28.7.04

Amor Internético

Andávamos assim, medindo amores passados, medindo defeitos comparados, e nossos corações descompassados contra desejos já superados.

Andávamos assim, alternando frustrações, dias de sorrisos e grandes emoções, chuva e sol, sonhos, planos e intensas sensações

Andávamos querendo-nos acima de tudo, tanto que o amor era mudo -- não existiam mais expressões, inexistiam outros casais

Éramos os amantes primordiais, únicos, anormais em nossas intensidades carnais

Andávamos vendo estrelinhas, vendo a vida bela, vendo um futuro brilhante, escrevendo milhões de linhas, sentindo-nos agonizantes, pintando o futuro em nossa tela

Até que a realidade anunciou-se, performática, apontando sua feia cabeça, revirando meu dia-a-dia, despertando-me para o absurdo das paixões informáticas que aparecem em uma tela e nos conduzem à fantasia

Mil quilômetros vos separam - disse-me a razão.

Não vos posso teletransportar - comentou a tecnologia.

Trabalhar é preciso, demitir-se é sandice - falou-me a burocracia.

Corpos não passam por cabos telefônicos - lembrou-me a poesia

E vidas não se vivem em frustração e melancolia - alertou-me a psiquiatria

E assim, medrada a paixão, disse adeus à emoção e fui buscar meu poço preferido, onde enfiar minha cabeça de ser racional, evoluído, lido e por temores consumido e enxerguei o amor apenas como algo banal

Digno somente de mais uma criação, um poema, um conto, uma história, algo perdido em minha memória.

Tristes amores oníricos esquecidos em cérebros tímidos que embora líricos se mostram sempre insípidos... 

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Dayse! Eu também faço parte da lista de tradutores e também fiz um blog dias atrás http://italiabrasil.blogspot.com/.
Ainda estou meio tímida, para dizer a verdade, mas estou começando achar que é uma coisa muito interessante colocar as nossas idéias e as nossas criações on-line para todo mundo ver. E se ninguém nos visitar, não tem problema não, pelo menos temos um espaço só nosso onde podemos fazer tudo aquilo que quisermos.
Um grande abraço para você e boa sorte!
Assim que der, vou ler os seus textos.
Claudia Lopes