14.9.04

Cala-te, Mente!



Tenho inveja do silêncio mental de outros.

Minha mente não aprendeu a calar-se. Nunca se aquieta, jamais cede espaço à trilha vazia (que certamente deve haver, em algum lugar), está sempre abarrotada de idéias simultâneas, umas amontoando-se às outras, brigando entre si, empilhando-se e empurrando-se, querendo aparecer e me fazer abraçá-las.

Tenho muita inveja daqueles que mantêm um só pensamento em suas mentes ou até nenhum (como tanta gente que conheço). Queria esse vazio, às vezes, principalmente naquelas noites em que estive criando minhas fantasias de ficção e, ao ir para a cama, pareço ter uma lâmpada brilhante acesa bem no centro de minha testa, por dentro, mesmo quando fecho os olhos. A lâmpada não se apaga e traz sob sua claridade ainda mais idéias, ainda mais fiapos de criações, mesmo quando já me despedi da ficção e de qualquer coisa parecida com inventividade naquele dia.

Invejo, portanto, as vaquinhas plácidas, os cordeirinhos dóceis, os simplórios com suas vagas noções de nada, os coitados com seus fluxos desfiados de pensamentos incoerentes e frouxos.

Cansa, pensar dez idéias ao mesmo tempo, o tempo todo.

Cansa, ser "elétrica", como um amigo querido me considera.

(E só recentemente descobri que tagarelice e essa sensação de multidão cerebral também são considerados como hiperatividade. Não há eletricidade nisso, Paulo. Há, sim, uma Babel que às vezes ameaça desmoronar).

5 comentários:

Anônimo disse...

Me sinto assim às vezes. Isto me assusta.

beijos

Iuri

Anônimo disse...

E não é? Ontem mesmo ouvi isso sobre mim a noite toda - que elétrica, ela não pára, ela não cansa.
Só que eu canso, sim. Mas não paro nunca.
Também invejo a silenciosidade dos outros...

Anônimo disse...

Ah, sim. E o Anonymous sou eu, Ale Siedschlag.
Hahaha, eu não sei lidar com esse sistema de comentários!
Beijos de novo.

Anônimo disse...

Olá! Aqui é Hariel Noone. Tentei deixar um comentário com o meu nome mas só consegui postar anonimamente. espero que não se importe!

Amei o seu texto! Genial! Um ritmo fantástico e como me identifiquei contigo! Minha mente também não pára de criar um só instante e, apesar de parecer muito bom, às vezes cansa um pouco, não é verdade? Sei lá... Mas adorei vir aqui e, com certeza, farei do seu site um ponto de visita meu, não obrigatória mas por puro prazer.

Obrigada pela visita que fez ao meu Blog, espero que continue me visitando e, se quiser me escrever, meu e-mail é harielnoone@globo.com!

Abraços e muito sucesso para você, de coração! ^^

Hariel.

Anônimo disse...

Li ontem um trecho do novo livro do Joao Gilberto Noll que me lembrou este teu post. Neste trecho o personagem escritor faz a seguinte indagação a respeito da compulsão pela escrita : “ Por que ligamos uma palavra a outra e montamos frases suntuosas ou secas, sinuosas ou diretas, brutas ou subliminares. Se o que dissemos com tais frases tem ligação imediata com as coisas ou servem apenas ao descarrego para nossos neurônios impossíveis.” – assim mesmo, sem interrogação. Me lembrei dos teus “neurônios impossíveis”.

beijo

Iuri