18.8.04

Sade/Masoch Light

Tens razão, quando meu olhar vai descendo, deslizando, escorregando por teu corpo, baixando, demorando-se, contando até tuas células no prazer de te mirar e teus quadris se projetam à frente na poltrona em que estás, e teu rosto se pinta de um rosado forte, e te deixas admirar.

Tens razão, quando dizes que sou maliciosa e covarde.

Ah, tens razão, quando encontro relevos entre as rugas dos teus jeans, quando adoro o desbotado do algodão azul sobre teus pêlos negros e sobre outros contornos que se revelam aos poucos, enquanto meu olhar não te devora – mas apenas passeia, sem pressa, por tua paisagem.

Desço aos joelhos, vou até as pernas e volto. Teus pés não me atraem – movem-se inquietos, por quê?, pergunto com maldade, ouvindo-te rugir de insatisfação. Eu rio.

Tens razão, quando me chamas de teaser. Não te quero para nada além de meu laboratório de experiências sensoriais – sensuais –, meu campo de provas para minha força-de-vontade, meu quadro vivo, o único horizonte que me interessa aquém dessas janelas às tuas costas.

Então levantas. Desapareces dentro da casa, irritado, e eu sorrio, fechando os olhos. Contento-me em te ver frustrado com minha indecisão eterna entre ter teu corpo ou teu espírito. Se aquele, não este. Nós dois sabemos que não coabitaríamos pacificamente como amantes e como parceiros de espantos de duas almas semelhantes. Enquanto não és meu, pelo menos posso iludir-me que um dia serás. Se fores, um dia terás sido, apenas. Prefiro então a incerteza do que ainda não ocorreu à certeza triste do que já acabou.Então tens razão – ainda sou tua viajante, aquela que te percorre tanto só com o olhar que já ganhou milhas de prêmio, com direito a um dia chegar ao outro lado do planeta, quando mudar de idéia e resolver parar neste teu campo de sonhos, elevado e morno, na posição central de tuas entrepernas – cânions – onde minha mão afundará.


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