18.6.05
12.6.05
“Only love can break your heart
try to be sure right from the start
What if your world should fall apart?"
(Neil Young)
Existe maior bobagem do que tentar garantir, desde o começo, que o amor não nos partirá o coração?
Neil Young fez minha cabeça, e em algumas músicas (The Needle and the Damage Done, My My Hey Hey) ainda faz, mas hoje percebi a besteira que ele diz na letra de Only Love Can Break Your Heart.
O mundo da gente sempre desmorona, quando nos apaixonamos e alguém nos parte o coração. Isso é certo, inescapável. Não há certeza no amor (e como diria o Stevie Wonder, “All in Love is Fair”) e querer garantias é tolice.
Talvez não caiba a mim dizer isso, uma vez que provavelmente eu possa ser classificada, em uma escala de 0 a 10, como um 7 ou 8, em termos de ter medo de amar – e nem foram muitas as vezes em que tive de juntar os caquinhos do meu coração. Entretanto, sou daquelas pessoas que, embora com medo, arrasta um trem para viver paixões. Dane-se, se houver dor. Dane-se se durar pouco. Dane-se, se nunca é Mr. Right que aparece na minha frente. Não existe o “Amor Certo”, nem o amor ideal. Existem amores possíveis.
Acredito que devemos, sim, tentar garantir que não estamos fazendo a pior escolha possível, desde o início. Isso sim. Mas não devemos nos cercar de muros. Os muros tornam impossível a escalada de alguém até nossos sentimentos, até nossa alma.
Já fui impenetrável, mas aprendi que o mistério que existe em nossas almas nunca transparecerá totalmente, de modo que deixei de fazer charme e hoje revelo o que há para revelar – sempre serei um mistério, tanto para mim quanto para o outro –, sem medo de me expor.
“Apenas o amor pode partir teu coração” – mas experimenta não amar, para ver como o coração vira pedra, inquebrável e inflexível, dolorido mesmo pela rigidez que impuseste a ele por força dessa “musculação”, deste exercício idiota de controlar tuas emoções.
11.6.05

DIGA NÃO
... a pessoas indiscretas
... relaxadas com o próprio corpo, sujinhas e fedidinhas
... a quem acha que ter arma em casa é proteção
... a homens abusados
... a quem diz que não gosta de crianças
... a mulheres que disfarçam o que são, por usarem aliança
... a parasitas, seres que não constróem, só usam e consomem os recursos do planeta, da família, dos amigos e parceiros
... a presidentes de país ignorantes, machistas e metidos a bem-humorados
... a revistas de fofocas
... a analfabetos musicais e às rádios que os tocam
... a casas sem livros
... à falta do senso de cidadania
... ao hábito de achar que algo muda se não se faz nada
... àqueles que preferem não ir ao médico para não saberem que estão doentes
... àqueles que, estando doentes, não querem saber o que têm
... àqueles que sabendo o que têm, preferem não se tratar
... ao álcool em demasia
... à arrogância
Diga NÃO à idéia de passar pelo mundo e não fazer diferença.
Você PODE.
7.6.05
Oh, good, Mister Maslow,
agora que já satisfiz minhas necessidades de nível inferior – agora que estou alimentada, aquecida, segura, com meu trabalho muito satisfatório, com saúde e amigos que adoro, resta-me confirmar sua teoria.
Agora busco atender a uma necessidade superior.
E o que é?
A-M-O-R.
5.6.05
Uma Conversa
Ele chega atrasado e comento:
– Que bom que nunca vou casar contigo, Fernandinho, porque eu teria de me atrasar duas horas para ainda te esperar mais uma... estás sempre atrasado...
Zanzamos pelo shopping, cada um de nós recolhendo fios mentais de conversas inacabadas por e-mail ou telefone, muita coisa para ser retomada, pouco tempo para longas conversas significativas.
Pergunto como está seu coração.
Está vazio.
O meu também, eu digo.
Ele menciona um rol de interessadas virtuais que, quando vistas em carne e osso deixam a desejar.
Ele me responde, quando lhe pergunto por que:
– Uma mulher precisa ter a capacidade de pelo menos preencher uma hora de conversa interessante antes de ir para a cama e meia hora depois da cama.
