1.10.04

Sinais





Os sinais estavam claros, ali na minha frente. Tu, insuspeitado para meu coração até aquele momento, abriste muito os olhos ao me veres, quando entraste, e naquele instante estranhei teu nervosismo. Tremias, a voz chacoalhava e balbuciavas palavras confusas, como se de repente tivesses pisado em um buraco invisível e perdesses teu passo, a firmeza de tudo em ti. Na minha frente, um homem transformado em um adolescente inseguro. Como a única pessoa que ali estava além de nós dois, e a que mais te conhecia, não percebeu que só faltaste tropeçar, me fazendo rir baixinho, quando vieste me cumprimentar com um beijinho civilizado e inócuo?

(Talvez estivesses com frio. Talvez apenas surpreso ao me ver por não me esperares com os outros, talvez apenas surpreso porque cheguei primeiro. Não sei. Só depois percebi que não era nada disso).

Os sinais estavam ali, no telefonema inesperado. Uma chance de um encontro. Nunca a sós. Com os outros.

Mas eu não podia.

E os sinais vieram novamente, em palavras nem tão veladas, em outro convite.

E eu não pude novamente.

Agora, o que eram apenas pequenas espirais de fumaça vindo de ti transformam-se em um incêndio. Tem cheiro de fogueira. Calor de paixão. Vibração e sirenes de desejo gritante.

E ainda assim, eu, piromaníaca, fico de espectadora, a te ver queimando. Incerta sobre minha capacidade de aplacar tuas chamas e de com minha presença tão temerosa ver-te a te consumires sem que eu possa, ao menos, tentar te salvar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Maravilha. Que poder!

beijo

Iuri

Anônimo disse...

Foi exatamente assim que aconteceu Dayse. Não sei por que estava tão tenso.Não tropecei naquela noite,mas em várias outras.
beijos,
Humberto