19.4.10

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo.” (Salmo 23.4)

21.3.10

As Rosas Não Falam

"devias vir, para ver os meus olhos tristonhos e, quem sabe, sonhavas meus sonhos, por fim" (Cartola)

Segunda-feira passada fiz aniversário e recebi um buquê de rosas vermelhas de alguém que nunca vi e sobre quem não sei nada.

Sei seu nome, e só.

Ele me admira por ouvir falar de mim, por ver uma foto minha. Fantasia.

Foi tocante receber essas rosas. E eu não costumo me emocionar com presentes que não demonstrem algum sacrifício ou um ato generoso da alma.

As rosas foram os dois.

As rosas não falam/simplesmente as rosas exalam/a bondade que existe em ti.

OBRIGADA.

Satisfação...

... é ouvir minha filha de 14 anos dizer: "Mãe, como tu és querida."

Dentre alguns elogios e tantos eu te amo, eu jamais havia ouvido minha filha dizer que eu sou "querida".

Não sei por que fiquei tão satisfeita.

Talvez porque em geral eu escute que sou:

mandona. preocupada. ocupada. consciente. ajuizada. sensata. carinhosa. correta.

Mas querida?

oooooooooooooohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...

Adorei.

7.3.10

Reviranças

Esse blog tinha (quando ainda se chamava Sísifo's Place) um montããããão de visitantes. Não chegava a ser um sucesso na Internet (mesmo porque não é sobre Big Brother, sobre novelas, sobre pseudocelebridades, nem sobre iPad ou outra moda qualquer). Não chegava a ser uma coisa estrondosa (pra isso, eu precisaria falar em monossílabos aqui, precisaria escrever textos incoerentes e com gírias, palavrões e pornografia). Não era assim uma Brastemp, apenas uma modesta maquininha de lavar minhas ideias.
Mas o blog tinha uma contagem de milhares de visitantes.
Não tem mais.
Não quero contar números.
Nem saber quem vem aqui.
A não ser que seja por seus comentários sobre minhas ideias/textos/posts.
Melhor tirar da mente qualquer pretensão de ser sucesso.
Números não revelam qualidade, só quantidade.
Meu blog não conta visitantes. Não os rastreia. Não os investiga.

Sintam-se à vontade.
Nossa, eu tava com uma saudade do meu blog! :-)

VOLTEI

Eu tinha uma síndrome de Alice no País das Maravilhas.
Um complexo de Pollyanna.
Alice morreu.
Pollyanna cresceu.
Há uma mulher em mim.
Só isso.

SÓ?!

Ser MULHER é mais que a palavra.

SOU.

Sem Alice, sem Pollyanna e sem Príncipe Encantado.

Mas não sozinha,

29.3.09

Às vezes,
tudo o que se precisa
é que o outro saiba
que tudo que se precisa
é que o outro caiba
naquilo que se precisa.

Às vezes,

tudo o que se quer
é que o outro queira
o que a gente quer
que ele queira
o que a gente der
e queira se dar
se puder.

22.3.09

Damn you, copycat! (The chronophage)

Em 2005 eu criei um post chamado time-eater e, hoje, procurando por ele no google (que me levou até o Sisifo's Curse, que eliminei, mas ainda consta no cache), encontrei uma coisa que me deixou de boca aberta.
Inspirei meu post da época em um conto do Stephen King, em que um monstro de grandes dentes comia literalmente o tempo que ficava para trás (o Stephen King chamava "a coisa" de Langoliers, em Four Past Midnight, uma coletânea de quatro histórias fascinantes).
Agora (na verdade, no fim do ano passado), vêm o Stephen Hawkins e John C. Taylor com a novidade que mescla essas idéias.
Fascinante e assustador.
O site da BBC e outros chamam o chronophage de Time-Eater, a tradução literal do nome do bichinho. Um relógio que come o tempo e, pelo menos para mim, faz pensar no horror que é não aproveitá-lo direito.
Vou ter de pedir direitos autorais :-)