Fico pensando...
– Além disso – ele continua –, não pode ser muito gorda nem muito magra. Deve fazer algo por sua vida...
Continuo pensando. Não lhe pergunto se eu preencheria os requisitos. Sei que sim.
Eu não preciso perguntar-lhe. E ele não comenta quando eu lhe conto que também tenho alguns “pretendentes” contados nos dedos, mas que uma vez que não transo (mais) com amigos e nem com amores do passado que querem jantar comigo e me jantar depois que casaram com outras (e quando supostamente eram apaixonados por mim), a situação fica difícil. Meu amigo e eu somos ocupados e não temos todo um mercado de corações livres de onde escolher um.
Ele não comenta, mas sabe que preencheria muitos dos meus requisitos.
Acontece que dos homens que mais admirei na vida, poucos (nenhum?) habitaram meu corpo – apenas minha mente e fantasia. Ele é um dos que ameaçaram entrar por uma porta que nunca se abriu completamente.
Meu amigo e eu chegamos a conclusões semelhantes. Que ele só conhece mulheres que querem se arranjar e que por isso nem começa nada com elas. E que eu não quero me arranjar com ninguém e por isso não começo nada com ninguém, porque não quero compromisso, mas também não quero aventuras.
Em nossas incongruências, meu amigo e eu nos encaixamos. Eu não lhe dou sexo, e ele não me dá romance. Negamo-nos graciosamente o que não seria espontâneo e aceitamos com elegância a honestidade de nossa tentativa de não nos enganarmos mutuamente. Ele nasceu para casar, mas detesta a idéia de que uma mulher o queira já com isso em mente. Eu não nasci para casar, mas detesto a idéia de que um homem não pense em mim como uma parceira em potencial. Sei que nunca serei parceira de ninguém, e aceito minha individualidade excessiva – com alguma dor pelo reconhecimento de minha insubordinação às emoções, mas aceito. Ele não aceita sua solidão, e vive à espera do que eu nunca procurei realmente – algo sólido, estável e tranqüilo.
Ele está atrasado para cumprir sua missão de bom filho, cuidando da mãe doente.
Eu estou com tempo para fazer umas comprinhas e depois rever amigos amados em um restaurante.
Eu o abraço apertado, lhe digo um muito obrigada de coração, e ele sabe por que, mas me diz que não preciso agradecer. Eu sei que não preciso. Ele é meu pai-irmão-conselheiro-amigo, talvez o único homem que sei que não me abandonará. Nunca. Nós não nos abandonaremos porque nunca prometemos nada um ao outro. E por isso mesmo estaremos disponíveis – essa é minha esperança, mais como um wishful thinking que uma certeza.
Naquele abraço eu agradeço por um favor que ele me fez e que naquele dia eu paguei, mas ele sabe que sou grata por muito mais.
Duas pessoas que não tinham por que sequer ter se conhecido. Duas pessoas que não se amariam se tentassem ter um romance. Mas duas pessoas que se amam mesmo assim, acima e além de tempo, espaço e circunstâncias.
Redescubro-me sempre, refletindo-me como um espelho no meu amigo.
Ele vai embora, com pressa.
Eu ando devagar, compro brincos, colar, pulseira, fumo um cigarro na frente do restaurante uruguaio olhando a noite linda e estrelada, morna em pleno junho no Rio Grande do Sul. Sorrio sozinha, ainda com o calor de um afeto real por este anjo em minha vida. Então, discretamente, coloco mais uma gotinha de perfume, piso sobre o cigarro e entro decidida no ambiente iluminado onde sei que verei mais rostos que acendem em mim o prazer de estar viva.
26.5.05
Long Train Running
Passo mais de uma década sem me lembrar que uma música existe e, de repente, ela se fixa em minha mente, teimando em me enviar sua mensagem.
Caminhando no centro de Porto Alegre. Anoitece. Frio, muito frio (AMO FRIO!!!!), andando pelas ruas que amo e que contam a história da minha vida, das minhas paixões e dos meus encontros e desencontros. A claridade amarela das lâmpadas de rua. A neblina. Meu perfume que me excita e o contato com a pele de dentro do casaco atiça os sentidos. A libido solitária ecoa, destoa...
