25.7.04

Mais uma lavagem de alma

Ele começa me contando sobre uma tatuagem escondida e termino lhe falando que também me sinto escondida em sua vida.

Nunca tive romances secretos -- ao contrário, tudo é tão escancarado em mim que enfrento mais ou menos uma guerra por dia com aqueles que entram pela porta aberta, vêem minhas histórias e se sentem atingidos por bombas que lancei e nem percebi.

Nunca mantive casos escondidos, nada sórdido nem duplo -- tudo sempre às claras, limpo como meus sentimentos que declaro mesmo quando não são tão puros.

Ele tem sido sempre o mais nobre dos amores sinceros. Ele, que ouve tudo de mim, reserva-se o direito de manter-me ao lado, paralela à sua vida, bloqueada para seu amigos e servindo como um grande ponto de interrogação àqueles que nos suspeitam íntimos.

... Como se intimidade houvesse sem contato corporal...

(Mesmo assim, sou mais íntima dele que de mim mesma, às vezes).

Ele, que num dia frio de um mês de dois mil quase me causou um ataque cardíaco (meu modelo de sucesso pessoal, ligando do outro lado das Américas, porque gostara das minhas histórias?). Ele, que me exigiu grandes esforços de concentração para parar de rir de alegria, sempre que ouvia sua voz... Este mesmo com quem tenho um trato ("Quero um dono, não sei não ser de ninguém" -- "Achou").

Talvez isso faça parte de seu mistério, de sua aura de charme, de sua neutralidade diplomática, daquilo insuspeitado quando lhe ouvem a voz sonora nos canais de tevê...

Diz ele que não me faz segredo. Que não tenho razão, quando lhe digo que me sinto como o pano de chão escondido atrás da porta.

E o testo, assim, aqui, porque nenhuma prova em contrário me convence de ser querida quando não me permitem que conte quem me quer tanto assim. E meus olhos ardem, nem sei por que, mesmo assim, apenas por ouvi-lo dizer que minhas conclusões o perturbam. Se o perturbo em algo, por que não me contentar com isso -- que já é mais do que causo a muita gente?

... Por que não sei não ser de ninguém, e quando a posse é negada, de nada vale o contrato verbal...

 

 



 



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