9.3.09


Tu me encontrarás nas palavras, na penumbra que te descrevi, nos poemas que não te escrevi (tudo já estava lá - os desejos, a vontade, a ânsia do inesperado - até que chegaste).
Tu me verás (ponto de interrogação), aparentemente me aceitarás, nunca entenderás.
Eu sou aquela que puxa fios de marionetes invisíveis e arma um teatro de ilusões e fantasmas para te agradar. Sou quem se despede curvando-se em mesura ante a tua beleza e, já na porta, ainda olha para trás - tu, miragem, continuas na minha frente (o tempo todo na mente) enquanto a porta se fecha.
Sou a mulher-menina, que cora ante a descompostura, pede desculpas sempre, rói as unhas e sente lágrimas nos olhos - mas puxa o vestido, incerta, dá um sorriso vacilante e se levanta, esconde-se e espera que tu a procures (se vieres, quando vieres, se quiseres, se te deres).
Sou a dos desencontrados desejos (por minúcias, às vezes), minutos contados de tua ânsia satisfeita - a minha, desatenta, se deixa levar por mais sonhos, pra te fazer suspirar.
Sou aquela que ajeitarás no meio dos teus pertences, misturada a tantos outros sussurros que não ouves. Tu fecharás a gaveta e me esquecerás, sem suspeitares que minhas letras sempre foram tuas (eu não sabia - sentia) e que me escorro líquida em teu corpo, minhas palavras expulsas no teu prazer.

19.1.09

Diário de Uma Mulher Comum - Capítulo XVI

Dez horas.
Acordo espontaneamente. Não é tarde, para quem só foi dormir às 6. Além do mais, havia faltado luz e o rádio-relógio pisca-pisca com um horário incerto e duvidoso. Não é aquela, a hora, mas já é hora de levantar, quando vejo que o celular tem hora precisa (e precisa?, quase não o uso).
Aliás, desde o momento em que desperto eu já começo a gastar.
Antes do café:
Ligar computador. Limpar a caixa dos gatos. Botar ração. Botar água. Dar comida pra tartaruga. Varrer em volta da caixa dos gatos (eu havia esquecido). Escovar os dentes. Lavar o rosto. Torcer pra chover. Botar água para esquentar.
Escrever email cobrando com todos os argumentos o cliente da Tailância que me deve há 65 dias. Não creio em más intenções. Que las hay, las hay, pero...
Tomar café enquanto vejo que o cliente JÁ respondeu (dez minutos!). Pretende pagar parcialmente.
Lavar louca de ontem.
Resolver se mesmo com dúvidas e dívidas eu compro aspirador de pó. Cansei de ver belos tapetes de chochê grossos de pêlos (não tem mais acento em pêlo, né?) de gato.
Tomar banho e ir ao shopping comprar ingresso pro show da Alanis dia 10 de fevereiro (antes disso, trocar de roupa três vezes - nada me satisfaz, mas na verdade eu não estou satisfeita é com o corpo que antes dos cinco quilos que ganhei de um ano pra cá, ficava lindo em qualquer roupa).
A-há! Peguei vocês.
Não é pra mim. Não vou ver Alanis. Não vou a show nenhum. É pra um colega de Brasília que me pediu o favor.
Comprar aspirador e ter uma idéia financeira ótima.
Passar no banco pra ver se a idéia financeira pode se concretizar.
Nope. Pra tirar empréstimo, preciso atualizar meu cadastro. Pra isso, preciso comprovação de renda. Se tenho trocentos clientes, mas pouca comprovação, azar o meu. Pode ser uma declaração de contador.
Em casa, ligo pra contadora.
Suspiro. Se eu fosse pedir recibo dos muitos para quem trabalho para pedir o empréstimo, também morreria pagando I.R. Então, sem I.R. e sem empréstimo.
Quando a solução é mais trabalhosa que o problema, fica-se com o problema.
Aspirar o tapete, agora pensando que foi bobagem não poder conviver com pêlos (sem acento?) de gato, já que estou duzentos reais mais pobre só pra ter tapete limpo.
Ver que o cliente da Tailândia não depositou minha grana (parcial) no Moneybookers coisíssima nenhuma.
Descer, comprar mais terra de gato, mais ração de gato, e esquecer de comprar o café, que precisava tanto quanto.
Pensar em ligar pra filha em férias com seu pai, mas desistir porque ela deve achar que sou um pé no saco, ligando de dois em dois dias. Ela? Não liga nunca.
Passar café com o que resta de pó. Preguiça de voltar à rua pra comprar mais.
Pensar em como pagar o resto do atraso do colégio da filha (felizmente, minha única dívida -- mas COMO incomoda!!!!).
Raciocinar que trabalho eu tenho. Só tenho que trabalhar mais ainda.
Ler email de um moço perguntando onde é que eu ando, e se nunca penso em amor.

Hein?

Ãh?

Amor é um troço assim meio colateral, que aconteceria se eu tivesse dois minutos para pensar nisso e ao menos uma hora por dia para dedicar a alguém. Amor é um negócio que pode -- ou não -- acontecer comigo, mas altamente improvável.

Enquanto isso, meu gato preto quase despenca de cima do roupeiro da filha (já sei: o aspirador servirá pra limpar a boneca Emília, sobre a qual ele acampa há 5 dias). Ele me vê, fica alucinado de paixão e quase se atira pro meu colo.

Miau. Te amo.

Puxa.

Ainda bem.

Melhor que nada.

10.1.09

Minha mãe ao telefone falando com meu irmão, enquanto eu escuto bem distraída. Diz ela:


- Ah, dona Maria está mal, é? E o que vão fazer?

Após uma pausa, ela diz:

- Mas por que tu não amarra bem apertado? De pé mesmo! Amarra bem, enfia num saco preto desses bem grandes e joga num canto, tu tem espaço, não vai atrapalhar ninguém!

Eu pergunto:

- Pra que fazer isso com a velha?

Ela cai na gargalhada. Como eu conheço bem os papos caóticos da nossa família, nem preciso perguntar nada, mas ela explica mesmo assim:

-- Ele diz que a dona Maria foi pro hospital e que está atrapalhado desmontando a árvore de Natal, que é grande demais e não sabe o que fazer com ela.

(pano rápido)

7.1.09


Eu tenho uns sonhos guardados em um baú.
Estão amarelando.
Tentei escrever diário -- em um caderno.
Doeu-me a mão.
Queria ter o cheiro do papel, o rolar da caneta, a tinta, minha letra.
O pensamento ficou confuso.
A mão, vagarosa.
A letra, trêmula.
A tinta, falha.
O papel, longo demais para pouco tempo e tanto a contar.
Como é que ponho um link na folha?
Como vou transmitir o sorriso sem um smiley?
Ah, cadê o copiar e colar?
Delete?
Puxa, vou ter de imprimir aquela foto pra colar ali. Com cola!
Oh, Deus, minha mão só tem uma fonte e é sempre em itálico!
"Bold" só tendo a coragem de escrever três vezes por cima da palavra.
Como é que minhas letras, todinhas iguais, sem recursos do teclado, conseguiam transmitir minha emoção, tempos atrás? Minha vida era feita de uploads maciços de sentimento, não de downloads de programas.
Os programas, eram os da TV. Que eu não via. Tinha muito a viver.
Audazes escritores de antigamente.
Mas também, não precisavam responder 50 e-mails por dia.
Nem deletar spams.
Nem tentar ignorar papo-furado no MSN.
(Nem pagar a banda larga e a conta de luz)
A vida anda acelerada demais para saudosismo.
Bom dia, notebook -- feito de componentes eletrônicos, não de polpa de árvore.

