18.10.05

Diário de uma Mulher Comum III

Ok, vamos falar sério?
Nunca fui uma puritana, para começo de conversa – se fosse, não teria traduzido um manual de sexo hiperliberal, chamado “Prazer & Emoção” (editora Leganto) porque a editora me achava “apropriada” para isso depois de ler um livro meu (que acabou não publicando e ainda está inédito, mas isso é uma outra história) que classificava como “sensual sem ser vulgar”.
Well, então fui conferir a afamada (melhor dizendo “infamous”) gravação da transa da vazia Paris Hilton.
Para quem não sabe, a bonequinha artificial, herdeira dos hotéis Hilton, resolveu “ficar” com um cara qualquer numa determinada noite e o carinha gravou tudo. Ela sabia. Só não sabia que ele pretendia ganhar uma fortuna vendendo a fita. Ganhou uma fortuna e teve de dividir os lucros com a indignada Paris que, depois, amansou e levou tudo na boa. O dinheiro teve o poder de fazer com que um vexame se transformasse apenas em um negócio.
Negócio ou não, eu tenho a dizer uma coisa (antes de todo o resto):
Se é pra fazer, por que não fazer bem feito?
Parênteses.
Um namorado recente (repetindo o que amigos e outros já haviam me dito) comentou que é impressionante o número de mulheres que transam sem nem saberem por quê. Não sentem nada e só dão prazer porque, obviamente, têm uma parte desejada pelos homens e isso basta.
Oh?
Isso basta?
Para eles, sim. Mas para elas, o que acontece? Como alguém vai para a cama para servir de boneca de borracha?
Fecha parênteses.
Paris Hilton, magricela e peituda, sem bunda nem charme, faz sempre as mesmas caras, sempre as mesmas bocas – mas na cama esquece das caras, esquece das bocas e tem cara de nada.
Vi, revi e vi outra vez sua “sessão de sexo” mulher-vinil. Fez de graça (naquele dia, porque depois recebeu os dividendos) e parecia que o cara estava pagando, por que, de outro modo, para que sujeitar-se a algo que obviamente não está lhe dando nenhum, repito, nenhum prazer?
Primeiro, ela parece uma puritana, recusando-se a tocar no cara. Depois, submete-se.
Cara, sexo não é submissão.
Algo está errado com a cabeça de uma mulher, se acha natural tirar a roupa, abrir as pernas e outros orifícios e se deixar ser penetrada enquanto pensa sei lá em quê (mas a cara sem expressão, a boca sem um gemido, a respiração inalterada e o olhar vazio me levam a crer que ela só calcula quanto tempo aquilo ainda vai levar), sem sentir nada.
Algo também está errado com a cabeça desses homens que pensam que à simples visão de um pênis ereto qualquer mulher sai dando gritinhos e têm orgasmos múltiplos.
Eu morreria de vergonha se me filmassem e o resultado fosse aquele. Também morreria de vergonha se me filmassem e eu agisse como uma dominadora (que sou), como alguém que está prestes a morrer de prazer. Mas ainda assim, minha vergonha seria menor do que se me vissem parecendo uma mulher de borracha, na cama.
Surpreendi-me demais com a Paris Hilton. Acho que nem deveria, mas me surpreendi mesmo. Alguém com todos os recursos do mundo à disposição, com possibilidades imensas de ter experiências fantásticas, que tem à disposição todas as novidades da estética, da moda, todos os bons perfumes, viagens e homens à mão, sempre... Alguém assim não conseguiu, nunca, tocar a si mesma. Não encontrou jamais meia hora para olhar-se no espelho, conhecer-se, vasculhar-se, experimentar-se, ir até onde possível sozinha, treinar, descobrir-se e verificar onde dói, onde coça, onde é que atiça, onde lateja, onde parece explodir algo, uma bomba de prazer interna, onde é que se morre de êxtase.
Acho que falta vergonha na cara, a muitas mulheres. E quando digo isso, falo que deveria ser vergonha ser mulher e não agir como fêmea. Fazer de conta que se é sexy, sem saber ser sensual e sem ter nem idéia do que é sentir prazer, deveria ser uma vergonha.
Parece que é algo muito natural, segundo meus amigos, alguns ex-namorados e segundo a Paris Hilton, que em uma entrevista disse, com sua cara plástica congelada em um simulacro de expressão maliciosa: “Vergonha de quê? Fizemos tudo o que um casal jovem e saudável faz.”
No caso dela, uma mulher saudável e jovem faz tudo. Menos sentir prazer.

2 comentários:

Anônimo disse...

Só posso aplaudir.

Anônimo disse...

Dayse, vai ver ela estava pensando nas finanças dos Hotéis, afinal ela é uma mulher de negógios. Os outros "negógios" ficam em segundo plano.