E de repente, sem mais nem menos, meu cérebro vira uma caixa sonora em stéreo.
Without love where would you be now, la-ra-la-la...
Os Doobie Brothers seqüestram minha racionalidade. Invadem minha objetividade.
E respondo: I'd be here, right here, seeing the past while I walk and see the places where Love once walked by my side. Once upon a long time ago...
Interessantemente, não concordo com os Doobie Brothers que me jogaram esta música sem que eu tivesse opção. Teriam feito melhor grudando em meu consciente What a Fool Believes...
21.5.05
17.5.05
-- Cortaram tua luz?
(sugestão de resposta para a mulher pobre do meu bairro que passou por isso:)
-- Ao contrário, a companhia de energia elétrica está oportunizando uma modalidade muito econômica de iluminação para minha residência, que funciona apenas com sebo e pavio.
-- Quebrou o braço?
(sugestão de respostas que dei à minha filha, quando lhe perguntassem isso:)
-- Não, apenas arranhei , mas achei melhor proteger com gesso, sabe como é.
-- Claro que não, é que está chegando o inverno e com gesso não preciso ficar trocando de roupa para esquentar o braço.
-- Não mesmo, quem quebrou foi minha mãe, mas ela precisa trabalhar então resolvi engessar o meu pra poupá-la.
-- Quebrei sim, mas foi o braço direito e não sei como o gesso veio parar no braço esquerdo.
-- Tu ainda estás traduzindo?
(respostas minhas a quem me faz essas perguntas:)
-- Claro! E tu, ainda estás advogando (gerenciando empresas? construindo pontes?)
-- Não, agora testo teclados de computador 15 horas por dia, e para ter algo que digitar pego uns textinhos de inglês técnico e passo pro português.
-- Claro que não, aposentei-me e meus clientes de free-lancer me pagam uma pensãozinha todos os meses, espontaneamente.
Da Série Abobrinhas Podres
a reclamar.
Os últimos serão os primeiros...
a dar com a cara na porta fechada.
12.5.05
Sinto-me como se sexta, sendo quinta
E como se sexta com festa,
batucando no teclado, neurônios agitados,
barulheira infernal no cérebro
– à volta o silêncio.
Sou sexta, num grupo de cinco,
percorrendo becos de significados,
embriagando-me de sentidos
(de palavras, nuanças, expressões)
...como se sexta, não de festa do corpo,
mas da mente,
tradutória orgia como se amanhã,
um falso sábado,
eu despertasse cansada
e de ressaca de letras.
11.5.05
Centro da cidade.
Meio da tarde.
Passo. Ele me olha. Cinqüentão, olhos azuis, cabelos que já devem ter sido loiros, grandalhão (por que mulheres pequenas atraem grandalhões? Não respondam – tenho teorias safadas sobre isso). Eu o olho (acho que o planeta inteiro sabe que gosto de homens claros). Desvio o olhar (para que ir em frente?). Olho de novo (será que ainda está olhando?). Está, fixamente. Entro no bar. Vou pagar um café. Ele na rua, indeciso. Pela última vez baixo meu olhar. Some-se o homem. Sinto-me aliviada. Mais uma vez deixei de me dar mal.
“Tu és o meu tipo”, diz o azul dos olhos dele.
“Será? Poderias ser o meu, mas uma década atrás, quando eu ainda não sabia que olhares são poços sem fundo”
“Quem sabe, então?...”
“Não sei não...Já não sou suicida...”
“Talvez...”
“Não, definitivamente não. Tenho mais olhares para analisar no mundo, não preciso me atirar no teu.”
Quanta coisa se diz sem palavras em trinta segundos!
10.5.05
Whatever gets you through the night...
Acordo pensando neste pedaço de uma música (acho que do John Lennon).
Por que desperto ainda mais irritável que ontem, quando pensei que seria impossível estar ainda mais irritável, inquieta, nervosa e pê da vida que ontem?
Preciso descobrir respostas, porque nada parece errado.
Ontem:
Aparentemente, o muso desmanchou seu romance antigo e isso me entristeceu, porque sua noiva e ele são pessoas que eu via como metade um do outro (ainda tenho essas visões românticas de certos casais).
