26.10.05

Diário de uma Mulher Comum IV (Siga os links para que eu não precise me repetir!)


De repente, sinto-me cheia de vida.
Está certo. Novembro vem chegando e os jasmins logo abrirão. Como não ser feliz com dois jasmineiros carregadinhos no jardim?
Está bem. Admito que quando os amigos me procuram me sinto gente. Um email lindo de alguém recente, que me intriga por seu carinho por mim e que surgiu do nada (mas nada surge do nada. Eu sou fatalista, embora incoerentemente também creia que devemos batalhar para que o destino se cumpra da melhor maneira possível). Um papinho virtual com meu mosquito preferido, meu LH que conheci 20 anos atrás e era magrinho como um palito e que misturava em mim sensações de raiva profunda por ser tão perfeitamente parecido comigo em tudo e um dos maiores amores que já tive por alguém (ia além, muito além, tão além da paixão física que perdurou -- e só perdura assim mesmo, não é, LH?) Meu lindinho guri inspirador de personagens da ficção e para quem escrevi "Reel Around the Fountain", aqui. Ele vive para o trabalho e para seus filhos, hoje em dia. Esqueceu-se dele mesmo. Esqueceu-se de viver um pouquinho. E me encontra no micro e descobrimos (de novo, e de novo, e de novo e sempre) como nos gostamos. Me aquece o coração com sua vontade de simplesmente andar num barco no Rio Guaíba na minha companhia, caminhar e conversar, estar junto, apenas. Eu lhe digo que, quem sabe, quando estivermos ambos com uns 70 anos, ainda estejamos andando de mãos dadas por aí. Quer coisa melhor?
Bem pode ser que eu me sinta assim tão cheia de vida porque meu amigo-irmão-pai-tudo Fernando reapareceu. Tem o dom de me ignorar, mas diz que lê meu blog. Não basta, Fernandinho, tem que me escutar também (mesmo assim, me sinto em casa, satisfeita da vida, com todo o seu apoio, seus conselhos racionais e até com sua mania de fingir que tenta me seduzir. Um dos homens mais cavalheiros e gentis que já conheci na vida, um dos poucos homens românticos de verdade, mais em atos que em palavras, que já cruzaram por meu caminho).
Talvez minha amiga doida, A., tenha me lembrado do que já deixei para trás, quando um lance do destino faz com que, por meu intermédio e por puro "acaso" (claro que acaso não existe) acabamos descobrindo que seu ex estava recebendo aluguel há meses por um imóvel alugado, embolsando tudo quando deveria dividir com ela. Essa mulher tem uma força e uma coragem de viver que me fazem sentir vergonha dos meus problemas (que problemas, meu Deus?). Ela me faz lembrar que ainda sou capaz de ajudar alguém, ainda posso colocar um brilho nos olhos de alguém. E me recorda que sou livre para fazer o que quiser com minha vida, quando tantas mulheres ainda vivem acorrentadas às vontades de parceiros e ex-parceiros.
E aquela grande poeta (não vou usar a palavra "poetisa", eu a abomino) me escreve dando dicas de como comprar seu livro. Sinto-me honrada. Se eu tivesse metade de seu talento, já não estava mais aqui. Tudo na Márcia é agudo, acentuado, seu lirismo vai ao extremo, mas de um modo tão sutil e comovente que, em geral, nem sei como comentar seus posts em seu blog
Talvez eu tenha descansado um pouco de tanta tradução, desde domingo em ritmo mais tranqüilo. Três dias rebobinando meu cérebro e colocando o sono em dia podem ser a explicação.
Não. Acho que me sinto tão viva porque depois de escutar tanta notícia, enchi do Shepard Smith e da FoxNews, desliguei a TV e me inundei de música. Ah, tá certo que ouvir Grace Jones cantanto "I've Seen that Face Before" às nove da manhã me parece meio esquisito, mas antes eu estava ouvindo "Leaving on a Jet Plane"e tudo que a Jann Arden canta, batucando sobre a mesa com o Jamiroquai e reescutando um dos tantos e tantos CDs de MP3, porque já havia enjoado deles. Desenjoei.
Agora Grace Jones canta "Victor Should Have Been a Jazz Musician". Arrã. Eu acrescentaria: Steven, my dear, you too.
Mando uns escritos para meu amigo que ama um urso. Aí, quando me ponho a revisar o texto de ficção que escrevi tanto tempo atrás, a mesma magia volta a acontecer: cada vez que pego aquele texto, algo estala, clica e se acende em meu cérebro e, de repente, transcendo minha realidade ou a vejo com novos olhos e tudo se transforma. Volto a ser feliz.
Esquisito é que nada do que preenche meu espírito, minha alma e meu coração diz respeito a dinheiro. Nada do que me faz feliz depende de qualquer objeto material, roupa nova, corte de cabelo, celular de alta tecnologia, novidades eletrônicas ou viagens fantásticas (exceto ao mundo da minha imaginação).
Poucos dias atrás falei aqui no blog que eu parecia ter praticado bem demais meu joguinho de me esconder do mundo para fingir que era invisível, já que todos pareciam ter me esquecido.
Então todos ressurgem.
Tenho um anjo da guarda muito atento, sem problemas de audição e bem eficiente.
Sabe de uma coisa?
Preciso lembrar com mais freqüência de me pegar de volta, quando me jogo ali no cantinho, quando largo a Dayse cantora, a Dayse da libido a mil e das fantasias intensas, quando me ignoro e me esqueço que, afinal, sem música e sem seus amigos-anjos, a Dayse não vive, apenas sua casca sobrevive e fica minguando e fazendo de conta que ela existe.
I'm fine. Hope I can stay afloat with a little help from my friends. Always.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai, Dayse, vc também me emociona. Nem sei o que dizer.
Obrigada pelo carinho, querida.

Todos os beijos e mais um.

Anônimo disse...

Quem tem amigo(a)s (reais e virtuais) de verdade sabe bem o que você está dizendo. Não vivo também sem ele(a)s, mesmo que todo o restante esteja pleno. Eu que tenho um amigo como o William ,por exemplo, sei dar valor a uma amizade que já cobre 70% de toda a minha vida vivida até agora. Não sei nem se eu seria eu se não o tivesse conhecido.