26.7.04

Despossessão

Abro a janela e deixo o sol entrar pelas vidraças fechadas. Meu escritório cheira a Bom-Ar Acqua Marine, a Fox News me chama com notícias sempre desanimadoras mas parece que hoje todos sorriem e eu rio de uma baleia que ficou maluca durante um show em uma piscina. Minha tartaruguinha parece compartilhar esse estado de ânimo mais leve que me capturou hoje, fazendo cambalhotas e saindo da hibernação. Eu também – não dou cambalhotas, mas pareço saída de um longo inverno.

O tempo nos engana hoje, fingindo-se de primavera e eu me engano, mais leve e com humores floridos hoje. Deixo as lágrimas de ontem secando ao sol, descongelo meus ossos, estendo os tapetes de meus devaneios na rua e me junto aos gatos livres sobre os muros (ainda que apenas em intenção).  

Hoje abro todas as portas e as prendo com sacos de areia para que O Bem possa entrar, assim como abro a porta do coração que andava batendo, instável e hesitante, maltratada por ventos incertos em suas dobradiças.O que quer que andasse habitando os cantinhos da minha alma e lhe tirando a luz parece ter saído a passeio e deixado o ar, o sol e a vida penetrarem hoje entre minhas células, através de minhas pupilas, nas comissuras do cérebro e nas frestas do coração.


Nenhum comentário: