9.9.04

Incomprável

Com três anos e meio, alguns dias após nossa mudança, ela e eu solitárias, recomeçando tudo, Letícia perguntou-me:

– Mãe, me compra um amigo?

Na época, para ela, comprar-lhe amigos deveria parecer o extremo favor de uma mãe solícita que lhe oferecera meios de suprir carências (micrinho, joguinhos, livrinhos, bichinhos), mas se esquecera de lhe dar a lição mais importante de todas – certas coisas preciosas que não podem ser compradas: inteligência, amor, paz interior e amigos.

Hoje ela já sabe. Mas eu ainda me envergonho.


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