26.8.04

Birds Do It (em homenagem ao Iuri)



Birds do it... let's fall in love

Cole Porter



Sozinha no meio do mato (eu, bicho menos sábio que aqueles à minha volta), hoje pela manhã, sentada num pedaço de tronco, em completo silêncio, observei os passarinhos, que mal percebiam minha presença -- ilusão minha, é claro. Pecebem tudo, mas também perceberam minha inveja e se puseram a exibir-se para mim.

Passarinhos azuis, aos pares, voavam de um para outro eucalipto. Cocotas (como se chama isso no centro do país, meu Deus?), aos bandos aqui onde moro, tagarelavam -- aos pares. Bem-te-vis vinham buscar minhocas no chão -- aos pares.

Parece que, nos últimos dias, uma onda de amor toma conta do mundo -- pelo menos, nos últimos dias é que comecei a perceber essa mania de andar em dupla -- homem-mulher, homem-homem, mulher-mulher, passarinho-passarinha, não importa.

Recebo notícias de que um amigo virtual recente enamorou-se por um urso e, incrivelmente, está feliz. Senti-me invejosa, feliz por ele, mas invejosa.

Uma certa K. anda entusiasmada, mudando até o tom de seus posts. Vibra novamente. Deve ser paixão.

Às quartas-feiras, a pequena audiência deste meu bloguinho cai drasticamente -- estão todos namorando, até meu fiel 201.3.147.#, que não conheço, mas nunca me falha...

Eu, embasbacada, mesmerizada, hipnotizada e atoleimada, olho para tudo isso boquiaberta, sentindo-me a legítima Emília em busca de seu Visconde de Sabugosa.

Vontade não me falta, de estar apaixonada e namorar. Não me sinto mal, mas também não me sinto bem, por não amar e não andar aconchegando ninguém ultimamente.

(Para falar a verdade, nasci com um defeito genético que me faz achar meio ridículas essas coisas de mãos dadas, beijinhos melequentos em público, os tatibitates de amantes, argh. Em compensação, a libido faz festa em mim, excetuando-se este pequeno detalhe).

Há muito tempo (tanto que perdi a conta) não sinto isso de palpitações, falta de ar, tremedeira, gagueira, pernas bambas e todos os acompanhamentos do amor. Não sei em que momento fechei esta porta. Abri várias, nos últimos tempos, de paixão, desejo, obsessão e tesão. Mas não de amor.

Tenham pena de mim, senhoras e senhores. Aqui jaz um coração deficiente. Embora perdidamente romântico, sonhador e teoricamente conquistável, encontra-se atualmente em estado de paralisia -- sabe o que é amor, lembra-se vagamente da sensação, mas o corpo não reage e nenhuma chave se liga fazendo a conexão entre o querer e o sentir.

E tarde da noite, pensando nos amantes apaixonados -- deve ser a primavera anunciando-se, esse banho de amor pelo ar --, vejo-me pedindo uma esmolinha pelo amor de Deus. Um amorzinho, faz favor. Um amorzinho, se não for pedir muito. Um pouquinho de emoção!, caramba... pra eu me sentir normal. Um amor pra eu me sentir alcançável, conquistável, abalável e mole, descontrolada e passível de vexames, inteiramente entregue e sem regras pré-programadas.

... Vou tentar encontrar a chave. Se não estiver enferrujada, tentarei usá-la para abrir a porta que fechei anos atrás.









2 comentários:

Anônimo disse...

Yes, fuckin' dear...
I'm in love again, but the person is the only one I have to trust in my whole life.
The person is me.
*
Let me help you. Follow the instructions:
1.Catch you key. 2.Open your heart. 3.Cherish it.
4.That's all right now.
You're open.

K.

Anônimo disse...

Dayse,

obrigado pelo belíssimo texto. Eu entendo perfeitamente o que rola no teu coração. E também entendo o que rola na tua cabeça... Fiquei emocionado e me identifiquei (de verdade). Obrigado novamente..

beijo

Iuri

let´s do it, let´s fall in love.... Cole Porter, simples e direto.