15.7.08

Da Série Abobrinhas Pobres

O sonho do bipolar:

"Vou economizar e comprar a Microsoft"

O pesadelo do bipolar:

"Pô, o Gates se aposentou, não posso mais tirar o cara da cadeira da Presidência"

9.7.08

Um nó a menos

Tem a ver com sentir-se sufocado por amores dependentes.
Tem a ver com a obrigação de querer bem a quem nos quer, embora nos mate a certeza de não podermos dar amor ilimitado a quem o suga de nós.
Tem a ver com amar quem é livre e, aí sim, ver a nós mesmos como dependentes, embora teimemos em não criar laços que nos escravizem.

Pronto.

Após quatro anos "mirabolando" toda a história para um segundo romance que está escrito apenas na minha mente, finalmente consegui desfazer o nó no qual trabalhava há mais ou menos um ano -- mesmo sendo apenas mental minha escrita, teimo em escrever histórias críveis, mesmo assim, e não descanso enquanto algo me soa falso e sem razão.

Esta noite, entretida no meu passatempo constante de trabalhar esse filme mental, esse romance puramente em meu cérebro, consegui desfazer um ponto da trama (no finalzinho do livro que ainda não escrevi) que me parecia sem solução.

Dei vivas.

Agora já posso digitá-lo -- se não esquecer todos os detalhes, já que pelo andar das coisas só terei tempo de me dedicar realmente a escrever um livro daqui a uns... muitos anos.

Graças a Deus.

Enquanto isso, Tobias, Luiza, Túlio & Cia serão meus novos amigos -- as pessoas completas que invento, como na "outra" vez, do "outro" livro que escrevi e que mesmo pronto parece não ter coragem de sair de minha casa.

Agora estou com um problema.

Que outra história inventar?

3.7.08

Pensei em colocar uma figurinha engraçadinha para esse post, mas decidi que o assunto é tão sério que não deve ter distração.

O Pronto-Socorro de Porto Alegre registrou uma queda de quase 40% no número de atendimentos a acidentados de trânsito, no segundo fim-de-semana da lei de tolerância zero ao álcool para motoristas.

Sabe o que é quase 40% de redução? Isso significa que, a cada 10 pessoas, quase 4 deixaram de se ferir ou morrer porque alguém pegou a direção após beber.

Posso ser idiota, mas acho que se uma só pessoa deixou de morrer por esse motivo, a lei de tolerância zero já valeu a pena.

Isso não significa que as pessoas vão parar de dar de cara em postes com seus carros, ou de cair de pontes, ou de atropelar gente em paradas de ônibus, ou de ir para casa de táxi porque beberam e esgüelar suas queridas companheiras ao chegar lá.

Significa, porém, que menos gente precisará chorar porque um inconseqüente acha que "não dá nada" encher a cara e dirigir.

Sei que tem gente que acha que sou azeda e que não sei o que é diversão, quando não entendo a graça de encharcar o cérebro com álcool e sair dando vexame, vomitando, se repetindo, falando bandalheira, fazendo impropriedades, enfim, sendo ridículo e patético. Eu não acho divertido perder o controle e ser alvo de pena dos outros. Mas se alguém perde o controle, que pelo menos tenha consciência *antes* de que é melhor poupar a si mesmo e a outros, pegando um táxi depois de beber.

Essa lei de tolerância zero ao álcool para motoristas, para mim, é um sonho tornado realidade.

Já que para muita (mas MUITA) gente diversão é sinônimo de álcool, então que peguem táxi. Se precisam tomar álcool para ficarem alegres, pelo menos não tragam lágrimas a outros, por causa do seu prazer.

Se querem beber, que dêem seus vexames e tirem fotos com aquelas caras de borrachos depois - a vergonha é sua, não minha. Porém, que não exponham outros à sua irresponsabilidade.

