18.7.04

Respeito?

Sonho em dançar pra ti. Sonho em entrar em um sonho teu para que me vejas quando sou aquela que sou quando me esqueço de fazer de conta que sou aquela que não sou. Eu na meia-luz, Enigma como cúmplice, Principles of Lust rodando suspirante e ofegante, sem saberes o que é minha voz, o que é a canção, o que é minha mão, o que é tua própria sensação nos arrepios que te inquietam. Bem filme de quinta, bem filme brega, sonho em te provocar, tirar o sutiã meia-taça, deixar que bebas dele, te ver afrouxar gravata, sentir tua face quente, teus lábios abertos e teus dentes na minha carne. Teus olhos brilhando no escuro, transformado em minha massa de modelar, minha argila, minha matéria pura, meu papel amassado, meu homem esgotado. Sonho em te maltratar, te surpreender, te deixar me entrever como amante esquecendo-te da minha suposta inteligência que elogias. Não quero elogios. De ti, quero voz baixa me dizendo coisas que não se diz a uma intelectual, te quero sem tanta finura, sem tanta frescura como a que me dedicas ao me veres como igual. Não sou igual. Sou mulher – apesar de dizeres que já notaste, não sei não. Não deverias ser tão gentil, com esta que teoricamente é tua maior paixão... Sonho em te mostrar que, nem tão escondida assim, quase à flor da pele e deixando transparecer tal existência mesmo nas conversas mais sérias, aqui está uma private dancer que amaria esquecer-se dos livros, largar os óculos no chão, pisar neles com meus saltos agulha, talvez, te estrangular com a gravata enquanto te mordo a boca e te atropelar com meu desejo. Sonho em tirar minha capa de boazinha e meiga para que me vejas nua e malvada, como mereces e esqueces de pedir. E eu esqueço de oferecer, sempre tão disfarçados, nós dois, de bem-educados, delicados e estudados. Nunca mais me insultarias elogiando minha mente. Não quero ser inteligente. Quero ser macaquinha correndo de ti, animal, irracional e totalmente carnal (nada mais de romance ideal, idílico e teórico...). Quero a prática do amor. Quero te provar que minhas mãos não apenas digitam, mas também liberam pequenos terremotos, quando me esqueço de ser quem não sou. Que minha mente não apenas fantasia, mas apaga o dia, fecha as janelas do banal e pode te lançar em uma outra dimensãozinha temporária, deliciosamente terrível, da qual nem desejarás fugir e voltar pro teu mundinho real. Quanto a mim, ficaria feliz se ao menos um dia pudesse dançar para ti e descer aquém daquilo que sou quando me vês, cair do pedestal, me partir em mil pedacinhos carregados de paixão e nunca mais recuperar meus neurônios em frangalhos. Quando teu peito parasse de subir e descer, eu me banharia no teu suor, engoliria aquele teu último gemido, e diria adeus ao teu respeito por mim.

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