A., está de namorado novo, feliz da vida, e fiquei feliz por ela – mas ao mesmo tempo eu penso: como é que ela tem paciência para ter namorado? Eu há muito tempo não tenho. Ou ela encontra namorados ótimos e minha fonte secou? Ou sou uma egoísta que não divide sua vida com ninguém? – Não, só não suporto dividir rotina. Deus me livre.
Meu amigão tenta fazer com que eu finalmente receba o bendito cheque dos EUA, e faz das tripas coração para isso, antes de se mandar pros EUA para a formatura da filha e em meio a tantos outros problemas que tem.
O B. voltou a ligar, no Dia das Mães. Depois de mais de 6 meses. Já nem sei se ainda sou “fascinante” e “sexy” para ele, mas isso não importa (algum dia importou?).
Vejo que engordei um quilo e meio e agora estou com 55 quilos, para 1,64m. Alegríssima, apesar de talvez ter de comprar tudo um número maior, já que minhas calças justas agora não estão mais entrando. Cinqüenta e cinco quilos, meu recorde. Três a mais que meu peso “normal”. Tudo graças às balas de goma que devoro com o objetivo expresso de engordar, mesmo (aí, Alessandra, meu problema é o inverso do teu).
Recebo convite para administrar uma lista de tradutores que vejo como minha segunda casa. Delicioso, lembrarem de mim.
Caso a Licitante adjudicada desejar ter as características das fibras ópticas , tipo de instalação dos cabos , tipo de conector no DIO , distância entre sites do mesmo anel , e outras informações relevantes , tipo de fibra bem como atenuação em 1310 nm e 1550 nm , poderão ser solicitadas a YYY ...
Alguém aí tem uma vacina contra a arrogância? Um remédio que alivie essa mania de perfeição (o que não quer dizer que eu seja perfeita, apenas que tento ser)? Uma panacéia contra a infelicidade ao constatar que sou humana?
6.5.05

Um dia descobrirão que esse aí nunca foi um homem real. Eu ia dizer "de verdade", mas não sei se sendo real ele seria um homem de verdade. Tudo indica que seria, mas eu tenho essa teoria de que esse homem aí não pode ser real. É uma conspiração hollywoodiana para tornar as mulheres felizes, amansá-las durante a TPM (ou deixá-las furiosas quando olham para o lado, na cama, e vêem algo totalmente diferente). Esse homem aí é invenção. Ou é um marciano. Claro. Deve ser. De onde já se viu um terráqueo ter esses traços?
Perfeição, teu nome é Brad (se não olhar pros pezinhos dele...).
4.5.05
29.4.05

SEASONS OF LOVE (da peça “Rent”)
525,600 minutes, 525,000 moments so dear. 525,600 minutes - how do you measure,
measure a year? In daylights, in sunsets, in midnights, in cups of coffee. In
inches, in miles, in laughter, in strife. In 525,600 minutes - how do you
measure a year in the life?
How about love? How about love? How about love? Measure in love. Seasons of
love.
525,600 minutes! 525,000 journeys to plan. 525,600 minutes - how can you measure
the life of a woman or man?
In truths that she learned, or in times that he cried. In bridges he burned, or
the way that she died.
---------------------------
525.600 minutos, 525.000 momentos preciosos. 525.600 minutos – como se mede um ano?
Em dias, pores-do-sol, meias-noites, xícaras de café. Em polegadas, milhas, risadas, brigas.
Em 525.600 minutos – como se mede um ano de uma vida?
E quanto ao amor? E quanto ao amor? Mede-se em amor. Estações do amor.
525.600 minutos! 525.000 jornadas a planejar. 525.600 minutos – como se mede a vida de um homem ou mulher?
Por verdades que aprendeu, ou pelas vezes que chorou. Pelas etapas que superou, ou pelo modo como morreu.
25.4.05
24.4.05

Bem no meio da sessão de cinema, ela dará uma bela gargalhada, quando ninguém entendeu o motivo.
Ela se irritará quando, em uma festa, alguém disser que contratou um “personal training” e todos ficarem boquiabertos com a sofisticação do metido a bacana.