Fico mais aliviada ao pensar que as pessoas pensarão um pouco mais, nem que seja pelo temor da multa, da perda de pontos na carteira, da cadeia, do vexame. Há uma frase que diz que as pessoas sempre aprendem por um de dois caminhos: pelo amor ou pela dor. No que se refere ao álcool e direção, talvez aprendam pela dor de não poderem dirigir mais (mas que seja, será menos um louco ameaçando nossos filhos).

1.7.08

Quando cansados do trabalho, tiramos férias.
Para gordos, spa.
Quando desamados, divórcio.
Ao sentir sono, olhos fechados.
Quando chocados, desmaio.
Com grandes danos, coma.

Mas não existe folga para a vida.

O lado negro da morte é que não pode ser apenas experimentada (de fato, e nem me venham com experiências psicodélicas, ácidos e soluções alucinatórias).

Se a vida nos cansa, se é insuportável, se precisamos fugir por um bom tempo (de dívidas, de doenças, de amores, da fome, da dor, do horror), de nada adianta querer a morte se não temos certeza absoluta.

Ora, e se eu quiser voltar?

Precisamos inventar uma morte temporária, um ensaio de morte, algo assim como "Pré-Visualização", como quando escrevemos no blog e vemos como ficará. Faltaria apenas o botão de "Salvar" (ou NÃO SALVAR).

É preciso saber antes como ficará... Sem nós. Sem sentir nada (mas, poxa, como saberei, se não posso optar por voltar para contar?, nem me arrepender e voltar atrás?, nem lamentar minha escolha?).

A única folga para a vida é definitiva, e eu não queria desertar. Apenas, um dia, poder descansar bastante e voltar bem fresquinha (certamente...) e repousada.

Uma coisa é certa: não há folga para a vida. E isso, às vezes, não é nada justo.

29.6.08

E este aqui... (perdoem os homofóbicos)

Doce & Gabbana, "Time". Cliquem aí em cima.

Dolce & Gabbana

Um dos meus perfumes preferidos, num comercial para a versão masculina (a melhor parte é o "Oh dirty, dirty boy!!!") :-)

Amor Maior que a Dor (Precisamos Falar sobre o Kevin)

Às 3 horas da madrugada de hoje eu estava chorando, ao terminar de ler "Precisamos Falar sobre o Kevin", de Lionel Schriver (editora Intrínseca, tradução competente de Beth Vieira e Vera Ribeiro).
Comprei o livro com segundas intenções, para dá-lo à minha mãe e, depois tomá-lo emprestado para ler com calma.
O livro é uma série de cartas que Eva escreve ao marido ausente, Frank, de 8 de novembro de 2000 a 8 de abril de 2001, e nesse período de cinco meses ela disseca toda a sua vida desde o momento em que ela e Frank, então bem sucedidos profissionais, livres, ricos e inteligentes, debatem se deveriam ou não ter um filho.
O filho em questão, Kevin, acaba por assassinar, dois dias antes de completar 16 anos, nove pessoas na escola em que estudava, e em suas cartas a Frank, Eva tenta entender as razões (embora, francamente, ela já saiba desde a primeira linha da primeira carta).
Impressionantemente inteligente, Kevin é um enigma que fascina sua mãe e seus leitores, enquanto o pai o vê apenas por entre as nuvens cor-de-rosa do seu sonho americano do filho perfeito e saudável, jamais chegando a interessar-se por saber quem, realmente, pôs no mundo -- tarefa a que Eva se dedica incessantamente, desde a primeira rejeição do filho recém-nascido ao seu leite, no primeiro minuto do nascimento.
O livro tem surpresas que não pretendo estragar, e recomendo que todos os que pretendam ler o livro não leiam muitas resenhas sobre ele. O bom mesmo é ser pego de surpresa, como eu fui, sem expectativas, sem saber o que virá a seguir.
Confesso, porém, que a partir das primeiras páginas eu fui chegando a certas suposições (não é à toa que há 21 anos eu traduzo psicologia) e todas elas revelaram-se verdadeiras,no fim do livro. O que não tirou seu mérito e, ao contrário, fez brotar um choro do fundo da alma, nas últimas páginas.
"Precisamos Falar sobre o Kevin" não parece ficção, muito menos algo escrito por alguém tão jovem quanto Lionel (que é mulher, apesar do nome), que sequer tem filhos.
O original foi recusado por 30 editoras, antes de ser aceito para publicação -- e ganhou prêmio de livro do ano, na Grã-Bretanha.

