pasteurizada no Tom Cruise (tá certo, tá certo... as uvas estão verdes...). É muito louco, muito hilário e muito sério.
Mas passei aqui mesmo pra dar os parabéns pelo aniversário de 1 ano do seu blog, que visito sempre e curto demais. Sucesso, muito sucesso! Continue sempre escrevendo essas coisas tão lindas e tocantes.
Um beijo grande da
Min

Anônimo disse...

Dayse,
Para mim Tom Cruise é que nem ir a banco, tomar remédio, levar o carro à oficina....evito ao máximo, e só me rendo diante do inevitável...como ver Magnólia, que considero um filme fantástico.
Só não concordo muito com sua opinião sobre o bom desempenho de Tom Cruise no filme...acho que ele *É* aquilo mesmo, por isso tirou de letra...Vide a série de atos tresloucados que vem desempenhando "em nome do amor"...
Aliás, você conhece o movimento "Free Katie Holmes"...:)??
PS: E quando Nicole Kidman se separou do Tom Cruise subiu 500 pontos no meu conceito...e não por coincidência foi aí que ela realmente "estourou" como atriz. Hoje é uma de minhas atrizes favoritas.
Abraço e parabéns pelo blog
Luciana

Anônimo disse...

Dayse:

Você não me conhece; vim pelo seu anúncio na lista de tradutores.

Parabéns pelo blog (e pelo aniversário de um ano). Lindo! Adorei o título do blog e tudo o que li. Parabéns mesmo!

Quanto ao filme Magnólia, acabei de adquiri-lo para minha humilde filmoteca... Pra mim, é um dos filmes mais belos que existem, daqueles que classifico como "Ahhhhh..." (filmes que nos fazem pensar e nos deixam boquiabertos).

Estou torcendo para o filme chegar logo e eu poder revê-lo. Estou precisando! :)

Beijos,

Cláudia

Anônimo disse...

É meu filme preferido, acho.
Apesar do Tom Cruise (tb)

Anônimo disse...

Oi, Dayse, parabéns pelo primeiro aniversário deste seu maravilhoso blog. Sou cativo daqui.
Beijabrações e vamos comemorar.

Anônimo disse...

Parabéns pelo aniversário e pelo número de acessos. Gostei muito de conhecer seu blog. Será que um dia meu www.cronopolitano.blogspot.com também chega a tanto?
Abração.

Anônimo disse...

Aí tb não curto muito o Tom Cruise não... Por isso não quero ver Guerra dos Mundos. Eu queria ver enqto achava que o título era Guerras do Mundo. Isso despertou minha atenção. Mesmo com o rapaz lá... Aí vi que não é esse o título, e sim que é mais um filme tipicamente americano e agradeci não ter gastado dinheiro com ele, ainda mais dps que vi que ele tá batendo recorde$$$$$ nos EUA.
E mais um filme pra minha lista. Tanta gente falando bem, fiquei com muita vontade de vê-lo... Sem falar que vc descrevendo sua "aventura" é maravilhoso! Identificação imediata! Que maravilha vc contando o filme... Tenho certeza que os momentos que vc pontuou são aqueles que não só eu mas todos com um pouco de sensibilidade (ou até sem ela mesmo), notariam.
Agora, isso, ver uma obra de arte num domingo entediante, principalmente qdo NÃO há expectativa, não é algo, é O motivo que muda meu domingo totalmente e me faz querer sair dançando pela rua... :)
Bjo.