Ela baterá o pé com impaciência quando alguém começar a transmitir as últimas notícias que viu em um site brasileiro (ela já sabe antes o que aconteceu, e leu a notícia completa).
Ela se negará a te ouvir cantar em inglês num cara-o-quêêê???!
Ela enlouquecerá se tu, bancário, publicitário, web designer ou algo assim lhe disser que “andou fazendo uma tradução”...
Ela não te dará nem um minuto à tarde e nem parará para ouvir teus berros indignados com tamanha falta de consideração. Um minuto todo mundo tem livre – menos ela.
Ela te atenderá ao telefone, mas começará a perguntar “e daí”, “e então”, e ordenará “resume!” se o assunto não tiver importância capital para o destino mundial, enquanto com o rabo do olho mira a tela do computador como se este fosse explodir no segundo seguinte.
Ela não terá o celular mais caro do Brasil só porque vem tudo em inglês com recursos que outros não sabem usar. Ela sabe, mas também sabe que não são necessários.
Ela será um livro aberto sobre fatos, cultura inútil, estatísticas esquecidas por todos, mas se negará a entregar essas informações preciosas se não for por justa causa.
Ela ganhará por seu tempo, sem ser operária nem outra coisa menos meritória e, por vezes, se recusará a ceder esse tempo precioso a ti, ó mortal desencanado e cuca fresca que só quer um dedo de prosa.
Seu ego precisa ser levado em caminhão de mudança, mas quando sem trabalho, pode ser transportado em uma caixa de fósforos.
Ela não é médica, mas está sempre de plantão.
Ela tem amigos por todos os lados do mundo, mas não consegue viajar nem até a cidade vizinha.
Ela te torcerá o nariz, se fores colega e mandares um bilhetinho com erros de concordância ou ortografia. Talvez nem fale contigo para o resto da vida, mortalmente decepcionada.
Em um dia, tu combinarás um programa e ela concordará, entusiasmada, apenas para uma hora depois cancelar tudinho, sem remarcar o compromisso.
Ela nem chega perto de quem não gosta de ler.
Ela nem tem tempo para amar.
Ou tu a amas ou tu a deixas. Com ela não há opção.
Por vocação e escolha, sendo o que é, precisará do teu perdão e da tua bênção, da tua compreensão e da tua gratidão, a cada segundo de seu dia nesse uniforme de super-heroína que, às vezes, salva o mundo e, em geral, teme cometer um deslize e afundar como um Titanic, levando meio mundo consigo.
Ela é tradutora.
23.4.05
Across The Universe (Fiona Apple) -- Bilhete a H.
“Nothing is gonna change my world”.
E nada mudou.
Continuas solitário.
Eu por querer.
Tu, não sei.
Mas a voz de veludo também calls me on and on, mas across teu apartamento, para o quarto.
E o universo do teu apartamento ainda está guardado nesses três minutos e pouco da canção dos Beatles que ela arrasta como se com preguiça, bela, sensual e lasciva.
Meus ouvidos abertos ainda se excitam e a recordação da tua voz ainda cruza meus sentidos. Fiona traz o cheiro do frio, do temporal, do teu apartamento limpo, das minhas roupas pesadas, da tua pele nua.
Guardei um instante do meu passado em “Across the Universe”, mas em nenhum lugarzinho do universo eu consigo achar novamente o encantamento que me fez sair de mim contigo. A música se repete, mas não a magia (e me dá uma tristeza, isso...)
Não consigo decidir se eu fiz a magia, se foi a música ou se tu condensaste em três minutos um desejo alto, verbal, do gozo berrado teu, fazendo algo que não te é costumeiro -- mas todo mundo tem direito a ser mago, por um minuto que seja.
Estás guardado com meu desejo na música da Fiona Apple.
Pena que a música se repita e seja sempre igualzinha, como igualzinha é a impossibilidade de mudarmos nossos mundos.
19.4.05
Uma mulher quase rica (nem tanto, mas é mais do que costumo receber), mas que não consegue receber seu cheque porque a **%&*% deste país me impede de receber meu cheque do exterior,
Pode ser chamada de uma mulher quase rica,
Ou é simplesmente uma otária, a palhaça deste dono de circo chamado Lula?