5.6.08

Meu novo blog

Visitem meu novo blog (clicando em "Meu novo blog").
É um local onde exponho capas dos livros que já traduzi, falo um pouquinho de cada um e sobre outras coisas ligadas à minha vida como tradutora.
Em caso de dúvida, o link é
http://www.almadasletras.blogspot.com

30.5.08

"Nunca" é uma casa vazia
(o eco do que eu fui permanece)
"Sempre" é o teu olhar preso no cristal do colar
"Talvez" são os cabelos úmidos e o vestido de verão.

"Jamais" é o espaço do resto das nossas vidas.

13.5.08

Com quantas rugas no rosto
se conta um desgosto?

12.5.08

Diário de Uma Mulher Comum XV

Em um dia lindo de sol, perfeito para um Dia das Mães, sinto-me feliz.
Feliz porque minha filha está ali, criando curvinhas no corpo de mocinha que se descobre a cada dia. Feliz porque as birras do passado transformam-se em entendimento do mundo e em compreensão. Feliz porque em um Dia das Mães perfeito, ganho beijo, cartão artesanal precioso e belo, feito por uma menina que já nasceu artista, presentinho comprado por ela mesma com dinheiro de sua mesada, carinho aos montes.
Em um Dia das Mães perfeito, o pai da filha, com quem não vivo há anos, liga para me parabenizar -- e isso nos faz feliz (à minha florzinha e a mim), dando um sabor de plenitude e de tudo estar redondo.
Não digo que aquele Fantasma não me assombre ainda.
Sim -- aquele temor insidioso de uma tragédia sempre me assombra, e desde a morte do meu colega Paulo passei umas duas semanas no mais fundo esconderijo de minha alma, catando todos os monstrinhos que brincam de me aterrorizar com o pânico de, um dia, deixar minha filha desamparada -- que mãe não se pela de medo disso?
Não digo que eu não me condene por pensar demais. Não que eu rumine. Não. Não sou de ruminar coisas e criar besteiras sem fim em fantasias ansiosas-paranóicas. Sou pé-no-chão, bem realista até. Mas tenho o defeito de não saber pensar devagarzinho, só na superfície, de leve e em pedaços. Eu penso rápido, profundo, pesado e inteiro. E esses pensamentos são, às vezes, como tijolos, porque quem pensa assim não consegue fugir nem de si -- precisa sempre ver a verdade em tudo, inclusive em sua alminha fugidia.
Ainda me sinto velha em alguns dias -- na TPM, mostly -- e ainda me cobro por não sair pra caminhar ou correr no parque ou malhar ou pedalar ou dançar-qualquer-coisa-assim às sete da manhã faça chuva ou faça sol.
Ainda me sinto obcecada com a idéia de quem preciso de CÉU pra viver. De que preciso MUITO de flores, verde, água, chuva, raios, cão, gatos, qualquer coisa menos asfalto -- e de que um dia terei de recuperar essas coisas que abandonei porque preciso que minha filha tenha um bom colégio, e bom colégio na cidade envolve apartamento que não é cobertura, não tem sacada, não tem vista ampla, não é térreo, não é em andar alto (é apenas um apartamento que posso pagar e onde cabem minhas coisas com tranqüilidade).
Ultimamente, outra "obsessão" (que passará, eu sei), infiltrou-se nesses pensamentos profundos. A vontade de adotar uma criança. Ou de namorar alguém que já tenha filhos, para eu "adotá-los" como meus também. Uma ânsia que nunca será satisfeita de ter tido 12 filhos (como não sou louca, tive apenas o número de filhos que achei que podia sustentar -- uminha, uma única, e que é tudo o que desejei). Mas isso passará, porque não poderei sustentar mesmo, não arranjarei namorado com filhos mesmo (quem quase não sai de casa não arranja namorado...)...
Entretanto, por um dia inteiro, posso ser feliz.
Posso ser feliz junto à minha mãe saudável. Junto à minha filha surpreendente e incrível.
... Mas Dia das Mães não é pra isso mesmo? Para descobrirmos que tudo o que precisamos na vida está ali, na figura da filha e da mãe?

