27.4.11

ABRACE ALGUÉM HOJE

Não me preocupa muito estar sem dinheiro,
não comer o que desejo,
a falta de viagens,
passeios,
de um bom livro,
o tempo ruim,
insônia.
O que me seca,
me entristece,
me isola em mim mesma
me tira o brilho,
me desmotiva,
o que careço,
com toda a sinceridade
e profundamente,
são abraços de afeto
(e a gente pode pedir dinheiro, pedir comida, pedir livros e se refugiar do frio ou calor, mas não pode sair à rua pedindo abraços, por mais que isso seja vital)

26.4.11

Não sabem falar, não abram a boca

Coisas que me irritam muito:

Vendedores que dizem "softer" (para "software")

Vendedores que dizem "home títcher" (ou é professor doméstico ou é home theater, palhaço, mas o que eu vi na minha frente não parecia um professor, e sim um sistema de som, pura e simplesmente)

O pior é ter de rolar os olhos disfarçadamente, para não ter de corrigi-lo (já fiz isso uma vez, numa loja em que anunciavam pelo sistema de som da loja a venda de "nóte" books, onde ficaram extremamente magoados comigo e continuaram anunciando nóte books, acredito que com mais vontade ainda)

A pior experiência não é corrigir ignorante, mas corrigir burros. Ignorante aprende; burros, não, e ainda acham que *a gente* é que é o asno. E em segundo lugar vem a experiência de passar por arrogante, quando se tenta corrigir.

Três segredos e velhos hábitos

1. Eu escrevo diário desde que tinha 12 anos. Queimei a maioria, em um dia de fúria com as viradas da vida. É esquisito constatar nosso amadurecimento e envelhecimento com diários. E é muito estranho ver o passado vivo em diários antigos.

2. Meu passatempo preferido para pegar no sono ainda é inventar histórias. Levo uns quatro anos para concluir filmes mentais inventados, histórias completas, e em meio à elaboração das características físicas de um ou outro personagem, ou detalhando uma cena verbalmente em minha cabeça, geralmente durmo - de modo que nenhuma ideia se fixa mais que dez minutos e, na noite seguinte, tenho de optar se trabalho novamente a cena ou se vou adiante na história.

3. Escrevo melhor do que falo, de modo que quando preciso organizar minhas ideias, finjo que estou escrevendo. Ao falar, eu gaguejo um pouco, sou atrapalhada, as ideias se atropelam. Ao escrever, não. As frases se colocam direitinho, "de primeira", na tela ou no papel, sem gagueira (!) ou atropelo, sem precisar de rascunho. Se eu pudesse optar, não falaria nunca mais - só escreveria e reservaria a voz só para cantar.

24.4.11

20.4.11

Cola em teste (fofocas do mundo tradutório)

Eu reviso testes para a contratação de tradutores por uma agência. De dez, um consegue ser aprovado, em média.
Tá certo que a agência não é daquelas que pagam uma fortuna para profissionais com anos de estrada nas costas, mas considerando que pretendem admitir recém-formados, um aprovado em cada dez pretendentes a tradutor deveria ser assustador.
Só não me assusta mais porque tenho décadas de estrada e me decepciono quase todos os dias com os resultados do "trabalho" de tradutores - alguns até com bom nome na praça - e já vi praticamente tudo.
O que eu ainda não tinha visto era cola em teste de tradução.
Dois tradutores, uma mulher e um homem, com testes de versão e de tradução exatamente iguais, com os mesmos erros e as mesmas vírgulas nos lugares errados. Invalido os dois e reservo dois minutos para ficar de boca aberta, pensando como alguém pode ser tão idiota assim. Colando em teste, o que fariam na hora de um trabalho bem técnico? Mandariam pro tradutor do Google? Aposto que sim.
Tenho nojo de gente metida a esperta.
Por outro lado, é graças a esses que os tradutores de verdade se valorizam a cada dia.

(se eu fosse contar todas as histórias que conheço... Infelizmente, a ética me impede.)

Dois homens bravos. Dois homens atraentes. 
Dois profissionais de primeira.
Dois mortos na Líbia.
Duas grandes perdas.
Duas grandes ausências.
Duplo lamento.
Chris Hondros, já indicado para o Prêmio Pulitzer, trabalhava para a Getty Images e Tim Hetherington, indicado ao Oscar com Restrepo, era fotógrafo da Vanity Fair. Ambos morreram na Líbia hoje, durante ataque em que mais dois profissionais ficaram gravemente feridos. Grande pena, o tipo da coisa que me emociona.



Foto de Chris Hondros

Foto de Tim Hetherington

5.4.11

Minha mãe foi pro Japão

Nos primeiros dias após a perda de minha mãe, inventei a fantasia autoprotetora de que minha mãe havia ido morar no Japão, bem longe, no interior, sem Internet...
Quando a dor ameaçava me estraçalhar, eu brincava, comentando: "Mas que droga, ela ter ido pro Japão assim, de repente..."
Minha mãe foi pro Japão.
E então vieram o terremoto e o tsunami, o vazamento nuclear...
Pobre da minha mãe.
Tive de tirá-la às pressas do Japão num avião de sonhos, improvisado, particular, só pra poder levá-la para a Rússia.
Acho que lá não haverá nenhum desastre natural e ela poderá viver em paz, embora tão distante de mim...

(aos desavisados: isso não é um atentado contra a memória de minha mãe. É o tipo de humor que ela apreciaria, como quando fomos uma vez ao cemitério e, em um dos corredores, vimos uma lápide toda preta, de vidro, brilhante, sem qualquer inscrição e, ao um comentário meu de que só faltava mesmo o controle remoto, porque já haviam providenciado a TV de plasma, ela caiu na risada e foi ampliando a brincadeira - e lá fomos nós, descendo as rampas do cemitério desde o sexto andar, rolando de rir, com vergonha do ataque absurdo de apreciação pela vida num lugar tão esquisito)

19 + 34

Dezenove anos atrás, meu irmão, querido, honesto e honrado, partiu deste mundo, aos 34 anos.
Ele deixou de ver muita coisa - na época, mal os CDs tinham surgido. O telefone era seu vício (sorriso, aqui, ao lembrar), e era preciso puxá-lo, praticamente arrancar o aparelho das suas mãos, porque quando voltava de suas viagens, meu irmão caminhoneiro ("internacional", frisava ele, já que conhecia o gelo da Patagônia, além do calor horroroso das terras secas do nordeste do Brasil) grudava-se em seus amigos, por telefone ou pessoalmente.
Ele era chegado na família, mas conheceu apenas dois dos oito sobrinhos que teria hoje, incluindo minha filha, por quem seria louco - seus temperamentos são tão parecidos que às vezes me espanto.
Ele não teve Internet, nem twitter, nem TV a cabo, nem DVD, nem pay-per-view, nem homebanking, nem celular, ipod e tanta coisa que eu já vivi para ver - mas sua vida era brutalmente real, com sofrimentos, perdas, encontros e desencontros, todos acontecendo em tempo e realidade reais.
Seu sorriso era precioso, e sua risada mais ainda (uma risada pequena, gostosa e inesquecível).
Éramos parecidos - fisicamente, e nos medos, nas solidões e anseios, na espiritualidade.
Meu irmão não teve tempo de apegar-se a alguém e casar. Não teve filhos. 
Deixou em minha mãe uma marca feita de lágrimas corrosivas, ardendo para sempre em sua alma. Minha mãe levou alguns bons anos para voltar a sorrir.
Perdi meu irmão quando começávamos a realmente apreciar os adultos em que havíamos nos transformado, e hoje eu precisaria dele mais do que nunca antes (apesar de ainda ter outro irmão amado). 
Infelizmente, meu querido Edinho não está aqui para servir de apoio, mas felizmente não passou pela dor de perder nossa mãe.
Ela está com ele, agora. Os dois, juntinhos (e ela sempre dizia que seria a próxima a morar juntinho dele, quando íamos ao cemitério).



2.4.11

O Homem do Terno Preto

Para mim, existem poucas coisas mais gostosas que ler histórias do Stephen King antes de dormir. Aliás, qualquer livro bom é uma delícia - e este é um prazer que eu havia abandonado, tantos anos indo dormir só quando já caía de sono.
Como a filha de Deus aqui anda selecionando mais os clientes e, portanto, trabalhando menos e ganhando mais, agora sobra um tempinho para esses prazeres.
Eu estava lendo "O Idiota", do Dostoievski, depois que terminei "Cell", do Stephen King. É um livro pra divertir, depois outro mais sério. Só que O Idiota, inegavelmente interessante, me irrita pela tradução antiga e"ultrapassada" com sua linguagem demodê. Sei lá, acho que uma tradução deveria ser atemporal, não com palavras localizadas numa época, e numa tradução que nem sei de onde veio (tá, sei o nome do tradutor, e encontrei no blog da Denise Bottman (http://naogostodeplagio.blogspot.com uma menção de que a tradução é da década de 40... logo, explicam-se as expressões de linguagem beeem chatinhas e a estranheza da tradução)... Então, deixei um pouco de lado o Príncipe Mítchkin e sua traduçãozinha chatinha (não entendo russo - se entendesse, lia no original) e ontem dormi ao som do audiobook do "The Man in the Black Suit", do meu amadíssimo Stephen King, que me salva do tédio da vida.
Audiobook é o "contar historinhas para dormir" versão adulta.
Ah, delícia, botar a cabeça no travesseiro, ligar o notebook (ainda não tenho um Kindle) e dormir sob aquela voz soturna de velhinho dizendo que, em 1914, quando era um garoto....
Pena que o prazer não durou muito. Sou excelente "dormideira". bastam dez minutos na cama e eu me vou pro mundo dos sonhos.
O lado bom é que o audiobook vai durar muito (assim como os livros, que só leio na hora de dormir e, por isso, demoooooro pra acabar - e sou daquelas que livro só é livro se tiver mais de 500 páginas, hehe).
Eu recomendo.