Que ódio, viu?
13.4.05
Os outros é que são loucos
First, you think they are one of a kind,
original, fabulously creative.
You may think they are geniuses.
Then, one day, you open your eyes,
See them with no disguise of youth and beauty
And then you say: "Hey, look, she's crazy"
... She's always been, my friend
And I ain't taking about me
(it's her style to fake originality.
Mine, is to fake sanity so well you won't find my insanity
even when I'm too old to be cute).
As pessoas não enlouquecem de repente.
Primeiro, achas que são incríveis,
originais, fabulosamente criativas.
Talvez aches que elas são gênios.
Então, um dia, abres os olhos,
Vês essas pessoas sem o disfarce da juventude e beleza
E então dizes: "Olha só, é louca."
... Ela sempre foi, querido
E não falo sobre mim
(é a cara dela fingir originalidade.
Meu estilo é fingir sanidade tão bem que não descobrirás minha loucura
mesmo quando eu for velha demais para parecer graciosa)
10.4.05
Hoje chamei um pastor de ignorante, na frente de pelo menos 20 testemunhas, sendo dessas quatro adultos e 16 crianças de
Ter comprado minha casa ao lado de uma igreja, a princípio, pareceu-me bom augúrio.
Agora só posso dizer que, *apesar* da igreja, ainda acredito muito em Deus.
Que melhor maneira de me colocar à prova que me colocando para residir ao lado de um hospício cujas sessões de liberação dos demônios primitivos infantis iniciam-se às 18 horas e vão até às 22.30?
Explico: nada tenho contra o culto.
Nada tenho contra os fiéis.
Nada tenho contra seus múltiplos ensaios do “grupo musical”, que duram geralmente três horas seguidas com ensaios de bateria, guitarra e voz desafinadas.
Nada tenho contra o *seu* Deus (que duvido que seja o meu).
Tenho tudo, tudinho, contra umas 30 crianças berrando enlouquecidas enquanto os adultos reúnem-se dentro da igreja para o culto.
Tenho tudo contra ter de suportar berros, gritos, passos a correr na brita, bem ao lado da janela onde eu (por carma, por burrice ou ingenuidade) construí meu escritório, onde tento traduzir materiais que invocam os deuses da Ciência, das Artes, da Literatura, o Deus – também este.
Tenho tudo contra viver há 6 anos neste inferno que eles chamam de religião e que eu chamo de culto à ignorância.
Olhem, sou bem zen – menos quando perco o controle. Sou muitíssimo cristã (e não duvidem), menos quando vejo pela frente a soberba e arrogância de quem se julga O Próprio Deus Com Direito a Tudo.
Sou zen, e isso é fácil de comprovar -- ninguém mais neste planeta suportaria ensaios barulhentos, festas enlouquecedoras (as criaaaaaaaanças, lembrem-se das criaaaaaaanças, que a tudo têm direito, na visão do pastor), cultos cantantes e berrantes durante 2.190 dias, quase todos os dias. Juro, com a mão sobre a Bíblia. Sou zen como ninguém.
Perco o controle com essa gente mais ou menos (menos) uma vez por ano.
Este ano aconteceu hoje.
O pastor faz-se de surdo quando, às 22:30, eu lhe digo que cale aquelas crianças, porque a minha criança tem aula de manhã e precisa dormir. O pastor vira-me as costas, primeiro, quando lhe digo que minha paciência está acabando. Quando eu, do outro lado do muro, lhe digo então que pode ir-se, mas que levantarei a voz para que possa me ouvir mesmo assim, ele finalmente volta-se e se coloca à minha frente (do outro lado do muro, no terreno de seu Deus, protegido por seus fiéis, enquanto eu, pobre pecadora que trabalha aos domingos, pobre infeliz que não compareço aos seus cultos, coitada de mim que fumo, ignóbil euzinha que ouço Chico Buarque durante seus ensaios cantando “Cálice” (e não foi de propósito, só depois me dei conta...)... enquanto eu estou ali, sozinha, mas nem por isso menos armada.