22.4.08

Diário de uma Mulher Comum XIV

Li, em algum lugar, que quando alguém morre, é o fim do mundo.
Não para quem fica. Não para os parentes enlutados. Não para os amigos que sentem a dor brutal da perda. Não para os clientes, os credores, os amores.
Todos os dias o mundo acaba.
Para quem morre, o mundo acaba-se.
De repente, não mais os amores, não mais as canções, não mais os clientes, não mais os risos, nem preocupações, emoções, esperanças, planos, problemas.
Com um grau maior ou menor de sofrimento, o mundo acaba para quem fecha os olhos pela última vez.
Talvez haja outro mundo -- não sei.
Sei que existem coisas que não se pode explicar.
O mundo acabou-se para o Paulo, tradutor gaúcho e colega, ante-ontem no fim da manhã.
Antes de ante-ontem, eu o vi quando o mundo quase terminava para ele e, desde então, o mundo para mim ficou meio trêmulo, meio oscilante, meio incerto e desconcertante. Choque. Emoção. Tristeza.
Embora o nosso mundo tenha se apagado para ele quando fechou os olhos para sempre, eu quero pensar em algo que lhe deu alegria e que talvez sirva para dar alegria a mim também, embora não possa compreender direito como funciona um outro mundo que às vezes se mostra nesse estado brumoso entre o sono e a vigília.

Alguns anos atrás -- não sei se três, quatro ou cinco --, liguei para o Paulo em uma certa manhã. Não sabia se deveria. Não queria que me considerasse uma delirante-louca-desequlibrada-ridícula. Mas liguei, porque o sonho que eu havia tido não pertencia a mim, mas sim a ele.
Perguntei-lhe, brevemente, se a sua mãe era viva. Ele respondeu que sim, muito surpreso. Eu ri, e lhe disse, então, que apenas lhe contaria meu sonho, mas que ficava aliviada ao saber que sua mãe estava viva e bem.
No sonho, a mãe do Paulo havia morrido, mas me pedia para dizer-lhe que estava bem, e que ele não devia preocupar-se com nada. Que ela não sofria e que, ao contrário, estava tranqüila e que ele precisava saber disso.
Alguns dias (não recordo quanto tempo) depois, o Paulo ligou-me, e eu já nem lembrava mais dos detalhes que lhe contara daquele sonho, mas ele recordava cada palavra. Ligava-me para me dizer que sua mãe havia falecido, mas que ao pensar naquele sonho que eu lhe havia transmitido, sentia-se muito melhor.

Sempre tive esses sonhos estranhos que não me pertencem. Somente duas vezes transmiti aos outros, porque achei que era meu dever (em geral ficam na família, e na maior parte das vezes, são certeiros e nunca bons). Na segunda vez que sonhei e achei que deveria transmitir à pessoa, felizmente o sonho era um absurdo bobo, que não tinha nada a ver com a sua realidade, e já não recordo o sonho direito. Com a mãe do Paulo, também pode ter sido uma coincidência incrível, sonhar com uma mensagem positiva de sua mãe falecida antes, para que, quando ela fosse embora, ele tivesse algum consolo.

