12.12.05

Diário de uma Mulher Comum VII

É fácil supersimplificar tudo, dizendo "isso é menopausa". Não é -- nem cronológica, nem geneticamente estou nela.
Meu coração começa a descansar (os pés já descansaram e cansaram novamente, mas agora por bons motivos). Donde se supõe que meu problema todo era o mesmo de sempre (mas por que eu nunca o reconheço?)
Meu problema todo era o afastamento das pessoas. Estou me curando.
Tudo começa com Iuri, que com seus anéis de prata fabulosos vem me ver pela primeira vez, sendo minha primeira visita oficial. Pensando nele, recordo os Secos & Molhados, na letra que dizia "Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto!". Sua mente é tão clara, suas idéias tão lógicas e coordenadas, que passo uns dois dias pensando como grandes Homens vêm em vários matizes -- às vezes, eles são até multicoloridos, como ele. Iuri tem um arco-íris no coração e veludo nas palavras que derrama com tanta sabedoria.
Deslumbro-me com este meu novo amigo, que ao ler aqui sobre minha depressão, me liga e convida pra coisas inocentes e doces -- uma volta na rua, uma ida ao brique.
Felizmente (ou infelizmente, por adiar vê-lo novamente), meu L.H. chega do Paraná e mais uma vez também me faz sentir que EXISTO.
Por aquelas coisas que não se explicam, de repente eu o descubro leve -- e descubro-me assim também, sem aquela tensão chata que roubava um pouco da alegria que eu sentia em suas últimas visitas. Vimo-nos como vinte anos atrás, rindo com malícia, brincando (eu não lhe conto que mais uma vez nos confundiram com marido e mulher no barzinho, quando o cara comenta que "seu marido foi ali ao lado e já volta" -- isso sempre aconteceu conosco. Deve ser porque aparentamos enorme intimidade, sem que estejamos a nos abraçar e beijar em público, como os casais já há muito acostumados um com o outro. Não é nem o caso de sermos casal, nem o caso de não sermos. Eu nunca soube o que somos, na verdade).
O fato é que ele me devolve toneladas de auto-estima (A cada ano que passa, estás melhor, me diz ele, lindo, leve e solto como não o percebia há tempos). O fato é que suas idéias são sempre as minhas, e chegamos a rir quando ele emite uma opinião, eu digo que penso o contrário e, depois de um piscar de olhos de confusão, ele exclama: De, eu quis dizer o contrário, eu é que troquei as bolas!, e então mais uma vez concordamos, o que não nos impede de manter conversas muito estimulantes.
Sendo ele mais jovem que eu, ainda assim age de um jeito adoravelmente protetor (como sinto falta de proteção, meu Deus...). E antes de ir embora, me pede: Na próxima vez em que eu vier, poderíamos andar de barco pelo Guaíba? Eu me comovo. Claro que sim, Luís Henrique. Nunca me pedes nada, acho que reservo todo aquele barco que faz os passeios turísticos só pra ti, pra que possas dar tuas risadas altas, me abraçar daquele jeito, colocando o corpo e a alma inteiros no abraço, para que possas ser tu, comigo, sem barreiras, como te senti hoje.
Por um momento, quase lhe digo besteiras. Por instantes, percebo que andei fazendo muita, muita, muita bobagem no passado (e ele também), quando nada precisaria ter sido assim. Mas se todos passaram e ele continua, decerto não deveríamos ter mudado nada em nossa história, mesmo. Continuamos amando um ao outro sem a mínima intenção de mudar isso com um upgrade ou um downgrade. Deixe-se como está. Assim é que se entrega um coração (não pedindo, não exigindo, não prometendo nada -- só vivendo).
Vinte anos atrás, descobri (tardiamente) que eu o amava. Continuo amando meu Guri, mas jamais será algo convencional. É alma-para-alma (muitíssimo mais do que corpo-a-corpo). Se bem que um pouquinho mais de corpo não nos faria mal nenhum.

Voltando ao trilho do assunto (tenho o triste hábito de descarrilar), é fácil supersimplificar as coisas, atribundo a TPM, menopausa, falta de sono ou outro desastre natural qualquer uma depressão de derrubar.
Mas no meu caso, sei a causa e conheço a cura. E ela veio. A cura é esse algo indefinível, essa energia, essa aura que vem de pessoas amadas para mim. Só pessoas me curam, mais que remédio, mais que conselhos, mais que qualquer outra coisa.

E se alguém me perguntar: "Ué, mas só tens amigos homens???!", responderei que não -- tenho amigas mulheres, mas como preciso sempre um braço forte quando estou carente e confusa (metáfora, baby, metáfora!, o braço pode ser até fraquinho), geralmente meus amigos homens me amparam porque estão um pouquinho mais disponíveis e mulheres, às vezes, não conseguem me entender (em geral os homens entendem bem melhor). Eu não sei chorar na frente de uma mulher. Fico constrangidíssima, e apenas uma vez em que não pude evitar recebi um abraço inesquecível de uma amiga-anja. Mas em geral, mulher não abraça outra, quando a outra chora. Homem sim. E sinto uma sinceridade de doer, nesses abraços.

(agora me veio uma dúvida crudelíssima -- estarei sendo preconceituosa com minhas amigas? Ou demasiadamente exploradora com meus amigos?

O fato é que não gosto de chorar na frente de ninguém *mesmo*. Se for pra chorar, que seja sozinha. Mas se for pra ser vista chorando, que seja por alguém que me abrace.

3 comentários:

Anônimo disse...

As vezes um abraço não precisa ser dado pessoalmente. Até por telefone um abraço faz bem. Uma palavra amiga em um e-mail tem o mesmo peso. Você fez uma bela descrição de momentos impares na nossa vida. Amigos serão sempre amigos. "A amizade é da alma e a alma é eterna..."
Curta bastante esse momentos. Eles valem cada palavra, cada gesto, cada lágrima de alegria.

Um amigo.

Anônimo disse...

O último parágrafo é uma pérola. Pode crer. Mais uma... Sou assim também.
Beijos, querida!
Min

Anônimo disse...

Eu fui lendo e fui ficando com ciúmes... Mas do meio em diante vc foi falando de coisas tão singelas, tão tocantes, que nos fazem sentir a paz que estou sentindo neste momento. Que bom que vc se curou, fico feliz por vc, de verdade.
Sabe, nunca tinha pensado nisso, mas é verdade: se for pra chorar que seja com um amigo homem que vai te abraçar com aquele abraço protetor que só um homem tem... Nunca tinha pensado que tb não gosto de chorar na frente de mulher... rs
Divina a última frase.
É muito bom vir aqui. Sabe, tem mil sentimentos dentro de mim, a maioria bons, estou muito bem, até d+... Mas estão todos sentimentos, quero falar deles mas não é a hora... Não tô achando as palavras. Aí lembro de vc, que nunca as perde ;)
Bjo grande.