5.4.11

19 + 34

Dezenove anos atrás, meu irmão, querido, honesto e honrado, partiu deste mundo, aos 34 anos.
Ele deixou de ver muita coisa - na época, mal os CDs tinham surgido. O telefone era seu vício (sorriso, aqui, ao lembrar), e era preciso puxá-lo, praticamente arrancar o aparelho das suas mãos, porque quando voltava de suas viagens, meu irmão caminhoneiro ("internacional", frisava ele, já que conhecia o gelo da Patagônia, além do calor horroroso das terras secas do nordeste do Brasil) grudava-se em seus amigos, por telefone ou pessoalmente.
Ele era chegado na família, mas conheceu apenas dois dos oito sobrinhos que teria hoje, incluindo minha filha, por quem seria louco - seus temperamentos são tão parecidos que às vezes me espanto.
Ele não teve Internet, nem twitter, nem TV a cabo, nem DVD, nem pay-per-view, nem homebanking, nem celular, ipod e tanta coisa que eu já vivi para ver - mas sua vida era brutalmente real, com sofrimentos, perdas, encontros e desencontros, todos acontecendo em tempo e realidade reais.
Seu sorriso era precioso, e sua risada mais ainda (uma risada pequena, gostosa e inesquecível).
Éramos parecidos - fisicamente, e nos medos, nas solidões e anseios, na espiritualidade.
Meu irmão não teve tempo de apegar-se a alguém e casar. Não teve filhos. 
Deixou em minha mãe uma marca feita de lágrimas corrosivas, ardendo para sempre em sua alma. Minha mãe levou alguns bons anos para voltar a sorrir.
Perdi meu irmão quando começávamos a realmente apreciar os adultos em que havíamos nos transformado, e hoje eu precisaria dele mais do que nunca antes (apesar de ainda ter outro irmão amado). 
Infelizmente, meu querido Edinho não está aqui para servir de apoio, mas felizmente não passou pela dor de perder nossa mãe.
Ela está com ele, agora. Os dois, juntinhos (e ela sempre dizia que seria a próxima a morar juntinho dele, quando íamos ao cemitério).



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