Agora, não sonhei nada com o Paulo, não daria uma de profeta forçadamente, não diria que "já sabia".

Não sabia, não, e quando eu soube da sua doença, apenas 10 dias atrás, senti o mesmo choque que todos sentiram. Que só aumentou ao vê-lo no hospital, no sábado. E que se transformou em tristeza dolorida no domingo, em seu sepultamento (na mesma capela do mesmo cemitério onde meu pai foi velado e enterrado).

Queria ter a certeza que o mundo do Paulo não terminou. Não tenho -- logo eu, tão "espiritualizada", tão "isso", tão "aquilo", tão agarrada a qualquer chance de acreditar em algo.

O nosso continua, com a lembrança dele -- que teve o "azar" de falecer em um feriadão. Sei que no futuro isso não importará nada, mas teria sido reconfortante para a família se um grupo maior de nós, tradutores, estivéssemos lá para apoiar, demonstrar nosso carinho, levar flores, essas coisas. Mas o Paulo deu azar. Faleceu num feriadão.

Assim como outra pessoa de quem eu gostava e que faleceu no mesmo dia que o Paulo, mas à noite, de ataque cardíaco, dentro da casa onde eu morei por 6 anos e que era vizinha da minha mãe. Ô, mundo.

Paulo fechou os olhos -- mas de um modo muito peculiar, me deu umas duas ou três lições de humildade muito pessoais, além de bons bate-papos ao longo de uns sete anos. Poucos papos. Poucos encontros frente a frente. Mas vários momentos de gratidão, de gentileza, de risadas e de sensatez.

O fim do mundo chega para todos -- eu só espero que alguém diga, de nós, o que ouvi dos familiares dele. Que era um pai para todos. Que era um ser humano generosíssimo. Que pensava sempre primeiro nos outros.

Difícil esquecer alguém assim.

Sei que a morte não pode ser entendida além do fim físico. Eu, que já a vi tantas vezes, em encontros tão significativos, acho que ela serve apenas para ensinar os vivos a viverem melhor. E o Paulo me deixou uma ou duas lições sobre isso.

Dayse -- após um fim-de-semana "inesquecível" e ainda meio perdida nas reverberações emocionais.

2.4.08

Minha indignação é dolorida, meu coração é apertado e meus dias, preocupados.
Meu espanto não é novo, e meus berros são eternos (não de agora, não dessa vida, tenho certeza).
Pensando em
Mariana Almeida Andrade,
Isabella Nardoni
e tantas outras meninas, cujas mães perguntam-se, desesperadas, onde estão suas filhas e seus braços abraçam agora o vazio, peço que minhas amigas perguntem-se, sempre (como eu me pergunto, sempre que minha Letícia não está ao meu lado):

ONDE ESTÃO MEUS FILHOS?
COM QUEM ESTÃO MEUS FILHOS?

... Que minhas amigas e todas as mulheres e homens do mundo que amam seus filhos possam sempre responder a essa pergunta com tranqüilidade.





31.3.08

Adriano e a Parede

Adriano construiu sua muralha para proteger-se dos "bárbaros" da Escócia.
Adriano, o imperador romano, era um construtor de muros ;-)
Eu deveria me chamar...
Adriana?

29.3.08

Enquanto o nordeste é inundado, o Rio Grande do Sul enfrenta uma seca terrível.
É tanta, que os peixinhos estão morrendo desafogados...

23.3.08

Frase da Letícia, minha filha, 12 anos 5 meses:

"Mãe, sonhei com a continuação

de um sonho que nunca tinha tido".

8.3.08

Primeiro, constróis uma esfera
Então, a enches de esperanças
Por fora ela se mostra fria e bela.
Intransponível.
Depois, pensas onde erraste
Ao fixar tua espera
No mundinho sem ar
Da tua protegida cela