21.7.04

Números

Quando eu estudava, odiava matemática. Sempre ali, em meio a tantas notas lindas em inglês, português e história, havia aquela vergonha a me torturar. Fracasso total, aberração da natureza, um cérebro tão bonzinho para tudo e retardado para números.

Agora, muitos e muitos anos depois, quando não preciso mais deles para sobreviver, números me encantam. Aprendi que números são música. Explicam tudo. São sonoros, verdadeiras poesias em fórmulas bem feitas.

Estão por toda parte – na cadência das gotas de chuva, na duração de uma melodia, na marcação de uma legenda de filme, na duração da minha vida, nos suspiros de um amante, em contrações rítmicas de um corpo feminino, na barriga da mãe horas antes do parto, nos ciclos da lua e no meu coração. Na medição do xarope da pequena, no termômetro que preocupa, nas páginas dos meus escritos (que a cada revisão encolhem), nos fios de cabelo branco, nos brotos novos da plantinha à minha frente.

Por que não nos ensinam que números têm poesia, na escola?

O que significam aquelas coisas estéreis, junto com “X”, “Y”, e nomes de gregos que não dizem nada a quem os estuda?

Será que não existem professores de matemática com algum lirismo?

Foi preciso que poetas, esotéricos e minhas numerosas dores me ensinassem aquilo que os mestres deixam de lado, quando os tratam como algo apartado do lado mais doce da existência. Ninguém explica, na escola, que nada pode existir, sem a beleza da matemática.

Algarismos, cômputos e balanços ainda são meu calcanhar de Aquiles, mas têm me ajuddo muito a compreender desde as rasteiras que levo de colegas sem escrúpulos até minhas crises hormonais. Hoje, sei que a vida se rege por números. O corpo obedece a eles. Hoje, sei que o universo canta por números – considero-os a própria linguagem de Deus.E os respeito como a uma prece.

Um comentário:

Anônimo disse...

Arrá!!! Tá até mudando a cor local, hein? Rsrsr...
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Uma pena mesmo que nos traumatizam com as guidelines de toda ação e reação. Só hoje também inicio-me no entendimento dos números como coisas "do bem".

Sofia
sofiagaarder.blog.uol.com.br
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