Escrever ficção, para mim, exige um estado muitíssimo semelhante a estar apaixonada. Não é preciso o objeto da paixão, apenas o estado de frio no estômago, excitação, libido ativa, arrepio, a sensação de que tudo pode acontecer (o bom e o ruim, a felicidade e o martírio, a ascensão e a queda, a beira do abismo, o canto dos anjos, as chamas do inferno).
Escrever ficção é embriagar-me de vida. Dar aos personagens muito de mim e extrair deles o fôlego para que minha vida continue e, mais que isso, melhore, adquira um colorido adicional.
Curiosamente, eu tenho duas fases (como mania/depressão, loucura/sanidade, saciedade/tesão):
Quando sou tradutora, não escrevo. A arte apaga-se — de onde se depreende que ultimamente não tenho criado (realmente, no sentido de elaborar e extrapolar o banal). O blog é meu quotidiano, não real criação. Está ali, com o tédio, a mesmice, os pequenos encantos diários e os incômodos das saudades múltiplas de amores variados.
Quando o trabalho dá trégua, a paixão retorna. O estado de loucura, o estado de tesão, o estado de mania.
Agora sou tarada, maníaca e louca.
Estou escrevendo como se o mundo fosse acabar -- na ficção, no blog não (e grandes desastres se anunciam, porque só escrevo o que choca, mas às vezes também enfeitiça, porque espantar-se sem que haja fascinação de nada adianta) .
Gosto MUITO desta sensação.
Sinto-me viva. Viva. VIVA!
(P.S. – Lúcia Rebello, minha musa-leitora-número-um, meu tônico inspirador, onde é que tu estás? SAUDADE)
Um comentário:
Então somos dois, tomados por um frenessi insuportável. Escrever é minha cocaína sem bicabornato. Beijos de boa semana!
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