Apelo para seu bom-senso. Rogo para que antecipe o horário de seus cultos em meia hora e que avise às crianças que após as 22 horas não podem gritar (por mim, nem suspirar, mas não lhe digo isso). Suplico que discipline as crianças. Pergunto-lhe, depois que vejo todos os meus argumentos respondidos apenas com uma frase ("Isso aqui é uma igreja, precisamos fazer nossos cultos e a senhora é que precisa encontrar um jeito de aceitar as conseqüências") o que há de religioso em 30 crianças berrando e correndo em torno da igreja às dez e meia da noite. Ele enfim admite que isto não deveria acontecer. E estraga tudo dizendo que eu odeio ver gente feliz. Que as crianças berram de felicidade, e que eu não suporto ver alegria. Que berro de criança às 22:30 não é indisciplina, não é desrespeito aos vizinhos (afinal, quem mais está se queixando, se não euzinha sozinha e louquinha?). Berro, grito, correria de criança junto à janela do quarto de dormir, fazendo um efeito "stéreo" na cozinha e no escritório, reverberando até o banheiro, enfiando-se no outro quarto e trovejando pela sala? Ah, minha senhora, o que há de mal nisso? Nada, se fosse uma criança (não lhe digo que eu daria uma bela palmada na bunda da mal-educada pra ensiná-la a respeitar o direito de silêncio dos outros). Sendo 30 crianças (fim-de-semana passado eram 70...), é um pouquinho mais do que eu consigo suportar. Só um pouquinho mais do que um leve incômodo, sabe?
Encerro tudo. Daí para a frente não há mais nada que eu possa dizer que possa penetrar naquela imitação de cérebro.
Guardo minha arma (minha loquacidade, ora!) no bolso que não tenho em minha camisola, cruzo os braços, olho-o bem nos olhos e lhe digo:
– O senhor é um ignorante, pastor. Passar bem, acabou a negociação.
Ele agradece (sua tentativa de ironia no agradecimento não funcionou). Simultaneamente, voltamo-nos e cada um entra – ele para seu templo da ignorância, eu para minha casa onde minha filha agora perdeu o sono.
De vez em quando, uma vez por ano mais ou menos (menos), eu dou uma de louca.
Hoje foi minha vez.
Mas me fez tãããããoooo bem!
P.S. - Sou boa gente, juro que sou. Mas sou mulher, sozinha, e não sou Batista de religião, só de sobrenome. Tenho de defender a mim mesma, porque Deus está do lado deles (nas palavras do próprio pastor. Se isso for verdade, então estou vivendo em um universo paralelo há 6 anos sem perceber).
9.4.05
O Marido da Vizinha (história real)
Eu já pedi o marido de uma vizinha emprestado.
Julguei-me no direito. Eu era mais antiga no prédio, tinha vantagens.
Eles mudaram-se, e em meu primeiro contato com ele, julguei-o um machista da pior espécie.
Quando precisei do marido da minha vizinha, achei que seu machismo vinha a calhar.
Ora, um homem que gosta de ser macho adora mostrar-se, nem que seja para a vizinha.
Assim, pedi o João (nome fictício) emprestado, e sem permissão da esposa dele.
Aproveitei-me dos hormônios do homem, de seu impulso para dominar, eu que em certas situações sou muito submissa.
Depois contei a ela, que nem se importou, mas juro que morri de medo que, ao descobrir, ela pudesse me detestar por achar que eu não tinha direito a pedir que seu marido fizesse aquilo por outra mulher.
Mas confesso: só ele me servia.
O prédio ainda estava vazio. Éramos só nós dois no edifício pequeno. Estava muito calor, eu havia acabado de sair do banho, sentia-me animada, mas sem ele eu não poderia aproveitar muito bem a noite de verão.
Suando, tremendo e com palpitações, bati em sua porta, em desespero:
– Vou te pedir uma coisa que normalmente eu não pediria a um homem que mal conheço.
Depois que expliquei a situação, ele piscou-me um olho safado, juntou seus instrumentos, e lá se foi para meu apartamento, para cumprir sua missão de macho.
A partir daí, o marido da vizinha tornou-se meu também, cumprindo direitinho com aquilo que uma mulher mais deseja, ao casar-se (sem a desvantagem, para mim, de ter de suportar seus defeitos).
