Aqui estava eu, sábado à noite, com traduções urgentes (como sempre) e de ouvidos atentos aos preparativos para a chegada do furacão Katrina pela Fox News.
Resolvi conferir o que vira na TV – as webcams de New Orleans.
Por que é que fui fazer isso?
Quando alguém procura, acha.
Como qualquer pessoa normal, estava e continuo aflita, muito aflita por tudo o que vejo.
Entretanto, em meio a tudo isso, apenas uma cena está fixada em meu cérebro.
Uma da madrugada, horário do Brasil. Eu de olho na câmera instalada no alto de um prédio do qual se avistava o “W Hotel”, outros prédios altos e o céu, muito céu. Eu cuidava o céu, vigiando as nuvens, quando as imagens se embaralharam. Lá fora tudo ainda aparecia, mas estava turvo, com interferências.
De repente, percebi: três pessoas, certamente funcionários daquela sala onde a câmera da web estava instalada, haviam se grudado uma à outra atrás da câmera e seus reflexos se mostravam no vidro da janela onde, supostamente, deveria haver só a vista lá de fora.
Durante mais de meia hora os três lá olhando a rua, eu olhando a tela do micro, a câmera olhando o furacão que vinha, eu olhando para os reflexos daqueles três que olhavam o que a câmera via.
Cheguei a sussurrar: “Saiam daí, até quando vão ficar vigiando?” (claro que em algum momento a câmera teria de sair do ar, e eu sabia disso).
Ficamos nós cinco – os três no reflexo, o olho da câmera e eu, olhando o furacão que chegava, mas achei que meu corpo pedia sono e fui dormir.
Domingo de manhã não havia mais nenhuma imagem. Nada de câmera.
Até agora me pergunto se eles desceram. Se ficaram porque o prédio era alto e agora não conseguem sair porque um ou dois pisos estão cheios de água. Quem se importa com a câmera?
Preocupo-me com eles, que tiravam fotos (e os flashes de suas máquinas pipocavam no vidro da janela aumentando a perturbação na imagem que se via na tela do computador) e esperaram.
Tudo isso é muito surreal. E entre tanta catástrofe, fico aqui pensando em três reflexos que me fizeram companhia na noite de sábado.
Espero que estejam bem.
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