3.9.04

Consolo

Incompetência, é o que sinto, quando me contas que teu amor te deixará e me pedes conselhos.

Amigo, minhas palavras não são aquelas que gostarias de ouvir.

Não sei dizer "coitadinho de ti", ou "mas que horrível alguém fazer isso contigo" ou ainda "ah, isso vai passar logo".

Não sei dizer palavras inúteis.

Então te digo o que talvez não queiras ouvir:

Chora. Chora muito. Chora até não poderes mais. Depois, chora mais um pouco. Sei que te sentirás um pobrezinho, um infeliz, um rejeitado. Sei que te parecerá que nunca mais serás feliz, que jamais outra mulher te despertará tudo o que ainda sentes. Isso, S., é normal.

Deixa as lágrimas rolarem, mas enquanto tua alma está ainda sangrando, tenta mais algumas coisinhas que te pouparão dores maiores:

Perdoa.

A ti mesmo, porque te sentirás culpado porque não pudeste reter o amor -- também é normal sentir-se assim.

A ela, porque ninguém consegue ser feliz eternamente, ninguém consegue marcar o tempo -- de preferência a eternidade -- durante o qual amará. Ela não tem culpa de não te amar mais, nem tu és culpado por continuar amando.

Perdoa, principalmente porque ela te disse agora, e não fará com que te sintas pior ainda com alguém que não te quer e, além disso, te despreza. Isso dói. Amor acabado e dor adiada não combinam. Só arrastam o sofrimento, só prolongam a sensação de que algo que já se partiu continua fragmentando-se em pedacinhos microscópicos, dia após dia, a cada tentativa de reconciliação mal-sucedida, a cada fracasso de ver nos olhos dela o mesmo brilho de antes -- que nem percebeste que havia sumido.

"Isso" passa -- a sensação de que o mundo acabará. Sempre passa.

A boa notícia é que sobreviverás.

A má notícia é que nunca esquecerás. Essas dores deixam sulcos que atravessam a pele, penetram os ossos e varam a alma, deixando-a vulnerável e marcada para sempre.

Quando termina, S., termina. Mas antes do ponto final, sempre há todo o sofrimento indizível de quem ama e se sente órfão, perdido no mundo, tolo, patético, uma vítima, um trapo. Não poderás te recuperar se não te sentires assim. Vai. Berra. Te atira no chão. Faz tragédia, se quiseres. Quem já amou e perdeu o amado entenderá.

Claro -- sempre poderás recorrer a mecanismos inúteis de compensação -- comer, fumar, dormir e colocar panos quentes, iludir-te que há chance, e talvez haja mesmo (que sei eu?) -- mas o melhor, na opinião de quem passou por isso e levou uns três anos para simplesmente perceber que ainda existia (depois desse tipo de dor sempre precisamos nos reconstruir), é que deves assumir teu sofrimento, de peito aberto. Sem baixar a cabeça. Sem tapar os olhos. Sem fechar os ouvidos para as palavras que não queres ouvir.

Deixa sangrar.

Depois, lembra que tens valor. Que nesse mundão pode haver uma, duas, talvez até três pessoas capazes de fazer teu coração ressuscitar -- isso parece horrível de ouvir neste momento, mas é verdade. Não digo que será igual ao amor de agora, nem melhor, nem pior. Apenas diferente.

Desculpa, S., isso é tudo o que tenho a te dizer, além de lembrar que tens uma amiga para aparar tuas lágrimas. Sempre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dayse,

quando dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, certamente não conhece a tua mais que perfeita capacidade de expressão através delas. Não necessitas nem de dez pra dizer com clareza, sutileza (sim, sutileza), um doce sentimento de amizade e apreço tudo aquilo o que eu precisava ouvir (ler) e entender que a vida tem seus percalços, seus obstáculos, seus sabores e dissabores. E cá estou eu, tentando (agora com mais convicção e força de amigas maravilhosas como vc) reconstruir-me da melhor forma. Ainda sofro, isto é inegável. Entretanto "isto" tudo passará. Não há como fugir disto. O que é pra ser, será, e está sendo.
Ainda olharei para trás e verei toda esta situação por um prisma diferente, sabendo que não importa a condição que se esteja, sempre os amigos de verdade aparecem e te dão apoio, de todas as formas possíveis, cada um com sua particularidade, mas nem por isto menos importante.
Tenho um carinho e um apreço especiais por ti simplesmente por ter me ouvido (lido) minha lamúrias, sentido comigo parte de meu desespero e ainda tido pureza d'alma para me presentear com tuas palavras amigas, sinceras e de apoio.
Esteja certa, hj a dor ainda me consome, mas consigo me controlar muito mais, mantendo o foco no que realmente me interessa agora (uma delas, claro, minha filha) e no trabalho que me sustenta e ainda me ajuda a manter a mente ocupada e produzir.
Te desejo tudo o de melhor que este mundo possa te dar, pois vc merece muito mesmo.
Beijos ultra carinhosos,
Sidney (S.)

Anônimo disse...

Pensei que o "S" fosse de "Sofia"...
(A arapuca serviu.)



Sofi