Meu vizinho matou aquele baratão preto, voador e invasor que havia no meu apartamento como ninguém mais teria feito por mim naquela noite.
8.4.05
Mal-Educados (desabafo feminista)
Gozar é fácil (bastam 30 segundos). Forte também, e não é preciso um homem competente. Muito menos um homem que ache que *ele* é o responsável por isso.
Por que é que um homem julga que uma mulher quer segurar a mão de alguém só pra chegar na cama?
Por que é tão difícil dizer a um homem assim que ele precisa educar-se, que não é à toa que está sozinho?
E principalmente, por que é tão difícil fazê-lo entender que, embora acesa, não sou um fósforo para ser queimado e jogado fora? Não sou um número para ser riscado em sua contagem de transas? E que não dou a mínima para isso?
Outra coisa: só deito com quem *eu* escolho. Não vou para cama com ninguém por falta de opção ou porque fui "escolhida". Na verdade, *eu* sou quem escolhe, sempre.
Se for para um dos dois ter um objeto, não serei eu a "coisa" escolhida. Ao contrário...
Ontem ouvi (na novela!!!!) um homem dizendo a uma mulher: "Sou apaixonado por cérebros".
EU TAMBÉM.
Por pintos não. Esses só serão atraentes na medida em que o cérebro também for.
E CHEGA.
4.4.05
VIVA!
Escrever ficção, para mim, exige um estado muitíssimo semelhante a estar apaixonada. Não é preciso o objeto da paixão, apenas o estado de frio no estômago, excitação, libido ativa, arrepio, a sensação de que tudo pode acontecer (o bom e o ruim, a felicidade e o martírio, a ascensão e a queda, a beira do abismo, o canto dos anjos, as chamas do inferno).
Escrever ficção é embriagar-me de vida. Dar aos personagens muito de mim e extrair deles o fôlego para que minha vida continue e, mais que isso, melhore, adquira um colorido adicional.
Curiosamente, eu tenho duas fases (como mania/depressão, loucura/sanidade, saciedade/tesão):
Quando sou tradutora, não escrevo. A arte apaga-se — de onde se depreende que ultimamente não tenho criado (realmente, no sentido de elaborar e extrapolar o banal). O blog é meu quotidiano, não real criação. Está ali, com o tédio, a mesmice, os pequenos encantos diários e os incômodos das saudades múltiplas de amores variados.
Quando o trabalho dá trégua, a paixão retorna. O estado de loucura, o estado de tesão, o estado de mania.
Agora sou tarada, maníaca e louca.
Estou escrevendo como se o mundo fosse acabar -- na ficção, no blog não (e grandes desastres se anunciam, porque só escrevo o que choca, mas às vezes também enfeitiça, porque espantar-se sem que haja fascinação de nada adianta) .
Gosto MUITO desta sensação.
Sinto-me viva. Viva. VIVA!
(P.S. – Lúcia Rebello, minha musa-leitora-número-um, meu tônico inspirador, onde é que tu estás? SAUDADE)
3.4.05
Céus, bebê,
eu já defini o que desejo para minha vida. Não me vem tu, agora, com essa cara que faz com que os deuses te odeiem, tentar minha vontade de ser decente... Não me vem, piscina nos olhos, morango na boca, pêlos certos, voz que faz pensar no gemido, não me vem.
VEM.
Céus, bebê, não me deixa cair em tentação com tua idade de anjo, tanto ainda por aprender (em que posso te servir, o que posso te ensinar?). Não me deixa cair...
NÃO ME DEIXA.
Céus, bebê, vai pro inferno, deixa disso, pára de ferver meu sangue, pára de me fazer achar que enlouqueci, eu sem controle, eu atropelada, eu impulsionada por uma paixão atroz, desapegada dessas coisas de aparência obcecada agora por teus cabelos, pelo sorriso que promete.
PROMETE.
Que inferno, bebê, eu me dar inteira para ti que nem sabes que existo exceto por meu inglês e minha música...
VADE RETRO.
Se algum dia já me senti possuída é agora. E não por ti, infelizmente, mas pela fúria de fazer com que eu mesma entenda que
Bye, bebê.