8.12.05

P. S. para o post aí de baixo

O preço de a gente levar (tentar, ao menos) a vida light é que passamos por cima de coisas que, depois, passam por cima de nós.
Eu sofro de amnésia seletiva.
As piores coisas de minha vida, eu apago. De tal modo que esqueço, simplesmente, que aconteceram (não é força de expressão, não, eu esqueço mesmo).
Esqueci-me como havia sido o final de um dos dois grandes amores que tive na vida. Ao ler num desses diários, exclamei, de boca aberta: "Mas isso aconteceu? Jura que foi assim? Jura que eu o encontrei ainda uma vez e só então tudo terminou?" -- porque eu havia eliminado completamente o capítulo dolorosíssimo do fim daquela história de amor que me consumiu durante três anos. Só espantei-me com o que li no diário, mas a verdade é que não consegui recordar nadinha além daquilo que estava escrito. Aquele trauma ainda está bem escondido no meu inconsciente, de modo que provavelmente nunca mais recuperarei diálogos, a discussão brutal (se é que houve, porque não tenho certeza).
Num dado momento, eu disse: "Vou esquecê-lo". E esqueci. De tudo.
Só que também me esqueci que quando a gente enterra mal as coisas, elas ficam fedendo e enfeiando o nosso jardim, ainda que tentemos enchê-lo de flores cheirosas.
Por que será que fiquei imune ao amor?
Hein??
Hein???
Hein????!
Valha-me Deus. Queria, bem agora, uma superinjeção de paixão. Já nem digo "amor". Isso eu sinto pelos amigos. Mas paixão, paixão, assim, aquela coisa que faz doer o coração.
Para não nos matarmos, precisamos, às vezes, matar recordações. Mas depois, como cadáveres podres saindo das tumbas, elas tentam nos pegar.
Tem um limpador cerebral aí? Um "Easy-Off Bang" pra eliminar as memórias?
Queria acordar amanhã tabula rasa. Zerada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Dayse,
Há muito não passo por aqui. Que bom que vc continua escrevendo. Também tenho essa defesa do esquecimento, quase uma esquizofrênia. No meu caso, não é uma coisa para se orgulhar.
Beijos,
Mauricio

Anônimo disse...

LInda, que post mórbido! Suas imagens com a coisa da putrefação, apesar de perfeitas, são tenebrosas! Menas, pls!
Mas tábula rasa não dá... Que o diga Paulo Freire.
Bjos!